GUARDA – JORNADAS DIOCESANAS
É bom ainda assinarmos jornais regionais, semanários, que sobrevivem com imensas dificuldades e que são em grande parte a garantia de uma sociedade mais informada, mais culta, democrática e livre. Infelizmente, acabo de tomar conhecimento que “O Amigo da Verdade”, com mais de um século de existência, acabou por não resistir à crise da imprensa escrita e vai deixar de ser publicado.
Foi através de um desses jornais que tive conhecimento que iam decorrer, no Seminário Maior da Guarda, as Jornadas da Pastoral Diocesana no dia 5 Outubro, data de má memória para aquela instituição, que devido aos acontecimentos sucessivos da Implantação da República teve de fechar portas e perder as antigas instalações do Mondego.
Na informação, o Bispo Diocesano apelava para a participação dos sacerdotes, diáconos e todos aqueles cristãos colaboradores nos diversos serviços paroquiais, que deviam ser avisados pelos respectivos párocos.
Marcaram presença um razoável número de leigos, dos dezassete diáconos estavam presentes treze e dos cento e trinta sacerdotes incardinados, embora oitenta e seis exerçam actividade pastoral na diocese, estavam apenas vinte e cinco.
As Jornadas pastorais coincidiam com o “especial outubro missionário”, que tinha como tema “Papa Francisco e a Missão.” Estranhou-se a ausência de elementos das duas Congregações Missionárias, existentes na Diocese da Guarda.
Os trabalhos iniciaram-se com a moderação do Padre Jorge Manuel Pinheiro Castela, Coordenador Diocesano da Pastoral, e como conferencista o Padre Victor Hugo Mendes, que apresentou na parte da manhã dois temas: “Bergoglio, Aparecida e a Igreja Missionária” e “Francisco e a Igreja em saída Missionária.”
Traçou o perfil do Papa Francisco, de 76 anos, latino-americano, jesuíta, de língua espanhola que não participou no Concílio Vaticano II. Eleito Papa apresentou-se como bispo de Roma, o Papa dos Pobres, à semelhança de Francisco de Assis. Um Papa das surpresas, dos gestos, das palavras e dos telefonemas que optou por viver na Casa de Santa Marta em Roma. Reformou a Cúria Romana, da Colegialidade e dos Sínodos, com uma Igreja com saídas missionárias para as periferias geográficas e sentimentais. Quer uma Igreja Pobre que trate dos Pobres.
Um Papa que vem de uma Igreja com quinhentos anos de existência, fruto das Descobertas, que apesar das suas caraterísticas próprias, olha para a existência de dois mil anos do Cristianismo. Neste contexto referiu-se ao elevado número de católicos latino-americanos em comparação com os do velho continente europeu.
A missão é anunciar a Boa Nova, a nossa identidade, a nossa vocação de cristãos. Transmitir a alegria do Evangelho e viver a Fé.
A tarde foi ocupada por uma palestra brilhante, simples, de vivências pedagógicas e pastorais, a “Experiência de uma Paróquia Missionária”, pelo Padre Amaro Gonçalo Ferreira Lopes, da Diocese do Porto, Pároco da Igreja da Senhora da Hora.
Desenvolveu o tema “Paróquias Missionárias, Como?”, tendo a Paróquia como centro de constante envio missionário. Esta deve ter um estilo amável e acolhedor, deve estar de portas abertas para deixar entrar e sair, para os sacramentos, para a preparação destes como experiência missionária.
Deve ter um estilo dialogal: de escuta, de proximidade e acompanhamento, numa Igreja samaritana em diálogo profético. Cultura do encontro, também no diálogo pastoral.
Num estilo de vida pobre e simples, uma Igreja rica de amor para os pobres.
A Paróquia deve ser uma família de famílias missionárias. Criar espaços e ambientes familiares, em que ninguém se sinta estranho.
Debruçou-se sobre os estilos populares, chamando a atenção para a piedade popular, que deve ser aproveitada no muito que tem de bom, e rectificar ou suprimir o supérfluo ou exagerado.
Num decálogo, sintetizou uma Paróquia Missionária: promover e facilitar a experiência fundamental da alegria do encontro com Cristo que nos santifica, anima e envia em missão.
Cuidar da hospitalidade, acolher e alcançar a todos, a começar pelos mais distantes e estrangeiros. Criar equipas de acolhimento.
Um bom acolhimento na secretaria paroquial, com empatia e simpatia, com horários adaptados à realidade e necessidades.
Dar absoluta prioridade ao Domingo e à Eucaristia Dominical e despertar a comoção pela beleza da Celebração.
Abrir o caminho da beleza no acesso a Deus, através da arte sacra, da pintura, da música…de movimentos e acções culturais.
Uma comunidade verdadeira e familiar, onde há verdadeira fraternidade, clima de festa, alegria, convívio e experiência de comunhão.
Descobrir e prover os talentos de cada um, aproveitando os pontos fortes e dar prioridade às pessoas e aos processos e não aos méritos e aos resultados.
Dar protagonismo aos leigos na Igreja e no Mundo; superar o clericalismo. Valorizar a responsabilidade.
Converter-se numa Igreja que convida: “vinde e vede” Jo1,39.
Assumir o lugar privilegiado dos pobres na comunidade e o imperativo evangélico no cuidado da fragilidade.
Estas vivências paroquiais descritas pelo Padre Amaro Lopes devem ter abanado a consciência e comportamentos de alguns presentes. Também seria útil a alguns ausentes ouvir ou fazer-lhes chegar estas mensagens.
A terminar as Jornadas Pastorais, o Secretariado Diocesano da Coordenação Pastoral fez algumas considerações e apresentou o Plano Pastoral para o triénio 2019-2022; Plano Pastoral para a Diocese da Guarda 2019-2020; Calendário do Ano Pastoral 2019-2020 onde estão inseridas todas as atividades diocesanas e a decorrer entre setembro de 2019 a agosto de 2020.
As Paróquias e as Unidades Pastorais – IV Capítulo da Proposta para a Reorganização da Diocese da Guarda fls. 81-137, com diversos temas: Das comunidades cristãs primitivas ás paróquias; A Paróquia; Situação atual; Novos Modelos de Paroquialidade; Unidades Pastorais como possibilidade; Definição de Unidade Pastoral; Modelos de Unidades Pastorais, Considerações gerais, Âmbito das Unidades Pastorais, Funcionamento da Unidade Pastoral, Estruturas e Organismos a criar e Considerações Finais.
Com tanto debate, estudo, análise, aguarda-se de quem de direito o agir para brevemente a Diocese da Guarda, na sua globalidade, ter em funcionamento Unidades Pastorais. Espera-se que não se aplique o adágio popular: “tudo como antes, quartel em Abrantes.”
António Alves Fernandes
Aldeia de Joanes
Outubro/2019