Mensagem de Natal 2013

Vamos viver, de novo, neste Natal a maravilha de Deus que se fez um de nós no Menino de Belém, nascido fora da cidade, por não haver lugar para ele numa casa normal. Deus não podia ter encontrado melhor maneira de mostrar que quer estar próximo de todos, a começar por aqueles que como ele são excluídos da cidade.Este Natal convida-nos, por isso, a reforçar a proximidade com todos, a começar pelos que mais precisam, sobretudo porque lhes falta trabalho.

De facto, são muitos os que entre nós não têm trabalho. Outros têm trabalho, mas precário, ou seja trabalho a prazo, ou em risco de acabar por insustentabilidade das empresas ou ainda porque não lhes garante um salário justo que permita a sustentação dos próprio e das suas famílias. E os jovens, mesmo com diplomas de ensino superior e universitário, são os mais atingidos, o que os obriga, muitas vezes a decidirem-se pelo caminho da emigração, com prejuízo para todos nós.

O trabalho, é sem dúvida, um direito fundamental. E do trabalho espera-se que ele seja realizador de riqueza, traduzida ou não em dinheiro; mas espera-se sobretudo que ele seja caminho de realização pessoal para quem trabalha. É principalmente por esta última razão que o Papa Francisco insiste em que precisamos de voltar a colocar no centro a pessoa humana e o trabalho. Se, pelo contrário continuarmos a ceder à tentação de deixar que o dinheiro tenha a primazia, entramos por caminhos que levam á exclusão e à desigualdade. E quando permitimos que o dinheiro, em vez de servir esteja a governar, continua ele, o ser humano passa a ser considerado como mais um bem de consumo que se pode usar e depois deitar fora. Por isso, é bom não esquecer que na base da actual crise financeira está uma crise antropológica profunda, que é a negação da primazia e centralidade do ser humano relativamente a todos os processos de organização da sociedade, a começar pela organização do trabalho.

Grande dificuldade é que muitas empresas que deviam garantir aos cidadãos o direito fundamental ao trabalho com justa remuneração passam por grandes dificuldades, que são ainda maiores na nossa região. Precisamos que sejam criadas as condições necessárias para que as empresas que temos se mantenham e outras venham preencher vazios que a todos nos preocupam. Entre essas condições estão por um lado o financiamento e por outro a responsabilização tanto de empregadores como de trabalhadores, o que obriga a pôr em prática uma cultura de justiça, onde os trabalhadores dão a máxima colaboração para serem atingidos os resultados desejáveis e os empregadores pagam, a tempo, os salários justos a quem trabalha. Quanto ao financiamento há a promessa de que o próximo quadro comunitário será predominantemente direcionado para a recapitalização das empresas existentes e a criação de outras. Esperamos que a promessa seja cumprida e que se atenda às necessidades acrescidas da nossa região que tem sido muito desprezada. Aqui os responsáveis pela nossa governação local têm importante palavra a dizer, incluindo sobre discriminação justa em matéria de impostos.

Sabendo nós que a situação difícil de desemprego não vai acabar tão depressa quanto desejávamos, precisamos de ser criativos e procurar soluções que permitam às pessoas ter de imediato os recursos indispensáveis para viver. Há, felizmente entre nós algumas iniciativas de trabalho cooperativo e de actividades tradicionais que, quando devidamente organizadas, podem dar resposta às necessidades das pessoas. E para as apoiar também há alguns instrumentos que é preciso conhecer e ter a coragem de aplicar, como por exemplo o microcrédito e outras linhas de financiamento com finalidades específicas.

Precisamos de ajudar as pessoas a utilizar estes meios, dando-lhos a conhecer e pondo à sua disposição quem as possa acompanhar e monitorizar nas suas iniciativas.

 Finalmente é de justiça reconhecer que a instituição familiar, sobretudo nos nossos meios constitui almofada de grande importância para ajudar a superar as dificuldades momentâneas e outras mais duradouras. Neste Natal prestamos homenagem às nossas famílias. Elas são, de facto, o santuário da vida e do amor, são as primeiras e as mais autênticas escolas do verdadeiro humanismo. Com a complementaridade de homem e mulher, do pai e da mãe e com os afectos, elas são o ambiente indispensável e o caminho seguro para fazer crescer as pessoas na vida.

É, por isso, legítimo pedir a quem governa e também aos legisladores que não criem dificuldades à vida das famílias, mas, pelo contrário, lhes dêem os meios indispensáveis para desempenharem bem funções essenciais que nenhuma sociedade pode dispensar.

Feliz Natal para todos e suas famílias.

Guarda e Paço Episcopal, 16 de Dezembro de 2013

+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda

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