Convidados a viver a misericórdia em ano jubilar
O Papa Francisco convidou toda a Igreja a viver um tempo forte de experiência e prática da misericórdia.
Para isso convocou o Jubileu Extraordinário da Misericórdia.
Se este convite para a experiência e a prática da misericórdia é dirigido a toda a Igreja, com mais razão uma sua associação de fiéis, com propósitos estatutários voltados para a prática das 14 obras de misericórdia, como é o caso desta Santa Casa da Misericórdia da Guarda, há-de sentir que tem de lhe responder com especial determinação.
Ora, só pode praticar a misericórdia quem antes a experimentou, quer seja a misericórdia de Deus que vem ao nosso encontro de mil maneiras, quer sejam os gestos de misericórdia que hão-de existir e multiplicar-se entre nós.
E nas sociedades actuais, em suas práticas mais comuns, a observação diz-nos que os gestos de misericórdia não abundam. Pelo contrário, o individualismo, a cultura generalizada do interesse e mesmo o princípio da competitividade levado ao extremo estão a revelar-se de consequências muito nefastas. O mesmo se diga da procura desenfreada do lucro material a todo o custo, principalmente a procura de resultados imediatos e fáceis, sem olhar a meios, quantas vezes cedendo à tentação de marginalizar pessoas. Estas são de facto atitudes e formas de organização social onde não cabe a misericórdia e concordamos em que esse é o grande défice; um défice que nem o estado social mais equipado pode desfazer, pois lhe falta a proximidade em relação às diferentes situações humanas.
Perante este grave défice das nossas sociedades e diante do apelo que o Papa Francisco nos faz para participarmos o mais activamente possível nas respostas ao apelo deste Jubileu, perguntamo-nos que fazer.
Como o Papa Francisco diz na bula de convocação – Misericordiae vultus – está em causa, neste Jubileu descobrir a pessoa de Jesus Cristo na relação pessoal que Ele tem com cada um de nós; e descobri-lo enquanto rosto da misericórdia do Pai. Esta é uma boa síntese da nossa Fé.
O amor infinito de Deus revelado na pessoa de Cristo não pode ficar indiferente perante as muitas misérias que se estendem no palco da vida do mundo e atingem, das mais varias formas, pessoas e comunidades. A misericórdia divina é o próprio coração de Deus condoído até ao mais fundo das suas entranhas diante da miséria humana.
Neste Jubileu queremos celebrar principalmente a força deste amor divino que é maior do que todas as misérias do mundo.
Olhando para o Novo Testamento, vemos que é sobretudo nas parábolas da misericórdia apresentadas pelo Evangelho de Lucas que Jesus revela a natureza do amor de Deus como um Pai que nunca se dá por vencido enquanto não tiver absolvido do pecado da recusa com que o tratam tantos dos seus filhos.
A Igreja fundada por Jesus Cristo para interpretar a bondade e a misericórdia de Deus em todos os tempos e lugares da história, sente que também tem de fazer da misericórdia a lei fundamental de todo o seu agir. É por isso que o Papa nos recomenda, de modo especial para este ano jubilar, o aprofundamento e a prática das 14 obras de misericórdia, enumerando-as, uma por uma, na bula com que convoca o jubileu.
Depois enumera todos os actos que sempre fizeram parte das celebrações jubilares. Entre eles destacam-se os tempos de oração, de penitência, de pregação, neste caso sobre o valor fundamental da misericórdia, o sacramento da reconciliação abundantemente distribuído e a participação na Eucaristia. A indulgência jubilar e as peregrinações a lugares jubilares determinados são outras formas de vivermos a experiência feliz da misericórdia de Deus que motiva as nossas atitudes de misericórdia. As peregrinações à nossa Sé Catedral, a que ficam associadas as que forem feitas à Igreja da Misericórdia da Guarda, onde se cumpre diariamente o programa do Jubileu, assim como as que forem feitas a outros lugares jubilares definidos dentro da Diocese remetem para a realidade fundante da nossa condição de peregrinos na história ao encontro da pátria que nos espera, o Reino dos Céus.
Vamos aproveitar este ano jubilar para responder da melhor maneira aos apelos de misericórdia que nos são feitos, quer para acolhermos a infinita misericórdia de Deus que constantemente nos está a ser oferecida, quer para a distribuirmos abundantemente uns pelos outros.
02-12-15
+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda