ALDEIA DE JOANES – QUIM ALVES NOGUEIRA
“O coração do Quim parou de bater” – é a notícia que recebo, ampliada pelas lágrimas de um coração que agora bate por ti.
Foste levado para os Cuidados de Nefrologia em Castelo Branco, era um fim de tarde de um Novo Ano. Estavas no impasse hospitalar, aquele horrível tempo suspenso com a premonição do fim e a sensação do irremediável. O Sol despediu-se lentamente, sorrindo aos pequenos detalhes de um quotidiano, até deixar de ser visto.
Eras um parente, um amigo e um companheiro.
No teu percurso de vida, cedo começaste a trabalhar em carpintaria.
Na Cova da Beira, muitas moradias e prédios de habitação têm o teu selo profissional.
Naqueles tempos, não havia meios para contrariar os venenos das madeiras ou os produtos nocivos que respiravas. Os teus pulmões foram atingidos e foste obrigado a reformar-te por invalidez.
Nasceste em Aldeia de Joanes, no local mais histórico da tua pequena pátria: as casas com portais quinhentistas, a Fonte Romana, a varanda filipina da tua habitação.
No ponto mais cimeiro, no Cimo dos Olivais, tinhas a protecção de Nossa Senhora do Amparo, recolhida na sua capelinha.
Acompanhei de perto os teus trajectos, foste um exemplar companheiro, esposo, sogro e avô. Também foste um grande desportista, defendendo as cores da tua terra natal, equipado com as cores do Ajax. Ganhaste muitas vezes, perdeste algumas… Esta derrota prematura não a merecias.
Cumpriste com muita dignidade o serviço na Polícia Militar. Andaste por terras estrangeiras, procuraste melhores condições de vida e regressaste à tua aldeia.
Sentias e vivias a carpintaria com brio profissional, muitas vezes me dizias “olha para aquelas varandas, aquelas mobílias, está lá retratada a minha vida”.
Quando estiveste pela última vez na Igreja Matriz de Aldeia de Joanes, as ripas no tecto que tão bem acariciaste choraram a tua partida.
Ao teu lado estava o Menino num berçário de madeira como tantos que construíste. À frente o teu companheiro de profissão, o carpinteiro S. José, e do outro lado o Cristo pregado numa Cruz de madeira.
Sei que já não verei os jogos de futebol na tua casa, tu a torceres pelo teu Benfica, eu pelo Vitória de Setúbal. Tu mais comedido, eu mais eufórico nas vitórias e pesaroso nas derrotas.
Tinhas – como eu tenho – os afectos de uma esposa carinhosa, sempre atenta ao teu estado de saúde e de mesa posta ao mundo. Tantas vezes partilhámos a merenda na companhia de filhos, noras e netos…
Na saúde e na doença chorarei sempre por ti, amigo Quim Nogueira.
António Alves Fernandes
Aldeia de Joanes
Janeiro/2018