Oito anos de Ministério Episcopal na Diocese da Guarda

Um balanço pastoral diante dos diocesanos

Cumpro hoje, dia 16 do corrente mês de Janeiro, oito anos de ministério episcopal ao serviço da Diocese da Guarda. De facto, em 21 de Dezembro de 2004, o então Papa e agora beato João Paulo II nomeou-me Bispo Coadjutor da Diocese da Guarda, no impedimento do Sr. D. António dos Santos, por razões de falta de saúde. Entrei na nossa Diocese no dia 16 de Janeiro de 2005, um dia muito frio, mas compensado pelo ca­lo­roso acolhimento que a Dio­cese fazia àquele que o Senhor lhe enviava. Compreendi o entusiasmo desta recepção inicial, quando encontrei posteriormente, entusiasmo  semelhante nas visitas pastorais que, desde então, fiz a cada uma das mais de 365 paróquias da nossa Diocese. E é principalmente um primeiro balanço das visitas pastorais rea­li­zadas a cada uma das nossas paróqui­as, ao longo de seis anos, de 2006 a 2012, que desejo fazer, aproveitando para isso esta data.  De facto, foram seis anos de contacto intenso com os párocos, as instituições paroquiais e outras da sociedade civil, através de toda a Diocese. Estive em cada uma das paróquias em dois dias diferentes – num dia de semana, para contacto com pessoas e instituições na máxima proximidade e na realidade da sua vida diária; ao domingo, para celebrar e dar orientações  que inventariante fica­ram registadas por escrito, lidas na assem­bleia dominical e com recomendação de serem transcritas em livro pró­prio. Destaco os seguintes pontos resultado destes contactos.

 

1. Importância dos cooperadores pastorais de cada pároco.

Encontrei-me com todos os grupos de cooperadores pastorais existentes em cada paróquia. E nestes encontros nunca tive a presença de menos de dez ele­mentos, mas, na esmagadora maioria deles, estiveram presentes dezenas. Se multiplicarmos o número de paróquias da Diocese por dezena e meia, en­con­traremos um número de cooperadores pastorais que ronda os 6 mil. A partir daqui, fico convencido de que a maior parte do nosso tempo, sobretudo de padres e diáconos, tem de ser gasto com a formação e o acom­­panhamento des­tes cooperadores pastorais, nos quais reside o gran­de potencial de crescimento na Fé das nossas comunidades. O esforço que queremos fazer de relançar a recepção do Concílio Vaticano II nas nossas comunidades tem de passar, em gran­de medida, por eles. Por isso, é minha intenção encontrar-me, de novo, com os cooperadores pastorais de cada pároco, dentro do programa de cada uma das jornadas arciprestais, em ano da Fé, que estão já calenda­rizadas.

 

 

 

2. A catequese e a formação na Fé.

Quanto á catequese da infância e adolescência, verifiquei que são muitas as pa­róquias que têm reduzido número de crianças e adolescentes e que, por isso, es­tão impossibilitadas de cumprir sozinhas este serviço que é es­sen­cial. Esta realidade que é nova, como nova é a diminuição de cri­anças que le­vou a fechar muitas das antigas escolas primárias, por deci­são superior e geralmente uni­lateral do governo, obriga-nos a mentalizar as paróquias e as famílias para a co­operação entre si e assim podermos vir a criar cen­tros de catequese em lugares estratégicos para servirem várias paróquias. Esta tem de ser mais uma das nos­sas prioridade pastorais, nos próximos anos. E já não partimos de zero, neste esforço, pois temos alguns bons exem­plos de catequese a partir do arci­pres­tado. Quanto á formação de adultos na Fé, senti que temos de continuar a fazer esforço para a con­solidar, através dos grupos bíblicos constituídos e ou­tros a que venham a criar-se. A passagem dos missionários pelas paróquias, a reconvocar para o encontro com a Pa­lavra de Deus, de modo geral, foi um apelo sentido pelas pessoas que agora temos de continuar.

 

3.Celebrações dominicais

Constatei que as celebrações dominicais são muito apreciadas pelas comu­ni­dades, incluindo muitas que não são sede de paróquia. Mas também cons­­­tatei que vamos ter necessidade de as redistribuir melhor pelo con­jun­to das pa­ró­quias confiadas ao mesmo pároco e também em espaços mais alar­gados, como são os arciprestados. Apesar de algum sacrifício que te­mos de pedir às pessoas, é nossa obrigação de sacerdotes e  diáconos pro­mover maior e melhor coo­pera­ção entre paróquias e paroquianos, tam­­bém na celebração da Fé, sobretudo ao domingo. E isto torna-se ne­cessário não só pela falta de sacerdotes, mas também pela di­minuição da população. A Eucaristia domi­nical tem de ser, acima de tudo, uma cele­bra­ção festiva, o que exige também pes­soas em número sufici­ente. Venho das visitas pastorais com a convicção re­­for­çada de que pre­cisamos de conti­nu­ar  a trabalhar para fazer o ajustamento das celebrações dominicais e dos centros de catequese, começando por cada con­junto de paróquias confia­das ao mesmo pároco e com critérios autorizados pelo Bispo.

 

4. Ministros extraordinários da Comunhão e serviços da caridade

Constatei que os Ministros Extraordinários da Comunhão constituem uma realidade notável na nossa Diocese e com boa tradição. Em cada paróquia procurei deixar sempre a mensagem de que os Ministros Extraordinários da Comunhão precisam de ser completados por um grupo de Visitadores dos doentes e idosos. A função destes grupos de visitadores de doentes e ido­sos será fazer visitas regulares aos que se encontram nestes circuns­tâncias, seja em suas casas seja nos lares e também  estarem atentos às necessi­dades materiais que possam existir. Esta será a forma de, nos pró­ximos tempos, estendermos a caridade organizada a todas as paróquias.

