III – Domingo da Páscoa
“Tu amas-me?”
Esta nova aparição de Jesus, a terceira depois de ter ressuscitado dos mortos, tem lugar junto ao mar de Tiberíades. Jesus aproxima-se e fala com os apóstolos, mas estes não O reconhecem. Só perante o sinal da pesca abundante, descobrem que “é o Senhor”.
O Cenário é o mar da Galileia, precisamente onde tudo tinha começado, alguns anos antes. Na verdade, no início do seu ministério, Jesus passou por ali, chamou alguns pescadores (Simão e André, Tiago e João) e prometeu fazer deles pescadores de homens. Nesse primeiro momento, os quatro não conhecem Jesus nem entendem muito bem a proposta que lhes faz, mas aceitam o desafio de O seguir. Depois, Jesus, sempre acompanhado pelos discípulos, realizará parte considerável da sua missão junto ou em relação com este Mar. Agora, após a sua ressurreição, Jesus volta a encontrar-se com os discípulos naquele mesmo lugar, para os confirmar na fé e na missão.
Manifestando-se-lhes pela terceira vez – recordemos o simbolismo do número três, Jesus pretende eliminar qualquer dúvida quanto à sua ressurreição. Agora, iluminados por esta certeza, os apóstolos ficam a saber quem é realmente Jesus e entendem verdadeiramente tudo o que Ele fez e ensinou. Agora, entendem também em que consiste e como pescar homens: anunciando e testemunhando a ressurreição de Jesus.
“Tu amas-me?” Depois de conversar e se revelar a todos, Jesus dialoga pessoalmente com Simão, submetendo-o a um exame: o exame do amor. O exame consta de uma pergunta sobre o amor, repetida por três vezes com algumas variantes. Jesus só interpela directamente Simão. No entanto, a primeira formulação da pergunta dá como certo o amor dos outros discípulos, uma vez que põe em confronto o amor de Simão com o deles. “Tu amas-me mais do que estes?” (Jo 21,15).
O que Jesus realmente pretende e é importante para Ele não é que Simão O ame mais do que os restantes discípulos, mas que O ame de verdade, que seja efectivamente seu amigo, que o ame ao ponto de não O trocar por nada nem por ninguém, um amor que não vacile no meio das adversidades. Isso mesmo se depreende das outras duas intervenções de Jesus, em que se limita a perguntar-lhe se O ama (Jo 21,16) e se é deveras seu amigo (Jo 21,17).
Por seu lado, Simão, nas respostas, apenas afirma e confirma: “sou deveras teu amigo” (Jo 21,15.16.17). Simão sabe que tem de responder pelo amor que sente por Jesus e que a aprovação no exame depende desse amor e não de amar mais que os outros discípulos.
O exame final resume-se à questão do amor. Jesus não lhes faz qualquer pergunta sobre o que lhe ouviram em público ou lhes ensinou em privado. Não testou a sua memória e a sua compreensão, pedindo-lhes a síntese de um dos seus discursos, a explicação de uma parábola, a descrição de um milagre, a contextualização de algum acontecimento. Jesus cinge-se ao amor. E não ao que os discípulos sabem sobre o amor. O que realmente lhe importa e que decidirá a aprovação ou não dos discípulos é se eles O amam de verdade.
Se O amam, conhecem-no como Filho de Deus, tal como “aquele que ama chega ao conhecimento de Deus” (1Jo 4,7). Se O amam, estarão dispostos a dar a sua vida por Ele, tal como Ele deu a sua vida pelos homens. Se O amam, permanecer-lhe-ão fiéis e Jesus poderá confiar plenamente neles.
Se O amam, é sinal que aproveitaram bem o tempo que andaram com Ele e estão preparados para continuarem a sua missão. Estão em condições de proclamar “o Evangelho a toda a criatura” (Mc 16,15) e baptizar “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19) aqueles que acreditarem no nome de Jesus; de “apascentar as suas ovelhas” (Jo 21,16.17), isto é, levar os crentes a viver segundo os seus ensinamentos (Mt 28,20); de serem suas testemunhas até aos confins do mundo (Act 1,8).
“Tu amas-me?” Pensa bem na pergunta e responde com o coração. A resposta, Jesus não a quer ouvir da tua boca. Ele prefere encontrá-la escrita na vida dos teus irmãos. Sim, nos irmãos a quem serves e amas, a quem te dás e com quem partilhas, em função dos quais vives e realizas a tua missão. Neles, Jesus quer ouvir que tu O amas de verdade!
Pe. José Manuel Martins de Almeida
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III – Domingo da Páscoa; “Tu amas-me?”