BRASIL EM NÓS
Através do “Jornal do Fundão” tomei conhecimento do lançamento do Livro “BRASIL EM MIM” de Fernando Paulouro Neves, prémio Eduardo Lourenço e ex-director do histórico jornal de resistência, que apresentou a sua mais recente obra no Teatro das Beiras na Covilhã. Por “coisas” de saúde não me foi possível estar presente como tanto gostaria.
A apresentação desta obra literária – cuja agradável leitura iniciei há pouco – foi entregue ao Missionário do Verbo Divino, José Cortes, que há dois anos foi agraciado com a Medalha de Mérito Municipal do Fundão, recebida pelo seu sobrinho de Janeiro de Cima (por motivos pastorais não foi possível fazer a viagem atlântica).
As vivências de Fernando Paulouro no Brasil, sempre de olhar atento à realidade e de prosa inspiradora, são as raízes deste belo Livro, que me traz à lembrança outros portugueses no Brasil como Ferreira de Castro, Jorge de Sena, Padre António Vieira.
Há alguns anos dediquei um artigo ao Padre José Cortes, que tive a felicidade de conhecer durante a rodagem do filme “OESTE PERDIDO”, num café (hoje fechado) diante da Igreja de Janeiro de Cima, onde a equipa cinematográfica se reunia muitas vezes para falar das próximas cenas ou de política. Como “animal social” apanhei logo a Barca de Janeiro de Cima para a Amazónia, levado por este “Barqueiro” de grande conhecimento, simplicidade e humanidade, do Rio Zêzere para o Rio Amazonas.
Este Padre tem uma accção ímpar na defesa dos habitantes naturais, tendo lutado muito para que a lei brasileira reconhecesse o território e os costumes dos Índios da Amazónia, assim como os seus Direitos essenciais enquanto Povo. É alguém que deu voz aos que a não tinham, mantendo o empenho contra a destruição de um dos maiores “pulmões da terra” e defendendo o Homem concreto no centro do mundo ou no labirinto da Amazónia. Por isso o Livro de Fernando Paulouro, a quem felicito, só poderia ser apresentado por José Cortes.
Para terminar um pequeno excerto para convidar os leitores à descoberta deste Brasil em Nós: “uma identidade feita de muitas cores, muitos saberes ancestrais e modernos, de miscigenação de povos, de muitos falares e de muitos discursos de floresta infinita, de cidades-metrópole e de lugares inóspitos, perdidos em veredas do grande sertão, de rios que são mares inteiros ou de mares exteriores que são caminhos marítimos em busca de mundos planetários.”
António Alves Fernandes
Aldeia de Joanes
Dezembro/2017