Andava a gadanhar ervas para alimento das ovelhas com o pensamento num texto do Evangelho de S. Mateus, que ouvi na Eucaristia Vespertina do dia 9 de Dezembro. O Mestre disse aos seus Discípulos: “ que vos parece? Se um homem tiver cem ovelhas e uma delas se tresmalhar, não deixará as noventa e nove nos montes para ir procurar a que anda tresmalhada? E se a chegar a encontrar, em verdade vos digo que se alegra mais por ela do que pelas noventa e nove que não se tresmalharam.”
Um vizinho interpela-me: “Ó senhor Fernandes, sabe que faleceu o José Gonçalves Mendes? Ainda foi catequista do meu filho, que está a trabalhar em Castelo Branco como Engenheiro Agrónomo. O meu filho lembra-se bem dos ensinamentos que lhe transmitiu na Catequese de Aldeia de Joanes”.
Conheci o José Mendes muito antes de conhecer Aldeia de Joanes. Em 1968, na companhia do Pároco Manuel Joaquim Martins, foi-me visitar três vezes à Companhia Disciplinar de Penamacor, onde eu prestava serviço militar.
Nessa época já era um dos colaboradores da Comunidade de Aldeia de Joanes. Desempenhava a missão de catequista, que prolongou por diversos anos. Ainda há pouco tempo fizemos equipa no 6º Volume Catequético.
Enquanto irmão da centenária Irmandade de S. Vicente e Almas de Aldeia de Joanes, fez parte dos corpos sociais dessa Associação Pública de Fiéis, que goza de personalidade jurídica no foro canónico. Não se esquivava à presença, como determinam os regulamentos, nos funerais dos irmãos e nas celebrações das exéquias.
Também fez parte da equipa de Leitores da Paróquia e colaborou na realização de festividades de cariz religioso – Nossa Senhora do Amparo, S. Sebastião e S. Vicente. Foi um cristão dedicado e de compromissos.
Criado no seio de uma família simples de agricultores, o José Mendes trabalhou durante muitos anos como carpinteiro numa firma de construção civil. Na oficina de carpintaria aperfeiçoava as madeiras e aplanava as tábuas; na oficina da catequese, instruía os jovens sobre os evangelhos e convidava-os à Peregrinação da Fé.
No mês de Maio (o mês de Maria com a Igreja repleta), quando o Padre Manuel Joaquim Martins não podia estar presente, era ele quem dirigia a recitação do terço. Fazia-o com tanta perfeição e devoção que o apelidavam de “ Padre Zé”.
José Gonçalves Mendes foi, sem dúvida, uma mais-valia na criação de uma família cristã de caminhantes.
Nos tempos correntes, em que as peregrinações a Fátima foram substituídas por romagens ao Estabelecimento Prisional de Évora, onde um ilustre filósofo reclama toda a atenção e inocência (o caso lembra-me uma pergunta que um dia fiz a um recluso: “Além da inocência, o que é que o traz por cá?”), seria bom não esquecer os cidadãos anónimos que, voluntária e gratuitamente, prestam serviços à comunidade, e para quem a liberdade é às vezes a maior das prisões.
O José Gonçalves Mendes fez um percurso em benefício da Comunidade onde nasceu e cresceu, mas é fundamental afirmar que teve sempre junto dele, uma companheira, esposa, uma mulher generosa, compreensiva, tolerante e amiga. Uma heroína…
A morte de José Gonçalves Mendes veio cedo de mais. Não sei ao certo o que o conduziu a um alcoolismo desenfreado e auto-destrutivo. Só encontro a evidência de que todo o homem tem virtudes e fraquezas: “quem nunca pecou que atire a primeira pedra”.
Descansa em Paz José, meu amigo e companheiro. Continuarei a caminhada na Comunidade Pastoral de Aldeia de Joanes e não me esqueço de ti.

António Alves Fernandes
Aldeia de Joanes
Dezembro/2014

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