Numa tarde quente de domingo, num café local de Alpedrinha, enquanto esperava a hora das visitas ao Lar da Santa Casa da Misericórdia, deram-me conhecimento do falecimento de uma Professora de História da Escola Secundária do Fundão, natural desta histórica vila e que dentro de poucas horas se realizaria o funeral.

Descrevem as suas origens familiares e informam que a Dr.ª Maria José Matias Mendes Miranda é neta de uma grande figura de Alpedrinha – António Vaz Mendes -, salientando-se como Barbeiro e acumulando funções de “ dentista”. Portava uma inteligência invulgar, foi cantor na colegiada e mestre da filarmónica, para a qual compôs algumas peças musicais, e ainda trabalhou nos correios e foi ajudante de notário.

O pai José Vaz Mendes, além de ajudar a família, era um grande dinamizador e ensaiador de diversas peças de teatro, atividade cultural que ainda hoje está bem enraizada nas gentes de Alpedrinha.

Com a licenciatura em História, deu aulas durante dois anos em Évora, um ano em Alpedrinha e mais de vinte no Fundão. Era uma mestra com forte personalidade e autoridade, o que muitos não gostavam, porque o mais fácil, o deixar andar, dá mais comodidade e menos aborrecimentos.

Os alunos consideravam-na uma profissional competente, conhecedora das matérias escolares, humanista, conselheira e simples.

Realçam-me o trabalho voluntário e muito valioso como Presidente da Liga dos Amigos de Alpedrinha, Associação que em fins de Maio do corrente ano fez sessenta e três anos. Durante cerca de seis anos, organizou o Museu de Alpedrinha, com o apoio do saudoso Dr. João Costa, criando para todas as peças uma ficha individual, descritiva da sua origem e história. Com a sua sensibilidade feminina, colocava cada uma daquelas obras de arte em locais apropriados. Os visitantes ficavam encantados com aquele ex-libris de Alpedrinha.

Os meus interlocutores dizem, com mágoa, que Alpedrinha nunca reconheceu o valor cultural desta alpetriniense, nunca lhe prestou a devida justiça, foi totalmente esquecida.

Infelizmente é em Alpedrinha, e noutras freguesias, em que as pessoas, por ali não residirem, são ignoradas e esquecidas pelos iluminados com obrigações políticas, pastorais e sociais, desculpando-se com o chavão “ já ninguém os conhece “.

Merece referência a última homenagem de um grupo de professoras e professores que não se esqueceram da sua companheira de ensino. Elaborado um texto por todos, foi lido por uma sua colega, onde foram salientadas as suas qualidades humanas, pedagógicas, competência profissional e o espírito de amizade e camaradagem.

Também uma mãe, sua aluna de História, chorando a morte prematura da sua grande mestra e professora, entregou ao seu filho mais novo, uma mensagem de Fé e Esperança – o Poema de Santo Agostinho – “ A MORTE NÃO É NADA.”

Apetece-me citar as palavras de Almada Negreiros: “ há pessoas que, partindo, ficam dentro de nós e, por isso, não as deixamos e não nos deixam de todo; só acabam os que nunca fizeram nada de perdurável; só a banalidade é mortal.”

Uma Professora competente é o motor indispensável para uma sociedade mais culta e deixa sempre muitos testemunhos vivos, muitas recordações, muitos ensinamentos e muitas saudades nos alunos.

Quando morre uma professora, um país fica mais pobre, ou parafraseando Alexandre O´Neill, fica mais triste o país da tia e da aletria.

Depois de tanto sofrimento … desejo paz à sua alma.

António Alves Fernandes

Aldeia de Joanes

Julho/2013