Segundo o livro do Levítico, os leprosos deviam morar à parte, longe das povoações, à margem da sociedade. Deviam ainda usar vestes próprias, de modo a serem facilmente reconhecidos e evitados pelas outras pessoas. Além disso, quando pressentiam que alguém passava por perto, deviam gritar para que se afastasse deles. Para além do sofrimento e dos incómodos próprios da doença, os leprosos deviam suportar a dor da exclusão e do abandono familiar e social.

O leproso aproxima-se de Jesus, transgredindo a lei. E Jesus transgride a lei, tocando no leproso. A confiança inabalável que o homem deposita em Jesus e a compaixão que Jesus sente pelo homem impelem os dois a derrubar a barreira que uma lei desumana tinha erguido entre eles. O leproso interpela Jesus, absolutamente convencido que Ele, se quiser, o pode curar e, desse modo, mudar por completo a sua vida. E Jesus, impressionado com a fé do leproso, atende o seu pedido. O leproso quer ser curado e Jesus, que pode e quer, cura-o.

O leproso pede, sabendo que não pode exigir. A cura não é um direito que possa reclamar, mas apenas um dom que pode suplicar a Jesus. E Jesus concede-lhe essa graça para mostrar a todos que aquele leproso, como todos os outros, tem o direito a ser olhado com respeito e tratado com justiça e amor. Jesus limpa o leproso. Não quer que ele continue a viver como um amaldiçoado e excluído. Antes, quer que retome a sua vida normal, na sua povoação, junto dos seus. Jesus quer e limpa o homem, revelando assim que Deus tem uma posição diferente, ou seja, não compartilha a atitude dos judeus nem concorda com a rigidez e a brutalidade da lei. Jesus toca, quer e limpa para ensinar que o homem, sobretudo o que sofre mais e é mais desprezado, vale tudo aos olhos de Deus e Deus faz tudo para mudar a sua sorte.
Depois de o ter curado, Jesus ordena-lhe que não diga nada a ninguém e, ao mesmo tempo, manda-o ir mostrar-se ao sacerdote. Parece incorrer numa certa contradição. Por um lado, não quer que o homem divulgue o facto e, por outro, quer que o sacerdote veja e verifique que está curado. A cura do homem, dadas as características da doença da lepra, não pode passar despercebida. Ele não precisa de dizer nada para que o sacerdote, que antes tinha constatado a sua doença, e as pessoas que o conheciam dêem conta que recuperou a saúde.
Como conciliar, então, o não dizer com o mostrar? O homem deve ir ter com o sacerdote, pois só este, segundo a lei, pode declarar que está curado e autorizá-lo a regressar à sua terra. No entanto, não deve dizer a ninguém, nem mesmo ao sacerdote, que foi curado por Jesus. Ele não pode ocultar que está limpo da lepra, mas não deve revelar que tal se deve a um milagre de Jesus.
Jesus não quer que as pessoas O conheçam como um fazedor de milagres ou O procurem apenas para serem curadas das suas enfermidades. Quer que as pessoas O procurem e se entusiasmem com Ele em razão da Boa Nova do Reino que anuncia. Muito mais do que milagres, Jesus tem para partilhar com os homens o amor de Deus e a salvação eterna.
“Começou a apregoar o que acontecera”. Mal se afasta, contrariando a proibição de Jesus, começa a divulgar o que lhe acontecera. Sente a necessidade e o dever de partilhar com as pessoas a graça que acabara de receber. Não pode calar o que Jesus fez por ele nem conter a alegria que lhe vai na alma: Jesus fizera renascer nele a esperança e a vontade de viver. O homem apregoava, e nós compreendemos que não podia deixar de o fazer! E Jesus também não se deve ter zangado com ele! Aquele apregoar faz do homem um pregador/testemunha de Jesus e da Boa Nova do Reino.
“Começou a apregoar o que acontecera”. Tu, se já te aproximaste de Jesus e te deixaste tocar por Ele, se acreditas n’Ele e já experimentaste a força transformadora do seu amor misericordioso, então, por favor, não te cales. Anuncia-O aos homens, a começar pelos da tua casa e da tua terra. Conta a toda a gente, divulga por onde passas, contagia os outros com a tua esperança, sê apóstolo no quotidiano da tua vida. Se não O “apregoas”, se tens vergonha de falar d’Ele, se não O divulgas com a tua vida, se não mostras que Ele te faz feliz, é sinal que ainda não estás limpo da tua lepra nem és verdadeiramente livre.

Pe. José Manuel Martins de Almeida