Ascensão do Senhor

“Vós sois testemunhas disso”

 

            Os apóstolos são testemunhas do cumprimento da Escritura no que diz respeito ao mistério pascal de Jesus. Ao mesmo tempo, eles devem continuar o cumprimento da Escritura. Eles são testemunhas da paixão e ressurreição de Jesus, que acontecem segundo as Escrituras. Por sua vez, têm como missão anunciar em nome de Jesus o arrependimento e o perdão dos pecados, segundo a predição das mesmas Escrituras. Em Jerusalém, os apóstolos acompanham, ainda que de longe, a paixão e encontram-se, por diversas vezes, com Jesus ressuscitado. Depois, a começar por Jerusalém, devem pregar e testemunhar a todos que Jesus, vencendo o pecado com a sua morte e ressurreição, é o único Salvador da humanidade.

            Jesus não quer que os apóstolos se limitem a ser meros pregadores do seu Evangelho. Prefere e exige que sejam testemunhas. Testemunhas não só no sentido de transmitirem o que realmente ouviram e viram, mas também que as pessoas possam ver nas suas vidas a verdade do que anunciam. Não é fácil anunciar com verdade e testemunhar com convicção o mistério de Jesus e fazer que ele chegue a todas as nações, ao coração de cada homem. Isso vai muito para além do que é humanamente possível. Por isso mesmo, e uma vez mais, Jesus promete-lhes o Espírito Santo, “Aquele que foi prometido pelo Pai”. Só o Espírito Santo os tornará capazes de atingir a verdade de Jesus e fazer deles suas testemunhas credíveis.

            Com estas últimas considerações, em que, por um lado, evidencia o pleno cumprimento da Escritura e, por outro, o essencial da missão dos apóstolos, Jesus dá por concluída a sua missão na terra. Então, junto de Betânia, “foi elevado ao Céu”. Os apóstolos viram Jesus afastar-se deles e deixaram de O ver. Não se trata propriamente de uma surpresa. Na verdade, Jesus tinha-lhes dito previamente que Ele deveria regressar a casa do Pai a fim de aí preparar um lugar para eles. Mais, que era seu desejo que gozassem, um dia, juntamente com Ele, a glória eterna de Deus (Cf Jo 14,3). Entretanto, enquanto percorrem os caminhos deste mundo, faz parte da sua missão, falarem e darem testemunho da vida e dos bens que nos esperam no Céu.

            A Ascensão de Jesus, o deixar o modo de vida terrena, sujeito às limitações do espaço e do tempo, diz-nos que também nós estamos aqui de passagem, esta não é a nossa cidade definitiva. Mostra-nos que a meta da nossa existência, a praia do nosso repouso, o monte de todos os horizontes, o jardim de todos os sonhos, a verdadeira terra prometida é a pátria que está no Céu. Só o Céu de Deus responde e corresponde ao nosso desejo de viver sempre. Todo o tempo do mundo não é suficiente para satisfazer a nossa ânsia de eternidade. Além disso, só o amor de Deus responde e corresponde ao nosso desejo mais íntimo e radical de uma vida plenamente feliz. Com efeito, todos os amores deste mundo, mesmo os mais generosos e puros; todos os gozos desta vida, mesmo os mais legítimos e intensos, não bastam para descansar completamente o coração do homem. O homem pressente que só pode repousar feliz quando viver em Deus, quando descansar no seu coração.

            O Céu, o viver em Deus, o contemplá-l’O tal como Ele é constitui a meta final da vida. Quem efectivamente deseja chegar à meta não pode parar e permanecer inactivo a contemplá-la de longe. Deve percorrer o caminho com perseverança, procurando vencer, com coragem e determinação, os obstáculos que ele encerra. Se queremos chegar lá, onde Jesus já se encontra e nos espera, devemos viver, no nosso quotidiano, a nossa vocação e missão de baptizados, observando, em todas as circunstâncias, o que Ele nos ensinou.

            Lucas termina o relato dizendo-nos que os apóstolos regressam a Jerusalém com alegria e que, enquanto esperam a chegada da “força do alto, se entregam à oração, permanecendo longamente no templo. Importa sublinhar: a vinda do Espírito Santo é preparada e como que apressada por meio da oração! Só quem se abre ao dom de Deus pode acolher o dom maior que é o seu Espírito. De resto, Jesus garante que Deus concede sempre o Espírito Santo àqueles que lho pedem na oração (Cf Lc 11,13).