ALDEIA DE JOANES – LEMBRANÇAS POÉTICAS

A nossa poetisa nasceu em Aldeia de Joanes, no seio de uma família muito ligada à agricultura. O seu progenitor, Joaquim Francisco Xavier, era conhecido pelo nome de guerra “o Cardona”, grande negociante de bacelos, árvores de fruto e eucaliptos. Tinha para o efeito um grande viveiro.
Maria de Fátima Esteves Xavier Jerónimo viu a luz do dia numa quinta à beira da EN343, e mais tarde passou a viver na zona histórico-medieval de Aldeia de Joanes.
Casou e seguiu para terras francesas à procura de um futuro risonho, mas depressa regressou às suas origens. Aquele não era o seu mundo. Há cerca de quarenta anos fixou residência na vila histórica de S. Vicente da Beira.
A Fátima “Cardona” tem Aldeia de Joanes no coração. Durante muitos anos colaborou na sua aldeia natal, de uma forma ativa e cívica, em inúmeros eventos de caráter coletivo e comunitário.
Além das qualidades artesanais e musicais, atualmente é um membro fundamental do Rancho Folclórico Vicentino, da Vila de S. Vicente da Beira, ainda tem uma veia poética.
Na arte literária tem mutos artigos publicados no Jornal do Fundão e na sua poesia lembrou recentemente muitas figuras conterrâneas, que já não fazem parte dos vivos.

“Padre Manuel Joaquim Martins antes de ir para a eternidade/Convivia com os jovens/ Transmitia-lhes felicidade”.
“Manuel Bernardo de Campos, não era médico nem enfermeiro/Quando se estava doente/Era a ele que se ia primeiro”.
“Na Rua da Igreja morava Horácio Carpinteiro, que trabalhava a madeira/Por causa do seu feitio/ Não admitia brincadeira.
“Mais à frente trabalhava o ferreiro João Salvado/O Largo do Pau ficava ali ao lado”.
“Dr. Barbas homem de estimação/ Quem por ele passava/ Logo lhe estendia a mão”.
“O Talho do Joaquim de Almeida era à Sexta-Feira/ Só lá ia quem tinha carteira”.
“Quem precisava de dinheiro/ O Cardona procurava/Não dizia não/ A todos desenrascava”.
“Manuel Carlos era alfaiate/ Calças não havia a vender/ As primeiras que tive/ Teve que ele as fazer”.
“Álvaro Carriço barbeiro de profissão/ Cortava os cabelos com dedicação”.
“Homem de Aldeia de Joanes/ António Roxo muito lia/ Não tinha falta de literacia”.
“O “ Ferrenho” ia ao mato com um podão/ E trazia a enxada na mão”.
“O “ Coisitas” e a sua bicicleta/O que ela passava com a criançada/ Andava sempre de cara zangada”.
“Maria do Álvaro e Hermínia, cheia era a sua mão/Para os dias da matação”.
“Do “ Cardeal” pouco me estou a lembrar/Era uma figura típica/Mas dele pouco sei falar”.
“Na Mercearia do Garcia era a compra do dia”.
“Sebastião Ramos era o nosso sacristão/Não se esquecia de tocar o sino/ no Inverno e no Verão”.
“O “ Tó Miau” sapateiro de profissão/Vivia a fé cristã com grande paixão”.
“A “Tia Doninha” ao Salazar escrevia/E sempre resposta obtinha”.
“A Menina Estela/ a Igreja era só dela”.
“A Senhora Maria Rosa, dona do Forno/ Queria sempre uma poia como retorno”.
“A Esperancinha fazia vestidos para a menina/ E levavam bainha”.
“A D. Salomé era senhora muito fina, tinha sempre comprimidos de salicílica cafeína”.
“A Senhora Teresa que era costureira modesta/ Fazia os aventais para o dia da festa”.
“O Mártir São Sebastião/ Nosso Padroeiro/ Na sua Capela, casou D. Margarida Carneiro”.
“A Senhora Glória de Brito, mulher de muita devoção/Fazia as alpergatas/ Para irmos na procissão”.
“Nas ruas antigas da minha aldeia/ pouca gente anda/ Na zona nova, grandes prédios e muita varanda”.
“As fontes de mergulho/ são o nosso orgulho”.
“A nossa Igreja romana é austera/ É daquela era.”

Esta estórias de atividades profissionais, da ação cívica, social e religiosa destas gentes, faz parte da HISTÓRIA de Aldeia de Joanes, que nunca deverá ser esquecida.

António Alves Fernandes
Aldeia de Joanes
Julho/2016

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