Aquele sábado foi um dia em cheio para Jesus! De manhã, na sinagoga, ensinou o povo e curou um homem que tinha “um espírito impuro”. Depois, foi a casa de Simão e André e curou a sogra de Simão. Ao cair da tarde, ainda curou muitos doentes e expulsou muitos demónios. Naquele dia, como em tantos outros, Jesus centra a sua atenção e acção nos doentes e possessos – aqueles que viviam atormentados pelo sofrimento ou perturbados pelo mal que os dominava. Curando os doentes e expulsando os demónios, Jesus mostra que o Reino de Deus já está presente e actuante no meio dos homens. Sim, com estas obras, que libertam os homens do sofrimento e do pecado, Jesus, ainda mais do que com as Suas palavras, anuncia o Boa Nova de Deus.
No relato que faz daquele dia, Marcos oferece-nos dois detalhes significativos. Primeiro, diz-nos que a sogra de Simão, uma vez curada, começa a servir Jesus e aqueles que O acompanhavam. Tendo recuperado a saúde, coloca o dom recebido ao serviço das pessoas. Procedendo deste modo, ensina que quem recebe um dom de Deus, seja ele qual for, não o deve sentir e usufruir apenas como um benefício para si, mas, muito mais, como algo que deve pôr a render ao serviço dos outros.
Depois, Marcos diz-nos que Jesus “não deixava que os demónios falassem, porque sabiam quem Ele era”. O demónio sabe quem é Jesus mas não acredita n’Ele, tal como sabe quem é Deus mas não acredita em Deus. Uma coisa é saber (conhecer) e outra é acreditar. Acreditar implica aderir a Deus, num acto que envolve a inteligência, a vontade e o coração, e, consequentemente, aceitar Deus na sua própria vida. Ora, o demónio recusa-se a reconhecer e a aceitar Deus, vendo n’Ele um rival e inimigo com quem está em luta permanente. É, pois, de todo lógico que Jesus impeça o demónio de falar. Só faltava que fosse ele a revelar aos homens quem é Jesus!
“Vamos a outros lugares, a fim de pregar aí também”. Apesar de ter tido um dia intenso e cansativo, na manhã seguinte, Jesus levanta-se muito cedo, retira-se para um sítio ermo e aí começa a rezar. Jesus não quer correr o risco de cair num activismo stressante e estéril. Antes de retomar a sua missão junto dos homens, renova e fortalece a sua comunhão com Deus. Esta sintonia com o Pai, alimentada na oração de cada dia, dá-lhe lucidez e força para prosseguir o Seu caminho e continuar a Sua missão noutros lugares. Quando os apóstolos Lhe dizem que as pessoas O procuram e desejam que permaneça mais tempo com elas, Jesus não acede, consciente de que, nas povoações vizinhas, muitas outras pessoas O esperam e aguardam a Boa Nova do Reino.
Jesus sabe que há muitos outros à sua espera e que também têm necessidade de O conhecerem. Sente como seu dever ir ao encontro das pessoas, a fim de lhes dar a oportunidade de escutarem a palavra e de experimentarem a força da verdade e do amor de Deus. Em cada povoação por onde passa, Jesus quer ser a Boa Nova de Deus para todos os que aí habitam.
Nada altera ou condiciona o ritmo da Sua missão. Nem o acolhimento favorável e os aplausos das multidões O levam a deter-se por mais tempo no mesmo lugar, nem o facto de saber que é indesejado O leva a apressar e antecipar a sua partida. Jesus nem fica para saborear qualquer possível sucesso nem parte para evitar qualquer conflito ou dificuldade.
“Vamos a outros lugares, a fim de pregar aí também”. Jesus ensina que os apóstolos, os de hoje como os do passado, não podem prender-se aos lugares e às pessoas. O ficar e o partir não podem depender do êxito ou do fracasso da missão. O verdadeiro apóstolo não resiste a partir para outro lugar, porque as pessoas aplaudem a sua acção pastoral e apreciam a sua maneira de ser. Nem deve apressar a sua partida, por sentir que as pessoas o rejeitam e lhe tornam a vida difícil. O que deve mover e motivar sempre o apóstolo é a urgência de pregar o Evangelho. Pregar o Evangelho, lá onde Deus o envia, é uma obrigação intrínseca à missão. É um dever que corresponde à necessidade e ao direito que todos os homens têm de escutar e conhecer a Boa Nova do Reino. E este direito dos homens resulta da vontade de Deus que quer que todos cheguem ao conhecimento da verdade e se salvem.
Pe. José Manuel Martins de Almeida