I – Domingo do Advento
“Erguei-vos e levantai a cabeça …”
O evangelho, no primeiro domingo do Advento, é um texto do capítulo 21 de São Lucas. Sendo o ponto de partida do novo ano litúrgico, em que vamos seguir o terceiro evangelho, seria de esperar, ou seja, pareceria mais lógico que a leitura partisse do seu início. Além disso, o texto oferece-nos a descrição de alguns fenómenos cósmicos, estranhos e extraordinários, que precederão a vinda do Filho do homem “com grande poder e glória”. Aponta-nos para o fim do mundo e a plenitude da história. Sendo o Advento o tempo de preparação para o Natal de Jesus, seria também de esperar um texto que estivesse mais relacionado com tal acontecimento.
A escolha deste texto não foi certamente arbitrária. Na liturgia, a Igreja celebra, ao mesmo tempo, o passado e o futuro da história da salvação. Actualiza o passado e antecipa o futuro. O passado e o futuro da salvação tornam-se presente no hoje da vida da Igreja e dos crentes.
Assim, no tempo litúrgico do Advento, somos convidados a olhar para Jesus não apenas no mistério da sua encarnação e do seu nascimento no mundo dos homens, há dois mil anos, mas também, e muito mais, no mistério da sua segunda vinda, quando o mundo e a história chegarem à sua meta.
Nós partimos da certeza que Jesus já veio e realizou entre os homens a missão que o Pai Lhe confiou. Acreditamos que Ele continua connosco e connosco percorre os caminhos da vida e da história, como prometeu (Mt 28,20). E vivemos animados pela esperança de que há-de voltar, como Senhor e justo juiz, em todo o seu esplendor e majestade. É esta esperança em relação ao futuro, mais do que a recordação do passado, que deve inspirar a nossa preparação/vivência do Advento e motivar/animar a nossa celebração do Natal.
Voltemos ao texto. Jesus indica-nos as atitudes que devemos assumir, durante o tempo que vivemos neste mundo, até que chegue o momento de comparecermos na sua presença:
“Erguei-vos e levantai a cabeça …” Abri os vossos olhos, estai atentos, procurai compreender as realidades e tudo o que acontece à vossa volta. Tomai consciência da contingência do mundo e da vossa própria fragilidade. O mundo é efémero, não dura sempre. E mais efémera é a vossa vida neste mundo.
O homem não pode, por conseguinte, fixar apenas o seu olhar na terra e ficar preso a ela. O homem precisa de levantar a cabeça para o alto e abrir-se aos horizontes de Deus. O homem precisa de acordar para a sua dimensão espiritual e deixar-se libertar por Cristo. Mais do que o fim do mundo, Jesus é que está próximo de cada homem, desejoso de entrar na sua vida e o salvar. E o homem, que vive sempre na iminência de partir deste mundo, não pode desperdiçar o seu tempo, adiando continuamente o encontro com Jesus.
“Tende cuidado convosco, não suceda que os vossos corações se tornem pesados pela devassidão, a embriaguez e as preocupações da vida”. O homem precisa de estar atento a si mesmo, sobretudo às artimanhas do seu egoísmo. A maior ameaça do homem está dentro de si. O homem deve ter cuidado especial com o seu coração. O coração perverte-se, perde a capacidade e a liberdade de amar, quando o homem se preocupa excessivamente com as coisas deste mundo e procura uma felicidade a qualquer preço, sem regras nem normas morais.
“Vigiai e orai em todo o tempo”. Estamos vigilantes, atentos à vontade e ao agir de Deus, na medida em que mantemos um contacto constante com Ele através da oração. Reza quem acredita em Deus e O sente como Pai, quem tem lugar para Ele na sua vida e experimenta a necessidade de viver em comunhão com Ele. Esse não será surpreendido nem terá receio de comparecer na presença de Cristo.
“Erguei-vos e levantai a cabeça …” Na tua vida, sobretudo neste tempo do Advento, em que vais fixar o teu olhar e a que vais prender o teu coração? As tuas preocupações deixam-te alguma atenção e a tua pressa algum tempo para te concentrares no grande amor de Deus por ti, revelado em Jesus Cristo?
Estás suficientemente vigilante, ou seja, a tua fé está bem acesa para conseguires ver Jesus que, no quotidiano da tua vida, caminha ao teu encontro, para ouvires a sua voz, quando bate à tua porta, para sentires o seu amor e O acolheres no teu coração?
Pe. José Manuel Martins de Almeida