O TESTEMUNHO DE UM HOMEM BOM E DE UM BISPO SOLIDÁRIO
“Todos somos s responsáveis pelo bem dos outros, e os governantes têm um dever acrescido”
- António da Silva – Bispo do Porto
De vez enquanto recebemos notícias de diversas fontes informativas, que nos magoam profundamente, que ferem, e até nos levam à revolta. A notícia chega pela comunicação social, o Bispo do Porto, D. António Francisco dos Santos sofreu um ataque cardíaco fulminante, que lhe tirou a vida terrena. Quando elementos desta grandeza desaparecem a nossa dor ainda é maior, porque a sociedade sem estes valores é uma a sociedade em débito.
Chego ao Fundão e logo uns amigos me confirmam tão nefasta notícia. Há mais de uma década que sou elemento da Cáritas Paroquial de Aldeia de Joanes, a que mais tarde foi agrupada a Paroquia de Aldeia Nova do Cabo. Quando elementos deste gabarito, desta estrutura social desaparecem, a dor ainda é maior pelos imensos sonhos não realizados.
Em alguns encontros e por diversas vezes representei conjuntamente com outros elementos a Cáritas, onde este Bispo fazia interversões em debates, jornadas, palestras e ações de trabalho.
Nasceu em Tendais, do concelho de Cinfães da Diocese de Lamego. Ali foi ordenado sacerdote em 1972.
De seguida licenciou-se em Filosofia na École Pratique de Hautes Études Sociales e fez mestrado em Sociologia Religiosa no Instituto Católico de Paris. Em França fez trabalho pastoral junto da comunidade emigrante de muitos portugueses ali residentes- Em 2004 João Paulo II nomeou-o como Bispo Auxiliar 0 Bispo Auxiliar de Braga. Em 2005 nomeei-o como Bispo de Aveiro, num território de 101 de paróquias E em Março de 2005 é ordenado Bispo de Aveiro e toma diversas medidas, ordenando que as Eucaristias Dominicais, dentro do possível, se realizassem as eucaristias dominicais nas praias da Diocese e uma atenção de ações sócio caritativas.
Assisti a varias conferencias sobre problemas sociais e humanos no âmbito da Caritas, e as suas considerações eram mais de ação, do que palavras. A sua figura física lembra-me a do meu saudoso pai, também, um homem nascido num ambiente rural, e que os versos do Bocage definiam as suas estruturas físicas: “ Magro, de olhos azuis, carão moreno/Bem servido de pés/ Meão na altura, Triste de facha, o mesmo de figura/Nariz alto no meio, e não pequeno.”
Ao fim de um ano da posse de Bispo do Porto anunciava, numa entrevista “que queria ser um Bispo no meio do povo, no meio da comunidade”. Procurava por em prática o que dizia nas suas homilias. A partir de Roma e no final de um ano de exercício episcopal com uma procura de fazer atos, depressa os diocesanos do Porto facilmente anularam a apreensão que sentiam da perca de um Bispo carismático, mediático e popular, que foi para Lisboa recebendo em troca, se assim se pode dizer, e não notaram qualquer diferença.
- António, Bispo do Porto deixa-nos frases para refletirmos como por exemplo: ” não há príncipes na Igreja nem nunca devia ter havido, segue as orientações pastorais, as ideias de uma revolução e as orientações do Papa Francisco, uma Igreja sem príncipes em que a palavra” misericórdia” seja devolvida à sua essência do seu étimo latino de compaixão ao coração. A circunstância de exercer no bispado, num tempo de grandes dificuldades o tenha levado a alertar para as questões sociais, num ponto que se centraliza na sua ação e no seu discurso. “A ação socio caritativa é a capacidade de termos uma Igreja. No exercício episcopal a ação do seu discurso afirma “ que a ação socio caritativa da Igreja é a capacidade, de lermos a realidade e escutarmos o mundo num tempo de grandes dificuldades. A ação socio caritativa da Igreja é a realidade de escutarmos o mundo e também a disponibilidade para dar novas respostas à pobreza.
Na minha memória tenho três ou quatro encontros no âmbito das Jornadas da Cáritas Diocesanas Portuguesas. Não esqueço a sua bondade, a sua verticalidade e acima de tudo a sua humanidade. Estávamos à espera do almoço em Aveiro e D. António com calma e serenidade, de pé aguarda pelos jovens seminaristas, que se sentaram à sua volta e ainda ajudou um ou outro seminarista com dificuldades de manobrar os talheres, e ainda ajudou um deles que estava com problemas de cortar os alimentos, com uma simplicidade e respeito invulgar. Não é por acaso que uma jovem escuteira professora no meio de centenas de pessoas apelou para que todos se lembrem dos mais pobres principalmente na distribuição de alimentos agrícolas.
O Reitor da Universidade de Aveiro escreve num jornal diário, na página de opinião, o seguinte entre outras coisas.” É difícil imaginar um homem tão autêntico no seu modo de ser e tão genuíno na sua essência. Era uma pessoa intrinsecamente boa, um ser humano de primeira grandeza. A sua ação foi sempre pautada pela generosidade para com o outro e pela preocupação com os mais fragilizados, os mais pobres os mais carenciados de ajuda.”
Quero terminar com as suas últimas palavras que ouvi numas jornadas socio-caritativas:
“Todos somos missionários, Não só o bispo, o padre ou o diácono, mas todos e todos temos que ser solidários uns com os outros. Essa presença dos leigos no Mundo vai transformar o rosto de Igreja”
Faleceu um Bispo ao serviço, um bom PASTOR… Deus levou-o cedo demais porque tinha aos ombros uma grande tarefa Pastoral e Social no Norte de Portugal.
António Alves Fernandes
Aldeia de Joanes
Setembro/2017