A Festa anual que agrupava toda uma comunidade, juntado os ausentes com os presentes, era sem sombra de dúvidas a Festa a Nossa Senhora do Amparo em Aldeia de Joanes no dia 15 de Agosto, que se prolongava por três dias.
Todos os emigrantes e imigrantes agendavam as suas férias de forma a coincidir com aquela data e assim confraternizavam com as famílias e com toda a população, participavam nas cerimónias religiosas e cumpriam as suas promessas. Os arraiais prolongavam-se pelas noites fora, arrematavam-se os tabuleiros recheados de pães, carne assada, cabrito recheado, bolos, e não faltava o pão-de-ló à moda de N. S. Amparo, disputados aguerridamente pelos forasteiros.
Pelo recinto dos Olivais, local das Festas e à sombra da pequena capela que abriga a Senhora do Amparo, passaram muitos artistas, houve, religiosidade, fraternidade, divertimento, alegria e boa gastronomia.
Chegaram a atuar duas bandas de música até de madrugada e algumas vezes só saiam quase à pancada porque havia grande disputa musical e não só, entre elas.
Numa Festa Anual que participei em Terras do Planalto do Ribacoa, o Pároco afirmava “ gostava de vos chamar a atenção para a importância destas Festas. Elas fazem parte integrante da cultura e identidade das nossas terras e gentes. Assim como precisamos do Bilhete de Identidade, estas Festas representam a identidade das nossas pessoas e das localidades.
Mais uma vez saímos à rua, ouvir as gentes de Aldeia de Joanes para se pronunciarem sobre esta Festa que nos últimos anos, não tem tido o brilhantismo, as repercussões, a mobilização e participação de anos anteriores e longínquos. As gentes do Fundão, na noite da véspera e do dia da Festa enchiam por completo o local dos Olivais. De há uns anos a esta parte, a Festa limita-se a uma simples e pobre cerimónia religiosa.
Seguem-se as respostas que recolhemos sobre esta temática:

Empregado da Camara Municipal do Fundão de 47 anos, “é uma Festa que tem uma raiz tradicional nas gentes de Aldeia de Joanes. Não se tem feito porque não há uma Comissão de Festas indigitada para esse efeito.”

Um Reformado Metalúrgico de 70 anos, “não se faz a Festa a Nossa Senhora do Amparo, porque acabaram os mecenas. Uma festa sem dinheiro não se faz. Esta Festa tem uma grande tradição em Aldeia de Joanes. Deixo uma sugestão, porque não se faz um convívio, um almoço, um jantar com a participação e colaboração de todos?”

Industrial de Eletricidade de 67 anos, “a concretização da Festa, passa pela nomeação de uma Comissão de Festas, liderada pelo Pároco. Nessa organização deviam participar todos os movimentos da Paróquia, Comissão Fabriqueira, Irmandade de S. Vicente e Almas, Agrupamento dos Escuteiros, Apostolado da Oração, Cáritas Paroquial, Grupo Coral. Com a mobilização de todas estas estruturas não acredito no insucesso. É preciso mobilizá-las.”

Ex-Catequista de 48 anos, “a Festa religiosa está muito bem como se vem fazendo, quando à parte civil não se realizar deve-se ao Pároco que quer gerir o dinheiro e as pessoas da Comissão de Festas é que trabalhavam.” Esclareci-o que a gestão duma Paroquia é da competência e responsabilidade do respetivo Pároco, que tem outros órgãos a apoiá-lo e as festas, tem normas eclesiásticas a cumprir.

Desempregado de 57 anos, “o problema de não se realizar a Festa de Nossa Senhora do Amparo em Aldeia de Joanes, tem várias vertentes, a falta de religiosidade do povo, de voluntariado, e de recursos financeiros. Os artistas querem muito dinheiro e estão mais que revistos, a oferta de muitas festividades nas zonas periféricas, patrocinadas por entidades públicas.”

Ex-Pároco de Aldeia de Joanes de 79 anos, ”há necessidade imperiosa de Aldeia de Joanes ter o bairrismo de outros tempos. O mal é residirem muitas pessoas que não se identificam, não vivem as tradições que estão enraizadas e são a alma deste povo maravilhoso e acolhedor de Aldeia de Joanes.”

Funcionária Publica Reformada de 64 anos, “não há pessoas que a queira fazer, não querem “dar o corpo ao manifesto”. Deixou de haver bairrismo, as festas dão muito trabalho e as pessoas que sentiam a tradição, o crer, o sentimento, a alma de Aldeia de Joanes, partiram e outras cansaram-se. A minha terra Aldeia de Joanes, que tanto amo, deixou de ser bairrista, como outrora eram os nossos conterrâneos. Tenho imensa pena que isto aconteça.”

Doméstica de 54 anos, “ em Aldeia de Joanes a partir de certa altura as pessoas deixaram de participar na Festas Anuais, porque aqueles que durante muitos anos as faziam cansaram-se, e a nossa Aldeia passou a ser um dormitório do Fundão de pessoas que não tem nem identidade nem bairrismo pela comunidade onde habitam e deviam sentir esse sentimento.”

Aposentado de 74 anos, “ infelizmente estas Festas tem tendência a acabar, porque as pessoas vivem para elas próprias e só pensam nelas. Quando já não se partilha uns bons dias nos prédios onde se habita, não se esperem convívios e alegrias de Festas Anuais.

Desempregada de 52 anos, “ falta de interesse e desleixo por parte da comunidade de Aldeia de Joanes. Os jovens com a ajuda dos mais velhos, deviam tomar a iniciativa de concretizar a Festa. Deixam morrer tudo.”

Uma empresária de restauração de 57 anos, “ não há pessoas que demostrem disponibilidade e se alguém mostrar essa vontade, vem logo os desmotivadores. Há pessoas que só sabem criticar, mas quando se lhes pede para chegarem à frente, recuam logo.
Apetece-me perguntar, parafraseando a fadista que está agora na grande moda que canta, “ porque é que a gente não se encontra…” A culpa numa palavra é de todos, alguns com mais responsabilidades que outros.

António Alves Fernandes
 Aldeia de Joanes
 Agosto/2013