15 anos ao serviço da Diocese da Guarda
Cumprem-se hoje, dia dezasseis do mês de janeiro, 15 anos sobre a data em que dei entrada na Diocese da Guarda.
O Santo Padre São João Paulo II, atendendo ao difícil estado de saúde do senhor D. António dos Santos, enviou-me para a Guarda como Bispo coadjutor. Cheguei num dia excecional frio, como aconteceu com os dias dessa mesma semana que se lhe sucederam. Posso dizer que, durante toda essa semana, em que iniciei os contatos sobretudo com os sacerdotes, saí e entrei na Casa Episcopal sempre com temperaturas abaixo dos 4 graus negativos.
Mas posso dizer, em abono da verdade, que esse frio foi largamente compensado com o calor do acolhimento humano que senti vindo não só dos sacerdotes, mas também das pessoas em geral que fui encontrando.
Deixando de parte, o percurso da nossa Diocese, nas suas diferentes etapas, ao longo dos 14 anos anteriores, concentro-me nos eventos pastorais que ocorreram desde há um ano a esta parte e que reputo mais significativos, fazendo-o em clima de acção de graças e também de revisão pesssoal.
Assim, depois de termos realizado a nossa assembleia diocesana, em suas 3 sessões, no ano de 2017; depois de termos publicado, no ano de 2018, a carta pastoral “Guiados pelo Espírito, Igreja em renovação” que pretendeu apontar os grandes eixos da receção das 89 proposições aprovadas na referida assembleia diocesana; o ano de 2019 começou praticamente com a apresentação da proposta de reorganização pastoral da Diocese que a mesma assembleia Diocesana havia pedido.
A partir desta proposta, desencadeámos um largo processo de consulta a cada Pároco e seus mais diretos cooperadores, aos arciprestados, nomeadamente através do pronunciamento dos respetivos conselhos pastorais arciprestais, ao Conselho Presbiteral e ao Conselho Pastoral Diocesano.
Os resultados desse processo de consulta permitiram ao Bispo Diocesano elaborar uma proposta de Decreto sobre a constituição de novos arciprestados com sua redução de 15 para sete e também de nova orgânica.
Juntamos a estes dois assuntos os critérios de constituição das unidades pastorais, que progressivamente hão-de substituir as paróquias, assim como indicações sobre avaliação dos movimentos de apostolado que temos e outros que, experimentados já fora da nossa Diocese, podem vir a ajudar-nos na dinamização da pastoral diocesana.
Uma vez obtida a concordância do colégio de consultores, este decreto será publicado e iniciaremos a sua implementação.
Procurámos também, ao longo de todo o ano de 2019, até a celebração do especial outubro missionário proposto pelo Papa Francisco e dentro do espírito da nota pastoral da conferência Episcopal Portuguesa com título “Todos, tudo e sempre em missão”, levar, de várias formas, aos fiéis e às comunidades da Diocese a preocupação por fortalecer a responsabilidade missionária que é transversal a todos os batizados e, por esse facto, todos somos discípulos missionários. Trouxemos ao contacto com as nossas comunidades alguns sacerdotes de Institutos Missionários, nomeadamente da Congregação da Missão e dos missionários da Consolata. Foi nosso propósito, por um lado, apelarmos à boa tradição das nossas comunidades cristãs e da Diocese como tal, de onde partiram muitos missionários e missionárias que, ligadas sobretudo a congregações religiosas com esse carisma, continuam ainda hoje distribuídos por várias partes do mundo, sobretudo nos espaços de língua oficial portuguesa. Chegámos apensar em fazer um levantamento de todos e de cada um destes missionários e missionárias, ao longo do especial ano missionário em Portugal, declarado pela Conferência Episcopal Portuguesa, mas este desígnio não foi cumprido. Dentro deste espírito, o resultado da nossa renúncia quaresmal foi destinado a iniciativas de formação missionária.
Dentro da preocupação por começar a aplicar as orientações da nossa assembleia diocesana consubstanciadas nas suas 89 proposições, fizemos esforços por motivar um programa de pastoral de cidade nos dois centros urbanos com mais visibilidade, dentro do contexto da nossa Diocese. Referimo-nos à cidade da Guarda e da Covilhã. É um esforço que está tão só iniciado e que temos de continuar nos próximos tempos, pois sabemos que tanto a mobilidade como o estilo de vida urbana marcam grandemente a vida das pessoas em geral, mesmo aquelas que residem em espaços rurais; as quais vivendo permanentemente nos centros urbanos ou para eles se deslocando por razões de trabalho e outras, precisam de propostas pastorais consistentes e onde se verifique a boa articulação de programas e agentes pastorais, a começar pela melhor colaboração dos sacerdotes, entre si com os diáconos e outros ministérios laicais.
Comecei o ano de 2019 integrando o grupo de Bispos que, em nome da nossa Conferência Episcopal Portuguesa, participaram nas Jornadas Mundiais da juventude, realizadas no Panamá.
