«Abre-te» (cf. Mc 7,31-37)
Ao terminar a criação, Deus disse: “Tudo é bom e belo”.
Mas o ser humano, ao introduzir o pecado,
ficou surdo à Palavra de Deus e mudo ao louvor.
A criação perdeu beleza e capacidade de diálogo,
porque cada um só ouve o seu interesse!
E porque falta abertura ao outro e a Deus,
o diálogo tornou-se gritaria e substitui-se a verdade pela arma.
Jesus escuta os gemidos solitários do êxodo da comunhão
e vem fazer uma nova criação, abrindo-nos ao amor e à verdade!
O narcisismo é surdo e mudo e só conhece a palavra: “eu”.
Busca ardentemente ser espanto, com dietas, maquilhagens,
cirurgias, bronzeados, modas, redes sociais, extravagancias.
Desconfiado de si, olha-se compulsivamente ao espelho
e, ouvindo as mesmas músicas de sempre,
entretêm-se a tirar selfies, surdo e cego ao que passa à volta!
Tão fechado em si mesmo anda, que não escuta nem dialoga!
Que futuro poderá ter uma união de amizade ou esponsal
entre duas pessoas fechadas em si mesmo?
Que lugar poderá ter o diálogo e a busca comum da verdade
num aglomerado de pessoas fechadas em si mesmo
seja no contexto da família, da sociedade ou da política?
O silêncio e falta de assunto nas relações e nas comunidades,
não será sinal desta surdez egocêntrica?
Senhor, que te abres ao Pai, erguendo os olhos para o Céu,
abre-nos ao dom da oração e da escuta da tua Palavra.
Senhor, chave de amor, cujos dedos nos libertam do autismo,
abre-nos à contemplação da sinfonia que toca na criação
e à escuta da verdade escondida em cada irmão.
Cristo, que purificas a nossa língua com o beijo da misericórdia,
abre-nos à boa palavra que louva, acarinha, perdoa e anuncia.
Vem Espírito de Deus e recria-nos abertos a Deus e aos outros,
à imagem de Cristo, descentrado de si, ouvinte atento e proativo,
entranhas de amor, mãos libertadoras e poder que serve!
Pe. José Augusto