A crise que o Mundo vive é complexa, e não é fácil definir com exactidão o momento em que terá principiado.
O problema, creio eu, é que mais do que uma crise económica, estamos a viver uma grave crise cristã, e por consequente, uma grave crise de valores.
Entenda-se por crise cristã, uma crise na transmissão de fé, e da sua anterior educação. Desde os primórdios, que a eficácia da evangelização adveio de uma iniciação cristã profunda, que era fecundada no seio familiar. Os pais eram, portanto, os principais responsáveis pela educação cristã: convidavam os seus filhos a viver, a amar e a celebrar a Fé voluntariamente. Não só por reconhecerem o amor de Deus, que nos amou e ama ainda agora “até ao fim”, mas também por se saberem chamados a viver este mesmo amor na sua totalidade, ao longo da nossa vida. O amor é possível, e nós somos capazes de o praticar, de o ter presente nas nossas acções, nas nossas palavras, porque fomos criados à sua imagem.
A grande questão é que somos humanos, e como tal falíveis, egoístas, vaidosos, e outras lindezas do género. Mas repare-se que Deus conhece-nos assim. A diferença está entre os que se arrependem e não se arrependem, nos que buscam e nos que não buscam, nos que amam desinteressadamente e nos que amam interesseiramente.
Os que se arrependem, buscam e amam desinteressadamente são os que encontrarão a luz, que os iluminará incessantemente. Repare-se que não podemos esperar por cristãos a priori beatos, temos que esperar por cristãos que perguntem, que queiram aprofundar a sua fé, pois as mentes perguntadoras são por norma as mais esclarecidas. Temos que viver numa acção catequética constante, que será permanente ao longo de toda a nossa vida. Esta acção chama-nos a evangelizar e a ser evangelizados. Sabemos, porém, que este é um caminho íngreme, vertiginoso, haverá sempre quem nos aponte o dedo, quem lance insinuações a nosso respeito, quem nos injurie. O desafio é não termos medo. Temos que ousar ser diferentes. Não somos comuns, não somos vulgares, e não podemos ter um tremendo medo de demonstrar a nossa essência cristã da qual somos dotados. Com efeito, é necessário construir uma fé fundamentada. É preciso, primeiramente, saber porque somos Cristãos, porque escolhemos viver com, por e para o seu amor. E segundo dar a conhecer aos outros as nossas razões. Firmes na fé, enraizados em Cristo. O mundo precisa de guias, precisa do testemunho da nossa vida. E as ovelhas perdidas precisam de ser escutadas, aceites pelo que são e não pelo que deveriam ser. Temos de promover esta missão pelo amor para que a partir de um projecto de grupo, em que todos são responsáveis por todos, nasça um projecto eclesial, individual e de enriquecimento da fé, em que cada um vive segundo a sua maturidade cristã.
Quando falo em “nós temos”, falo da catequese. E quem frequenta a catequese? Toda a comunidade! Todos temos que nos entregar e mergulhar numa comunidade que se ame, verdadeiramente, com uma vivência gozoza de fé. A catequese educa para a fidelidade, para a persistência, para a reconciliação, para a profissão de fé, para a Vida!
Ana Rita Serra Andrade