Castelo Branco – Centenário da primeira grande guerra.

À semelhança de todas as capitais de distrito, Castelo Branco não foi exceção na participação das cerimónias comemorativas do Centenário da Primeira Grande Guerra.

O Núcleo da Liga dos Combatentes, juntamente com outras entidades, não poupou esforços para que decorressem com a maior dignidade possível. Este ano neste ato, foi também incluído o XVIII Encontro dos Antigos Militares dos Quartéis de Castelo Branco.

As cerimónias iniciaram com a presença de elementos dos três Ramos das Forças Armadas, junto ao Monumento dos Combatente, uma obra-prima de cantaria, construída em 1926 por iniciativa da Liga. Homenagearam-se os militares mortos ao serviço da Pátria. Foram recordados, descerrada uma lápide, depositaram-se flores e fez-se uma prece.

Foi lida uma mensagem do Presidente da Liga dos Combatentes, da qual retiro estas passagens: “primeira guerra mundial, primeira república, liga dos combatentes, trilogia que ainda marca hoje o século XX português.” Do seu texto, sintetiza-se que hoje a Liga está na primeira linha na defesa dos Combatentes do Ultramar Português e não abdica da promoção dos valores da solidariedade e da permanente defesa dos direitos e deveres do combatente português.

O ponto alto destas comemorações, em que participaram mais de duzentas pessoas, estava reservado para o auditório da Biblioteca Municipal Albicastrense – a apresentação do livro “ OS PORTUGUESES NA GRANDE GUERRA – BATALHÃO DE INFANTARIA 21 – O BATALHÃO DOS BEIRÕES”, da autoria do Tenente Coronel António Lopes Pires Nunes, “obra dedicada a todos os Combatentes da Grande Guerra, em especial os naturais do Distrito de Castelo Branco”.

Numa linguagem que todos entenderam, Pires Nunes relatou o assassinato de Arquiduque Francisco Fernando e sua mulher, sobrinho do Imperador Austríaco e herdeiro do Império Austro-Húngaro em Serajevo, capital da Bósnia, em 28 de Junho de 1914, por parte de um estudante sérvio, membro de uma organização que lutava pela libertação da Servia à Bósnia- Herzegovina, o que desencadeou alianças e ameaças, que conduziram à Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

Um Portugal com crises políticas, sociais, económicas, rural e analfabeto foi obrigado a mobilizar forças expedicionárias para Angola e Moçambique contra os alemães, que custaram perto de seis mil mortos.

Neste quadro social e político, foi criado a nível nacional o Corpo Expedicionário Português, sem preparação militar adaptada à guerra de trincheiras da Flandres, sem fardamento, sem calçado, sem armas apropriadas. Foi necessário a Inglaterra vestir e calçar os nossos militares. As tropas expedicionárias, vindas de diversas unidades do País, concentraram-se em Tancos e dão uma imagem miserabilíssima, em barracas de pau e de lona, com total desprezo do poder político.

Da Beira Baixa, forma-se o Batalhão dos Beirões, que incluía militares do Regimento de Infantaria 21, da Covilhã, de Castelo Branco e Penamacor.

Neste Batalhão, partia o Bismulense Manuel Martins Salgueira, soldado do Regimento de Cavalaria de Castelo Branco e possivelmente acompanhado com os seus conterrâneos Luís Ramos e Manuel Bernardo, que felizmente todos regressaram à sua terra natal, Bismula (Sabugal). Antes já tinha partido para Angola (Sá da Bandeira), hoje Lubango e junto à fronteira da Namíbia defendeu Portugal da ambição alemã. O Jornal O Público, durante os meses de Agosto e Setembro publicou crónicas sobre estes acontecimentos militares, sobe o tema “ Memórias de Família” e dedicou uma página com direito a fotografia, com o título, “ um pé ferido salvou-o do massacre de Cuangar”. 

Partem por via marítima, atendendo à neutralidade de Espanha, em barcos ingleses em condições de promiscuidade entre homens e animais, sem os mínimos de higiene. Falta o transporte inglês e em processos confusos e tumultuosos os militares portugueses demoraram mais de um ano para chegar ao palco da guerra.

Chegados às trincheiras em França não tinham meios que lhe permitissem os mínimos de asseio, de agasalho, de alimentação, muito foram abandonados pelo governo de Lisboa.

O Tenente Coronel faz uma resenha das linhas de defesa, terra de ninguém, linha A, B, C e linha das Aldeias, muito bem documentadas no livro. Há uma boa abordagem ao serviço religioso com o envio de trinta capelães, do Soldado Milhões e utilização de material químico, submarinos, força aérea ainda precária e o uso de tanques e os serviços de censura, em que os soldados não podiam dar notícias sobre o mais pequena informação de índole militar.

Para apoiar as famílias dos militares, envio de encomendas, apoio aos órfãos, às vítimas e outras atividades humanistas e de solidariedade, foi criada no Norte do País a Junta Patriótica.

No átrio da Biblioteca Municipal de Castelo Branco apresentada ao público, há uma exposição de painéis descritivos de diversas fases da Primeira Grande Guerra e artigos pessoais de militares, que serão removidos para observação e estudo nas Escolas Secundárias Albicastrenses.

A Liga dos Combatentes, com a morte do último Combatente da Grande Guerra, fechou um ciclo que há muitos anos reabriu para hoje ajudar os Combatentes do Ultramar.

 

António Alves Fernandes

Aldeia de Joanes

Outubro/2014