A NOITE DO ANIVERSÁRIO

É no coração de Lisboa, na Colectividade “Os Amigos do Minho” (local de encontro, amizade e cultura, fundado em 1954, que urge defender contra as mãos gananciosas dos hoteleiros), que decorre o maravilhoso jantar de aniversário do meu filho Mário Tiago. Numa sala acolhedora, ilustrada com fotografias dos fundadores, encontram-se rapazes e raparigas das mais diversas idades e proveniências: beirões, minhotos, ribatejanos, algarvios, lisboetas…
Vejo também um sul-coreano a falar um português impecável (dizem-me que é o tradutor de Fernando Pessoa), uma rapariga chilena apaixonada pelo cinema português e até um realizador japonês que passa o jantar a sonhar com os próximos filmes. O meu irmão João e a minha irmã Fátima bem lhe atiram alguns guiões em papelinhos (o que daria para várias curtas-metragens), mas ele tem as suas próprias ideias.
Espreitando à janela, observo o largo do Intendente, onde os “apóstolos da noite” se dedicam à “evangelização”, acompanhados pelas Marias Madalenas. O Intendente é hoje um lugar agradável para passear, sem ter perdido a sua identidade boémia. “Limparam” as ruas mas a feira continua.
Antes de os simpáticos minhotos nos servirem a Ceia (boa e barata, o que começa a ser raro na capital), falo sobre a Guiné com o senhor Castro, que, venho a saber, irá contra-cenar comigo num filme chamado “Guerra” de José Oliveira.
Terras e nacionalidades à mesa comum, a Mãe do aniversariante pede a palavra, em jeito de acção de graças antes do delicioso e caseiro repasto: “Quero agradecer a vossa presença neste momento difícil para nós. Sempre considerámos os amigos dos nossos filhos como parte da nossa família. Muitos de vocês já estiveram na nossa quinta em Aldeia de Joanes, os outros serão sempre bem-vindos. Sei que têm ajudado o nosso filho Mário nas dificuldades e nos momentos menos bons, por tudo isso vos agradeço. Ele também nos tem dado muita força ao longo da nossa vida. É uma grande felicidade estar aqui com o meu marido”.
Segue-se um sorteio de dois exemplares do livro do Pai do aniversariante, “O NOSSO HOMEM”. As duas afortunadas na rifa foram as simpatiquíssimas Joana Pajuelo Alves, com raízes na Andaluzia (Barcarrota), e Sónia Sousa de Oliveira do Hospital. A Sónia fez questão de nos dirigir estas palavras: “D. Manuela e “Pai” Fernandes, tive a sorte de ser contemplada com o livro sorteado, que lerei com atenção e carinho. Gostava de vos desejar muita força e sorte nesta fase. Gosto muito de vocês e só tenho a agradecer o carinho com que sempre fui tratada na vossa quinta. Gostava que contassem comigo e de um dia poder retribuir a mesma atenção. Gosto muito do Mário, com quem criei bons alicerces desde muito cedo. Desejo-vos tudo de bom e muita saúde.“
À hora da Cinderela, o José Lopes abraça a guitarra, cantando baladas menos conhecidas de José Afonso, seu antigo companheiro e amigo, e um arrepiante “Ir e Vir”, dedicado à vida dura dos pescadores. A nossa amiga Marta, a voz mais afectiva que conheço, canta músicas da Beira Baixa, alguns temas em inglês e até um em grego. A emoção toma conta da sala. Oiço a voz do meu Anjo da Guarda nestes dias: “António, não te podes emocionar e já é tarde, a Saúde pede descanso”.
Desço as escadas da Colectividade, escoltado pelo Mário, a minha esposa, o José Lopes e a sua filha Inês. Uma bela guarda de honra. Despeço-me deles erguendo a bengala antes de partir pela Almirante Reis.

António Alves Fernandes
Aldeia de Joanes
Abril/2017

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