Tem oitenta e oito anos. Nasceu na histórica freguesia de Fajão, integrada na Rota das Terras do Xisto – uma Aldeia de Turismo de Montanha. Esta simpática localidade integra o concelho da Pampilhosa da Serra, neste Portugal Interior que tem um património digno de uma visita.

Uma Igreja Matriz e diversas habitações construídas com as pedras xistosas dão-lhe uma beleza invulgar. O visitante pode beber água fresca na Fonte Velha e instruir-se no Museu Monsenhor Nunes Pereira, autor de diversas xilogravuras e de um interessante livro – “ Os Contos de Fajão”. Para recuperar as forças, pelo menos uma refeição no Restaurante “ O Juiz “ é quase obrigatória. Aí, a gastronomia regional, um dos atrativos de Fajão, é acompanhada pelos contos “ O Juiz de Fajão na Relação do Porto”, “O Juiz e os 14 Fidalgos de Fajão”, “Do modo como os de Fajão elegiam o Juiz,” entre muitos outros.

Feita a 3ª classe, e por iniciativa do seu conterrâneo – Artur Almeida Campos-, dono do Café Montalto da Covilhã e da Estalagem da Neve do Fundão, conseguiu trabalho como empregado de mesa.
Fez um grande percurso no ramo da restauração, até que um dia se aventurou na compra da “Pensão Ideal” em Castelo Branco, mudando-lhe o nome para “Império”. Seguiu-se o Ginjal, o Piripiri e a Pensão Lusitânia.
Conseguiu organizar a Cantina da Barragem de Monte Fidalgo, uma construção em convénio luso-espanhol, onde servia centenas de refeições a operários das duas nacionalidades.

Quando surgiu o 25 de Abril, administrava o Hotel Lusitânia, hoje casa de modas, com trinta e um empregados: “Sofri muito com a intervenção de delegados sindicais, ao ponto de o porteiro ganhar mais que os empregados de mesa.”

Adquiriu o restaurante Piripiri, com enormes salas para convívios, casamentos, batizados e deu sociedade a alguns empregados do extinto hotel Lusitânia.

Concretizou um Curso de Cristandade e, apesar de as suas raízes serem cristãos, a frequência deste cursilho alterou a sua forma de vida na sociedade.

Conheci-o há muitos anos como Visitador Voluntário aos reclusos do Estabelecimento Prisional de Castelo Branco. Já vinha fazendo uma caminhada de voluntariado nas Conferências Vicentinas de Castelo Branco, na Santa Casa da Misericórdia Albicastrense e enquanto Ministro da Comunhão e da Palavra na Comunidade dos Padres Redentoristas.

Participou no 1º Congresso do Voluntariado Católico na Área Prisional, no Fórum Picoas em Lisboa.
Diversas vezes o acompanhei nos Encontros de Visitadores Prisionais, que todos os anos se realizavam, principalmente em Fátima, onde eram analisados e discutidos os inúmeros problemas que se colocavam na prática deste voluntariado.

Durante vinte e cinco anos, escreveu crónicas para os Semanários “o Despertar do Zêzere” de Ferreira do Zêzere e “Jornal de Arganil”. A última publicada neste Semanário foi também a sua despedida destas lides da escrita, um adeus sob o título “ AO MEU FAJÃO – ATÉ SEMPRE.”

O empregado de mesa do Montalto ainda existente e da Brasileira (hoje está nesse local a Caixa Geral de Depósitos da Covilhã), do Novotel e da Pastelaria Baco, foi também o responsável pelo Restaurante Avis, em Castelo Branco, uma cópia do Montalto da Covilhã (“ vais honrar a nossa família”, palavras de Artur Almeida Campos).

Falo de Augusto Mendonça das Neves. Diz que a família Neves está espalhada pelo país e pelo mundo, no Fundão, em Lisboa, na Covilhã, em Angola e no Brasil, nas cidades de Pernambuco e Olinda, cidade que é Património Mundial.

O apelido Neves vem de longínquas gerações, ao qual não é alheio a neve que pinta as paisagens do Fajão no Inverno, tendo ao longe as encostas da Serra da Estrela.

Passa uma parte do seu tempo nas suas origens, na companhia da sua irmã. Ambos recordam com nostalgia os irmãos falecidos, principalmente o Padre Artur Mendonça das Neves, que durante cinquenta anos foi pároco de Dornes, concelho de Ferreira do Zêzere, uma aldeia sentinela dos Templários. Não esquece, está para sempre no seu coração, a sua falecida esposa, natural do Gonçalo (terra das cestarias), uma companheira de toda a vida, “a minha alma”.

António Alves Fernandes
Aldeia de Joanes
Novembro/2014