Esperança e solidariedade são duas tónicas chave de resposta às graves dificuldades que o nosso país atravessa, mergulhado como está numa profunda crise
A esperança foi sempre o motor da história e da vida e pode e deve voltar a sê-lo.
Ao olharmos para uma Europa cansada, para um mundo que perdeu a esperança, num ambiente marcado pelo individualismo, a par do desânimo e desencanto que as pessoas deixam transparecer, sem perspectivas a curto prazo de que o panorama se modifique para melhor, importa criar um clima lúcido de esperança e serenidade.
A situação de frustração, de desespero para alguns, da falta de perspectiva para outros, da desconfiança em relação ao futuro em que a comunidade nacional e internacional está mergulhada, não saíram do horizonte. A crise e económica, financeira, política e laboral, ancorada numa forte crise de valores mais global acarretaram outras crises paralelas, que entre nós afectaram a própria via política.
O panorama não é risonho e parece não se ver ainda a luz no fundo do túnel, pois muitos responsáveis em vários sectores da sociedade já provaram ser incapazes de conduzir o povo por um caminho de justiça, acentuando ainda mais as desigualdades. Muitos, desiludidos com a justiça e a educação, apesar de alguns progressos, tentam acalentar um tempo novo onde reinem o direito para vencer as barreiras que ocultam a esperança e instaurar um mundo diferente.
Há meses o Patriarca de Lisboa e o bispo do Porto falaram da esperança e duma solução para a crise que Portugal atravessa, encontrando-se essa solução na cultura e na identidade espiritual do povo português que é necessário abraçar com “coragem e determinação”. E o bispo do Porto aponta a esperança “como dinamismo interior que nos leva a admitir mudanças para melhor, sobretudo quando elas se assinalam na actuação concreta de muita gente que não desiste do futuro próprio e alheio”. Era Ortega e Gasset que dizia: o coração dos homens necessita sempre de uma abertura para a esperança, isto é, para o amanhã. É a presença insuportável do mal que leva à esperança.
Por isso, Marcel diz que no acto de esperar há uma radical inconformidade. Neste ano que está a ser difícil, três aspectos parecem urgentes na tarefa de olhar o futuro: recuperação da auto estima, a gestação de um novo sistema económico mais justo, e a formação dos jovens numa base moral em que a acumulação e o ter cedam passagem a um perfil mais ético e de compromisso com a humanidade.
Nestes três aspectos a Igreja tem uma especial responsabilidade de continuar a trabalhar para que seja uma realidade o homem novo que o Evangelho propõe. Umas vezes terá que fazê-lo desde o profetismo; outras desde o trabalho de samaritano, e em muitas ocasiões com o seu trabalho docente. Esperança e solidariedade são duas tónicas chave que bem podem servir como bússola de orientação e resposta às graves dificuldades que o nosso país atravessa, mergulhado com está numa profunda crise política, que seja qual for o desfecho, atinge particularmente os mais desfavorecidos.
É neste quadro que vivemos a semana da Cáritas. No Ano Europeu do Voluntariado, a Cáritas Portuguesa quer sensibilizar a população para a prática da solidariedade, com o objectivo de oferecer uma resposta às situações mais graves de pobreza, exclusão social e situações de emergência em resultado de catástrofes naturais ou calamidade pública.
Entre outras acções desenvolvidas no território nacional a Cáritas intervém na implementação de programas de apoio materno-infantil, infanto-juvenil, terceira idade, mulheres vítimas de violência doméstica bem como na luta contra a exclusão social, em especial no apoio às minorias étnicas, comunidades imigrantes e suas famílias, toxicodependentes, seropositivos e alcoólicos.
Na área da solidariedade “os portugueses podem fazer a diferença face a três quartos da população europeia que não participam em qualquer acção de solidariedade”.
Pe. Fenando Brito in: http://www.noticiasdacovilha.pt/