ANTÓNIO DOS SANTOS – UM BISPO SIMPLES

Quando parte alguém que estimamos e respeitamos é um pouco de nós a partir. Assim acontece com D. António dos Santos, Bispo Emérito da Diocese da Guarda.

Nasceu a 14 de Abril de 1932, no Concelho de Vagos (Aveiro). Em 1 de Julho de 1956 foi ordenado sacerdote, em Albergaria-a-Velha. Durante vinte anos foi Pároco em diversas comunidades da Diocese de Aveiro.

Em 1976 foi ordenado Bispo Auxiliar de Aveiro e no dia 17 de Novembro de 1979 nomeado Bispo da Diocese da Guarda, cargo que desempenhou até resignar por problemas de saúde em Dezembro de 2005, sucedendo-lhe D. Manuel Felício.

Foram muitos os anos de convivência por motivos profissionais, a minha Esposa enquanto Directora e eu como Técnico de Educação do Estabelecimento Prisional da Covilhã.

A minha Esposa recorda o D. António, acompanhado pelo Padre Cartaxo, quando a visitou na Clínica dos Montes Claros em Coimbra, onde estava a recuperar da dor da morte de um filho. Ali transmitiu-lhe palavras generosas de confiança, de estima e de Fé.

Recorda o D. António, que muitas vezes se deslocava à Covilhã e lhe telefonava para o Estabelecimento Prisional, a fim de tomarem um chá no Café Arco Íris, junto às instalações prisionais.

Recorda as diversas visitas no Natal, na Páscoa, reservando esses dias, apesar de agenda sobrecarregada, para conviver com Funcionários e Reclusos. A minha Esposa tinha o cuidado de avisar todos os reclusos da visita episcopal e receber a lista dos que queriam falar pessoalmente, e a sós, com o D. António dos Santos, disponibilizando o seu Gabinete para esse efeito.

As visitas começavam com a Eucaristia na Capela do Estabelecimento Prisional, presidida pelo Senhor Bispo, coadjuvado pelos Assistentes Religiosos – Padre Rafael e Padre António Pereira. Os Cânticos estavam a cargo do Grupo Coral Nova Gente, ensaiado pelo Guarda Prisional José Pires, um grande musicólogo. Finda a Mesa da Eucaristia, seguia-se o almoço partilhado pelos Visitadores da Pastoral Prisional, Membros das Conferências Vicentinas, Funcionários e Reclusos. Por problemas gástricos de saúde, a ementa do D. António era peixe cozido. Dizia à minha Esposa: “a Senhora Directora nunca se esquece dos meus problemas de saúde.”

À tarde, além de atender os Reclusos inscritos para lhe falar, assistia à parte musical e recreativa, temas apresentados pelos Reclusos, Visitadores, Vicentinos e grupos da sociedade civil.

Um dia, alguém fará história para memória futura da acção social e humana das Conferências de S. Vicente de Paulo da Covilhã, desde os tempos da Cadeia Comarcã, no apoio e Reinserção Social dos Reclusos e Famílias. Tenho a destacar, entre muitos membros, o Senhor Mendes, dono de uma alfaiataria numa rua que se abre no Jardim de São Francisco na Covilhã. Um HOMEM incansável e sempre disponível.

O D. António também fez algumas visitas à Quinta de São Miguel, propriedade dos Serviços Prisionais, perto da Estação Ferroviária do Tortosendo, onde um número variável de reclusos em regime aberto trabalhava em actividades agropecuárias, frequentando cursos de formação profissional. Com esta visita, tinham oportunidade de conhecer e ouvir as palavras de estímulo do seu Pastor Diocesano e de lhe apresentarem os seus apelos.

A minha Esposa diversas vezes almoçou com o D. António e o Padre Cartaxo, refeições de trabalho no Ginjal, perto de Belmonte, onde analisavam e abordavam os problemas da Pastoral Prisional e da Reinserção Social dos Reclusos e Famílias.

Numa Eucaristia de Acção de Graças, na nossa Aldeia de Joanes, a minha Esposa, já Aposentada dos Serviços Prisionais da Covilhã, recorda a mensagem enviada pelo D. António, ausente por motivos de saúde, lida pelo Técnico de Educação e Professor Baptista. A Igreja foi pequena para albergar tanta gente amiga de várias localidades do país.

António Santos era um HOMEM virado para a prática da solidariedade e da caridade, repetindo muitas vezes que as suas Paróquias deviam dispor de um serviço de apoio e ajuda aos mais necessitados. Assim aconteceu em Aldeia de Joanes e em Aldeia Nova do Cabo (Fundão) com o total apoio do Padre Casimiro Mendes Serra, criando-se há dezassete anos um Núcleo Paroquial da Cáritas Diocesana.

Há dias, numa conversa com um sacerdote, quase com a idade de D. António Santos, recordámos este Bispo de qualidades humanas invulgares, de uma grande espiritualidade, generosidade, bondade e simplicidade.

O nosso último encontro foi em Fátima, onde me pediu para lhe enviar o meu livro “O NOSSO HOMEM.” Chegado ao Fundão, enviei-lho de imediato. Não demorou a escrever-me algumas palavras de agradecimento que muito me sensibilizaram.

Partiu um HOMEM, UM BISPO, simples no nome, simples nos seus sorrisos, afectos e espiritualidades.

Não podemos esquecer a sua presença na Diocese da Guarda e os ensinamentos transmitidos. PAZ À SUA ALMA.

António Alves Fernandes (em colaboração com Maria Manuela Bernardo Fernandes)

Aldeia de Joanes

Março/2018