Encarregaram-me de conduzir uma catequese para o grupo de jovens portugueses e também brasileiros ali presente – os portugueses eram em número de 300. Como sempre acontece em eventos como este, a presença do Papa é sempre a grande motivação e foi o que desta vez também aconteceu. A receção à sua chegada feita com enorme entusiasmo, a vigília de oração e sobretudo a grande celebração Eucarística com que as Jornadas terminaram foram os momentos marcantes, assim como também o foram as mensagens que, com o seu estilo muito próprio, interpelaram aquele meio milhão de jovens que estiveram presentes nestes atos.
Para nós portugueses foi especialmente significativo e de grande entusiasmo aquele momento final em que o Papa Francisco anunciou que a próxima jornada Mundial da Juventude se vai realizar em Portugal, no ano de 2022.
Esse anúncio também está a marcar a nossa pastoral diocesana, sobretudo em dois aspetos – um deles é o programa catequético de preparação dos atuais adolescentes que serão jovens em 2022 para participarem nas jornadas e referimo-nos ao programa chamado “Sayes”; outros deles foi o tema que escolhemos para o nosso programa pastoral de 3 anos, iniciados em outubro passado e centrados nos jovens e na família.
Preocuparam-nos ao longo deste ano, com as nossas IPSS de inspiração cristã. Procurámos através de várias iniciativas fazer visitas a estas instituições e estabelecer contactos quer com os serviços diretamente quer com as respetivas direções e pessoal técnico com dois objetivos principalmente. Um deles foi relembrarmos-lhe critérios de caridade cristã que devem inspirar a vida destas instituições em todas as suas vertentes; a outra, foi darmos a conhecer iniciativas que precisam de ser constantemente tomadas junto da tutela da Segurança Social para garantir a sua sustentabilidade. Não chegámos ainda a todas estas nessas instituições, mas continuaremos empenhados nesse propósito.
Desejo agora registar alguns acontecimentos mais marcantes ocorridos ao longo do ano de 2019.
Um deles foi a Ordenação para o nosso Presbitério de mais um sacerdote, o Padre Daniel e mais 4 diáconos permanentes.
Saudámos o novo cardeal Português, Sua Eminência D. José Tolentino Mendonça nomeado pelo Santo Padre o Papa Francisco e também a vinda do novo Núncio Apostólico par Portugal, Sua Ex.cia Reverendíssima D. Ivo Scapolo.
Assinalámos, em júbilo, com celebração da Eucaristia na nossa Sé, a atribuição do nome do nosso conterrâneo, o Cardeal D. José Saraiva Martins a uma avenida da nossa cidade.
Celebrámos com grande expressão, na cidade de Seia, a efeméride dos 175 anos do movimento do apostolado da Oração, tendo em conta que, na nossa Diocese, são várias as paróquias onde este movimento tem presença centenária.
Participei, em nome da Conferência Episcopal, numa Escola de Verão organizada pela Conferência das Igrejas da Europa, em Lisboa, subordinada ao tema – os direitos humanos, resposta ao populismo. A conferência das Igreja da Europa é uma organização que reúne Igrejas cristãs de Tradição Protestante e com a qual a Igreja católica mantém relações de diálogo regulares.
Esta nossa Sé recebeu em 10 de dezembro passado o evento mundial da celebração dos 71 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. E por esse motivo foi-lhe atribuído o título honroso de “Lugar de Paz, Fé e Cultura” assinalado também por um diploma que nessa mesma data lhe foi entregue. Foram entidades organizadoras, deste evento, além desta diocese da guarda, a Câmara Mundial, a Direção Regional da Cultura do Centro e o Observatório Internacional dos Direitos Humanos.
Esta nossa Sé recebeu, em 10 de dezembro passado, o evento mundial da celebração dos 71 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. E, por esse motivo, foi-lhe atribuído o título honroso de “Lugar de Paz, Fé e Cultura”, assinalado também por um diploma que nessa mesma data lhe foi entregue.
A terminar quero dizer e sublinhar que o mais importante do trabalho realizado ao longo do último ano em favor da nossa vida diocesana esteve certamente para além das preocupações e dos eventos aqui enunciados.
Esses foram os contactos silenciosos com sacerdotes, diáconos, leigos e serviços diocesanos. Foram as presenças na vida das distintas comunidades seja para celebrar eventos próprios de maior significado, seja para participar na normalidade da sua vida regular, umas vezes a convite das mesmas e outras vezes por sugestão minha; seja a procura das melhores decisões atinentes à vida das variadíssimas instituições que a Diocese tutela; foram as variadíssimas presenças, sempre bem apreciadas, em inicitaivas organizadas pela sociedade civil; como foram ainda e também as muitas iniciativas de formação e de oração das quais decisivamente dependem os resultados da nossa acção quer a voltada para o interior da Igreja e suas instituições quer aquela que as circunstâncias da sociedade envolvente nos exigem.
Dou graças pelo muito bem que se fez ao longo deste ano como também me penitencio pelo erros cometidos e pelo bem que, sendo devido, não chegou a ser realizado.
Em tudo Deus seja louvado e as nossas atividades sejam acompanhadas pela proteção maternal de Maria Santíssima, a Senhora da Assunção, padroeira da Sé e da cidade da Guarda.
16.1.2020
+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda