Sabe-se que o nome “Fernandes” tem origem na palavra “Fernando”. Os Romanos com o nome de Fernando registavam todos seus descendentes com o apelido de Fernandes. Assim, etimologicamente, Fernandes significa “filho de Fernando”, “filho do homem ousado para atingir a paz”ou “filho do homem que ousa viajar”. Fernandes é pois um apelido honrado, ousado e aventureiro. É certo que o hábito não faz o monge como o apelido não faz a pessoa, mas lá terá o seu efeito como a lua nas marés.
Um dos primeiros Fernandes, registados na História Portuguesa, foi Diogo Fernandes, terceiro Conde de Portugal, filho de um Fernando que teve grande importância nas terras lusitanas…
Hoje há Fernandes em todas as localidades de norte a sul do País, nos Países de Língua Oficial Portuguesa e pela Europa fora. Na vizinha Espanha, por exemplo, a boca abre-se um pouco mais para se pronunciar Fernández ou Hernández.
É um apelido de afectos, sempre que descubro um Fernandes chamo-lhe imediatamente parente e, ao fim de dois tintos com presunto, os nossos antepassados já se cruzaram. Assim aconteceu quando entrei no café-restaurante “António Alves Fernandes” em Mora. Tornei-me logo amigo do dono que procuro sempre visitar quando passo nessa terra, merendando na sua casa de pasto e levando-lhe iguarias e hortaliças beirãs da minha lavra. Como um familiar, retribui-me com alguns mimos da sua horta.
Em Portugal, no Baixo Alentejo, há uma freguesia que é a Aldeia dos Fernandes, o que atesta bem a familiaridade deste apelido.
Na minha aldeia – a Bismula (Sabugal) – não faltavam famílias com esse apelido. O meu saudoso pai, José Maria Fernandes Monteiro, não gostava do último apelido e registou os filhos e filhas com o apelido de Fernandes. Infelizmente, por teimosia e autoridade abusiva do Conservador do Registo Civil Sabugalense, o meu irmão Francisco ficou Monteiro de nome e Fernandes de coração.
Ainda disse ao meu irmão para alterar o apelido e passar a chamar-se Fernandes. É o nome que soa melhor aos meus ouvidos, de tal forma que gosto mais que me chamem Fernandes, embora não desdenhe o primeiro nome de António. O meu filho adoptivo Rui Pelejão chama-me “Pai Fernandes” e, se ele não tivesse um apelido tão engraçado e sonante, bem podia ser Fernandes.
O Padre Manuel Alves, natural de uma aldeia do Concelho da Pampilhosa da Serra e actualmente Assistente Religioso do Instituto das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, contou-me que quando era criança as gentes da Pampilhosa da Serra tinham uma grande admiração pelos Fernandes do Fundão. Conheci-o há dias e contou-me uma bela história:
Muitos jovens da Pampilhosa tinham que se mudar para o Fundão a fim de dar continuidade aos estudos. Quando vinham as férias, regressavam às suas terras para ajudar os seus familiares nos trabalhos agrícolas e na recolha da resina.
Estes jovens carregados de bagagens eram transportados por moços de fretes ou ganhões contratados.
Um dia passou um ganhão que encheu a carroça com um grupo de rapazes, deixando apeada uma menina, muito triste e chorosa por não ter lugar e se encontrar sozinha.
Eis que lhe apareceu um Fernandes do Fundão, que num grande gesto altruísta foi buscar a sua carroça e carregou as malas, levando a menina sentada até à Pampilhosa da Serra.
Como os animais também precisavam de comer, cobrou à menina apenas cinco escudos, entregando-a são e salva aos pais. A atitude deste samaritano Fernandes ganhou fama por todo o Concelho da Pampilhosa da Serra, que ainda no tempo actual recorda o gesto do Fernandes do Fundão.
Só posso sentir-me alegre por pertencer à Família Fernandes.
António Alves Fernandes
Aldeia de Joanes
Fevereiro/2018