IV – Domingo do Advento

“Dirigiu-se apressadamente …”

            Maria acabou de receber a visita do anjo Gabriel. Este anunciou-lhe e propôs-lhe uma missão divina. Explicou-lhe que o Espírito Santo desceria sobre ela e tornaria possível o que humanamente era impossível. Além disso, deu-lhe um sinal: a sua parente Isabel, uma mulher estéril e de idade avançada (Lc 1,7), estava no sexto mês de gravidez, provando que “nada é impossível a Deus”. Então, Maria assume-se como serva do Senhor, totalmente disponível para que nela se realize a vontade de Deus. Maria, ao colocar-se numa atitude de serviço e de amor a Deus, sabe que isso implica também colocar-se numa atitude de serviço e amor aos homens.

            “Pôs-se a caminho”. Agora, Maria parte apressadamente ao encontro de Isabel. Maria vai visitar Isabel e vai apressadamente, não movida pela curiosidade de verificar se é verdade que está grávida e, assim, poder confirmar ou não a verdade do que o anjo lhe disse da parte de Deus. Parte apressadamente, não porque precisa de uma amiga de confiança com quem partilhar o mistério de Deus que está a acontecer na sua vida, como se não fosse capaz de guardar tal segredo.

            Maria, não podendo deixar de ser consequente com o compromisso assumido com Deus, tem pressa de dar início à sua missão junto dos homens. Maria pressente que Isabel precisa da sua presença e da sua companhia, da sua amizade e da sua dedicação. Maria não permaneceu em sua casa a sonhar com as grandezas humanas que lhe podiam advir daquela missão divina. Poderia ter sonhado ser senhora em vez de serva, ter servas em vez de servir, gozar de um estatuto social entre os seus concidadãos em vez de continuar a ser uma simples mulher comum de Nazaré. Mas não foi por esse caminho. Ela sabia que Deus fixa o seu olhar na humildade dos seus servos (Lc 1,47) e exalta os humildes (Lc 1,52).

            “Dirigiu-se apressadamente …” Maria não se demorou a fazer as malas nem gastou tempo a comprar prendas para os seus parentes! A visita é, em si mesma, um inestimável dom – o dom que a pessoa faz de si a quem visita. Depois, Maria leva no seu seio o mais valioso de todos os presentes, o Filho de Deus. Isabel reconhece-O como “meu Senhor”, e o filho de Isabel, pressentindo a proximidade do Salvador, salta de alegria no seio de sua mãe. Através da saudação de Maria, Isabel recebe também o Espírito Santo, que a ajuda a captar, reconhecer e louvar a grandeza de Maria. Maria partilha ainda a sua fé, facto que leva Isabel a proclamá-la “bem-aventurada aquela que acreditou”. Finalmente, Maria oferece também o seu tempo. A sua não é uma mera visita de cortesia. Pelo contrário, “Maria ficou com Isabel cerca de três meses” (Lc 1,56).

            O evangelista diz-nos que Maria, ao entrar na casa de Zacarias, saudou Isabel. Não regista as palavras desta saudação. Porém, a partir dos efeitos que ela produz, podemos deduzir que a sua saudação fez chegar ao coração de Isabel e do seu filho os mais excelentes dons de Deus. Não foi, pois, uma saudação qualquer, não se limitou a pronunciar meras palavras de circunstância. Ela comunicou o que lhe ia na alma, a sua fé, o seu amor e a sua alegria, como melhor explicitará no cântico do Magnificat (Lc 1,46-55).

            Tocada pela saudação, iluminada pelo Espírito Santo, numa atitude de louvor, Isabel aclama Maria como a bendita, a primeira, a mais importante entre todas as mulheres do mundo e da história, porque “acreditou no cumprimento de tudo”. Isabel intui com clarividência que a fé de Maria é o segredo de tudo o que está a acontecer. A fé de Maria dá luz verde a Deus para pôr em marcha o seu plano de salvação. Graças à fé de Maria, o Filho de Deus já se encontra no mundo dos homens e os homens já começam a experimentar a alegria da salvação.

            “Dirigiu-se apressadamente …” Diante de alguém que precisa de ti e tu podes ajudar, deténs-te a fazer cálculos, a considerar os riscos, a ver se alguém pode mais do que tu, a procurar algum motivo para o não fazeres, ou o teu amor impele-te, sem delongas, à acção? No modo como saúdas as pessoas e falas com elas, limitas-te à rotina e às banalidades, ou deixas transparecer a presença de Jesus na tua vida? As pessoas poderão dar conta que o Senhor te acompanha e ser contagiadas pela tua fé e alegria? Entre os bens que tens, a fé em Cristo é o bem melhor. Não faças esperar aqueles que precisam e desejam recebê-lo.

Pe. José Manuel Martins de Almeida