Baptismo do Senhor
“Baptizar-vos-á no Espírito Santo”
Até ao momento do seu baptismo, Jesus viveu como um judeu comum do seu tempo, não levantando qualquer suspeita sobre a sua verdadeira identidade. Todo o tempo que habitou em Nazaré, nada fez de extraordinário que chamasse a atenção dos seus concidadãos. E, agora, ao aproximar-se de João, Jesus aparece incógnito no meio da multidão.
Entretanto, João já tinha dado início à sua missão, no deserto, na região do Jordão. O modo como vivia, o conteúdo da sua pregação, a autoridade com que se dirigia às pessoas, as propostas radicais que lhes fazia, interpelavam e levaram muitos a pensar que João seria o Messias. Poderia ter-se aproveitado desta expectativa do povo, mas não o fez. João sabe que a sua missão antecede e prepara a vinda de Alguém que é muito mais importante do que Ele e que realizará uma missão muito mais importante do que a sua.
“Baptizar-vos-á no Espírito Santo”. João exorta as pessoas ao arrependimento, mas o seu baptismo tem apenas um valor simbólico. As águas do Jordão são incapazes de purificar e renovar o coração do homem. Só o baptismo de Jesus, o baptismo “no Espírito Santo”, tem a capacidade de regenerar o homem por dentro, devolvendo-o à sua primitiva condição de imagem de Deus.
A teofania, que se segue ao baptismo de Jesus, confirma a verdade de quanto João dissera a seu respeito. Com efeito, o Espírito Santo desce sobre Jesus. Por conseguinte, Jesus poderá baptizar no Espírito Santo e o seu baptismo será superior ao de João. Por sua vez, Deus reconhece Jesus como seu Filho, o Filho “muito amado”, evidenciando a sua inequívoca superioridade em relação a João.
Imediatamente após o baptismo, Jesus entra em oração. Jesus vive esse momento com particular intensidade. Sabe que a sua missão está prestes a começar. E tem presente que o Pai O enviou ao mundo para salvar os homens. Naquele momento, sente necessidade de perscrutar, uma vez mais, a vontade do Pai e de Lhe renovar a sua total disponibilidade para a realizar. A oração de Jesus, que exprime a sua plena sintonia com Deus, faz abrir o Céu. Porque pronto e disponível, Deus envia o Espírito Santo que desce sobre Jesus e O consagra para a missão. Ao mesmo tempo, faz ouvir a sua voz, para Lhe manifestar o seu inquestionável amor paterno e a sua total confiança.
Assim, ungido e consagrado pelo Espírito Santo, reconhecido e aprovado por Deus, Jesus pode começar a sua missão: a missão de revelar o amor de Deus Pai aos homens e fazer dos homens filhos de Deus.
“Baptizar-vos-á no Espírito Santo”. Aqueles que acreditam em Cristo, que O reconhecem como Filho de Deus e Salvador dos homens, que aceitam segui-l’O como discípulos e viver segundo o seu Evangelho, são baptizados no Espírito Santo. Deste modo, o homem nasce do alto, é gerado como filho de Deus e passa a fazer parte da sua família, participa da vida e missão de Cristo e torna-se morada permanente do Espírito Santo.
O que acontece no dia do baptismo prolonga-se por toda a nossa vida. Na verdade, Deus diz-nos, todos dias, a cada momento, “Tu és meu filho”, e partilha connosco a riqueza do seu coração. E o Espírito Santo continua em nós a sua missão: ajuda-nos a compreender sempre melhor o que Jesus disse e fez, conduzindo-nos à verdade completa de Deus; inspira-nos a chamar e a tratar Deus como nosso Pai; impele-nos a participar activamente na vida e na missão da Igreja; encoraja-nos a dar testemunho de Cristo diante dos homens.
Quantos fomos baptizados em criança, perdemos a alegria desse dia, pois não pudemos saborear de um modo consciente a grandeza do mistério que aconteceu na nossa vida. Agora, pela mediação da Igreja, vamos captando e compreendendo o que o baptismo fez de nós e quais os desafios que ele encerra para o nosso existir quotidiano. Oxalá que, a partir da coerência da nossa vida, da consistência e alegria da nossa fé, da clarividência e ternura com que falamos de Deus, do dinamismo e entusiasmo com que participamos na vida da Igreja, do amor e atenção que prestamos aos irmãos necessitados, da coragem com que enfrentamos as adversidades da vida, da esperança com que olhamos o futuro e da felicidade que espelhamos, as pessoas possam dar conta que vivemos como filhos de Deus e somos dóceis ao