“O COLÉGIO”
Para quem nasceu ou viveu nas chamadas Terras do Planalto do Ribacoa esta palavra não lhe é indiferente.
Na minha criancice na década cinquenta do século passado já ouvia inúmeras vezes o meu pai falar-me no “Colégio” de Aldeia da Ponte (Sabugal), mas sem lhe dar a grande importância que através dos tempos aquela instituição mereceu e devia merecer.
No meu caso pessoal os meus progenitores estiveram ligados à história daquele secular “Colégio”. O meu Pai, membro da família dos Missionários do Coração de Maria no País Basco e em Portugal, e a minha Mãe em Idanha-Belas (Sintra) nas Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus. Também em tempos de contrabando familiar, este era escondido perto do “Colégio”, enquanto íamos cumprir o dever de assistir à missa dominical, na Igreja Matriz.
Fundado em 1892, os anos foram passando e muitas e diversas vicissitudes aconteceram até chegar ao estado degradante em que se encontra.
Durante cinco anos, ali esteve sediada a Ordem dos Irmãos Hospitaleiros de S. João de Deus, por onde passou diversas vezes São Bento Menni, preocupado com a situação desta comunidade.
Em 1989 foi transferido para as mãos da Congregação dos Missionários do Coração de Maria, fundada por Santo António Maria Claret, a quem muitos apelidavam de Frades Jesuítas de Aldeia da Ponte.
Já em finais da Monarquia Portuguesa a crise do “Colégio” se acentuava, agudizando-se com a proclamação da República e expulsão das Ordens Religiosas. “O Colégio” ficou em mãos de particulares, servindo os fins mais impróprios.
Nos últimos tempos aprofundei os meus conhecimentos sobre “O Colégio” de Aldeia da Ponte, através do livro “UM JUSTO PATER FAMILIAS”, da autoria de Ezequiel Alves Fernandes, numa investigação sobre o seu pai José Maria Fernandes: em 1920, por influência que ainda se mantinha naquela zona Arraiana dos Padres Marianos, foi frequentar o Seminário de São Domingos da Calçada em Espanha. Clandestinamente atravessou a fronteira e em Fuentes de Oñoro, encontrou Missionários Claretianos que por via férrea o acompanharam até São Domingos.
Na Bismula (Sabugal), assim como em muitas povoações arraianas, abriram-se caminhos para centenas de jovens seguirem o mesmo destino.
Recordo os bismulenses que terminaram as suas vidas ao serviço daquela Congregação, Padre Manuel Joaquim Leal, Eduardo Videira e ainda ao serviço o Padre Manuel Leal Fernandes.
Há dias foi apresentado, na Biblioteca Eduardo Lourenço, uma obra de grande valor histórico: “1908-1910 – OS FRADES JESUÍTAS CORREM PORTUGAL PELA MUITA TINTA DOS JORNAIS”, cujo autor é Manuel Pires Sanches, que nasceu em Aldeia da Ponte e numa residência junto ao “Colégio”.
Obra com mais de seiscentas páginas, trabalho de uma profunda investigação, cuja leitura é aconselhável a todos os que se interessam pela História de Portugal e as repercussões culturais, sociais e políticas do “Colégio” de Aldeia da Ponte.
Este “Colégio” abriu portas a que milhares de jovens através dos tempos, principalmente de todas as aldeias e anexas do Concelho do Sabugal, ingressassem na Congregação dos Missionários do Coração de Maria, das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e dos Irmãos de São João de Deus.
Um “COLÉGIO” com tão longa história, monumento de interesse municipal, que devia ser património nacional, não pode, não deve ficar entregue ao abandono, a acumular ruínas ano após ano.
Salve-se o “COLÉGIO” de Aldeia da Ponte! Os nossos vindouros não perdoarão.
António Alves Fernandes
Aldeia de Joanes
Julho/2019