 

5. As Comissões fabriqueiras e administração das paróquias

Poucas foram as paróquias que encontrei sem as chamadas comissões da Fábrica da Igreja, que a lei canónica chama conselhos paroquiais para os assuntos económicos. Elas são uma realidade importante nas nossas paróquias e percebi que, em geral, são capazes de compreender a le­gis­lação da Igreja sobre administração paroquial; e pareceram-me interessa­das em receber formação nesse sentido.

Notei que persistem dificuldades, quando se pretende fazer a articulação delas com as mordomias das festas e com as comissões das capelas, mas as orientações que lembrei tiradas da nossa legislação diocesana sobre administração paroquial parecem ter sido compreendidas. Também senti que este é um trabalho persistente que nunca chega ao fim.

 

6. Movimentos e obras de apostolado

Notei algum vazio de movimentos e obras de apostolado nas nossas paróquias, nomeadamente aqueles movimentos que lhes deram muita vida há anos atrás, como sejam os cursilhos de cristandade e a acção cató­lica. Também não senti toda a desejável presença dos serviços de apoio às famílias, como são as equipas de casais, embora o serviço de Preparação para o Matrimónio (CPM) apareça como um dado adquirido.

Notei sinais de muita presença da associação do Apostolado da Oração nas nossas Paróquias, embora mais enfraquecida do que há décadas atrás, segundo a apreciação dos associa­dos que estiveram presentes nestas reuniões. Senti que este é um movimento que merece a nossa atenção, pois ele ainda está presente em quase todas as paróquias e constitui uma forma muito simples de alimentar a Fé das pessoas, sobretudo com o ofere­cimento das obras do dia e a confissão e comunhão reparadoras mensais. Eu fui lembrando que esta confissão e comunhão  reparadoras mensais po­dem não ser exatamente na primeira sexta-feira.

Também constatei a profunda ligação das nossas Paróquias e Diocese a Nossa Senhora de Fátima, com forte tradição nas peregrinações a Fátima.

Recordei o movimento “Mensagem de Fátima” e também o dos rosaris­tas, com bastante representação em algumas zonas da nossa Diocese e apelei à melhor preparação do centenário das aparições.

 

7. Quanto ao sacramento do Crisma, sublinhei que a sua celebração deve ser predominantemente no arciprestado ou pelo menos, para já, no conjunto do grupo de Paróquias confiadas ao mesmo Pároco. Precisa de ter – e eu lembrei-o  – momentos de preparação supra-paroquiais, como, por exemplo, retiros, que era bom terem calendarização e participação arciprestais.  E continuando por este caminho, iremos prepa­ran­do o acompanhamento dos jovens como um serviço espe­cífico de pastoral juvenil no âmbito do arciprestado, o que foi recomendado na última toma­da de posse dos arciprestes.

 

 

8.  Testemunho da comunhão sacerdotal

Finalmente venho destas visitas pastorais com a convicção reforçada de que o padres do mesmo arciprestado têm de dar testemunho de unidade e comunhão cada vez mais visível. Os fiéis deviam sentir que nós padres, a nível de arciprestado, funcionamos como sendo uma verdadeira equipa, sintonizados nos programas e nas práticas pastorais,  mesmo sabendo que devemos continuar a dar atenção às diferenças.

Venho convencido de que precisamos de  mostrar, na nossa acção de sacer­dotes e na maneira como colaboramos entre nós,  que os arcipres­tados serão as paróquias do futuro, futuro esse que já começou. E aqui lembro as orientações dadas aos arciprestes no acto da sua recente tomada de posse, em que se elencou um conjunto de serviços arciprestais que precisamos de organizar para apoiar a vida das paróquias.

 

Olhando em frente, depois desta experiência de contacto com a base, através das visitas pastorais, vejo que os próximos três/quatro anos têm de ter para todos nós a grande prioridade de relançar a recepção do Concílio Vaticano II, na nossa diocese e nas suas paróquias. De facto, se formos capazes  de assumir com coragem o modelo de Igreja que o Concílio propõe, daremos importante passo para assegurar o futuro das nossas comunidades, sobretudo procurando promover a comunhão de mi­nistérios ao serviço da comunhão da Igreja. O desejo expresso em assembleia geral do Clero para que se realize também uma assembleia de representantes de todo o povo de Deus presente na nossa Diocese vai funcionar como motivação para este trabalho de levar às comunidades o  autêntico espírito do Concílio. E vemos aqui já a intuição fundamental do nosso programa pastoral para os próximos 3 ou 4  anos.

 

Olhando, agora, para o ano de 2012, dou graças a Deus pela Ordenação Episcopal do Reverendo D. António Manuel Moiteiro Ramos, na nossa Catedral, em Agosto; regozijo-me com a abertura do ano jubilar do servo de Deus D. João de Oliveira Matos, que se prolonga até Agosto próximo e coloco muita esperança na vivência do ano da Fé por todos os nossos fiéis e pelas nossas comunidades cristãs e  não ape­nas pelo que se espera das jornadas arciprestais da Fé que nos vão ocupar até Junho próximo. Quero relevar o facto de a nossa Diocese, através da Liga dos Servos de Jesus, passar a marcar presença em Angola, com o funcionamento de uma escola preparada para receber 500 alunos e uma comunidade de irmãs. A inauguração foi em Abril passado e prevemos que o seu pleno funcionamento esteja garantido a partir do próximo mês de Fevereiro.

Que a bênção de Deus nos acompanhe nestas e noutras preocupações pastorais.

 

Guarda e Paço Episcopal, 16 de Janeiro de 2013

Manuel R. Felício, Bispo da Guarda

 

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