D. Manuel Felício – 11 anos ao serviço da Diocese da Guarda
11 anos ao serviço da Diocese da Guarda no exercício o Ministério Episcopal
Faz hoje onze anos que entrei ao Serviço da Diocese da Guarda, no exercício do Ministérios Episcopal.
Por isso, diante d’Aquele que para aqui me enviou, desejo prestar contas da administração que tenho realizado sobretudo durante os últimos 12 meses.
E neste prestar de contas vai a minha acção de graças pelo bem que, por graça de Deus, aconteceu, mas também a “mea culpa” pelo bem que deixou de acontecer e devia ter acontecido, como também pelos erros cometidos.
Conforta-me o facto de saber que só não erra quem decide nada fazer; mas também que quem assim decide já cometeu o grave erro de virar as costas às responsabilidades. Desejo, por isso, hoje fazer o meu exame de consciência diante da Diocese e do Senhor que para ela me enviou.
Começo por dizer que a grande preocupação pastoral do ano de 2015 foi procurar acompanhar e motivar toda a Diocese, juntamente com todo o nosso Presbitério e diáconos, no processo da preparação da assembleia diocesana que temos agendada para o ano de 2017. Nesse sentido, até Junho passado, procurámos que a responsabilidade de evangelizar fosse fortalecida em todos pelo encontro com a Palavra de Deus, à luz da constituição “Dei Verbum” do Concílio Vaticano II. “Evangelizar para ser pessoa e comunidade” foi o apelo que todos quisemos escutar vindo da constituição “Dei Verbum”, mas também da exortação apostólica do Papa Francisco “Evangelii Gaudium” .
Para dar resposta a este apelo, logo no mês de Janeiro, procurámos, nas jornadas de formação do Clero, repensar a nossa catequese da infância e adolescência, com a ajuda da experiência de duas dioceses que praticamente vivem realidades pastorais e sociais idênticas à nossa – foram elas Vila Real e Portalegre-Castelo Branco.
Em Fevereiro, na Jornada de formação dirigida principalmente aos cooperadores pastorais dos nossos párocos, centrámos a atenção naqueles ministérios mais necessários ao compromisso com a evangelização. Ministérios que precisamos de descobrir e motivar, mas também de preparar continuamente e cuidar bem em todo o processo evangelizador. O dia da Igreja Diocesana, celebrado na cidade da Guarda e à sombra da nossa catedral, foi também marco importante. Ao avaliar os resultados do empenho de todos neste ano pastoral e no que se refere à motivação para o encontro com a Palavra de Deus e para a renovação da nossa responsabilidade evangelizadora, sinto que os resultados atingidos, em termos dos objectivos propostos, de facto, não foram inteiramente conseguidos.
Isso motiva-nos também a modificar algumas formas de acção no ano pastoral em curso. Nele pretendemos voltar a atenção de toda a Diocese para a recepção das orientações dadas pelo Concílio Vaticano II quanto à celebração da Fé. Temos como fonte iluminadora deste nosso esforço conjunto, que queremos fazer em caminhada sinodal, a constituição conciliar “Sacrosantum Conciliar”. O objectivo é refletir as nossas formas de celebração da Fé para sobre elas fazer incidir a luz do Concílio e, a partir das reflexões feitas, preparar a assembleia diocesana. A nossa habitual peregrinação a Fátima no mês de Agosto e a jornada de apresentação do programa do ano pastoral em Setembro foram momentos importantes. Por sua vez, a visita da imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima, que percorreu toda a nossa Diocese de 17 de Setembro a 11 de Outubro, dentro do programa preparatório do centenário das aparições, em 2017, foi especialíssimo momento de graça. O Bispo Diocesano presidiu sempre a algum acto celebrativo ou de manifestação pública em todas as sedes do concelho existentes na Diocese.
Momento alto foi a consagração de toda a nossa Diocese à Senhora de Fátima, diante da Sua imagem peregrina recebida na Sé da Guarda.
2015 foi também marcado pela celebração do ano da vida consagrada convocado pelo Papa Francisco, tendo começado ainda no ano de 2014 para se prolongar até Fevereiro próximo. Procurei fazer esforço para visitar todas as 28 comunidades religiosas e de vida consagrada que temos na Diocese.
Dentro dos tempos de oração e diálogo que preencheram estes encontros, pretendemos dar graças a Deus pelo dom inestimável dos consagrados à Igreja e à sociedade e também aprofundar os aspectos em que devemos optimizar a cooperação dos mesmos consagrados e suas comunidades na vida pastoral da Diocese, conforme pede a Carta convocatória do Papa Francisco. Também de acordo com o expresso desejo do Papa na mesma carta, procurámos dialogar sobre formas de dar a conhecer ao Povo de Deus os respectivos carismas, incluindo a vida e virtudes dos seus fundadores.
A preparação e abertura do Jubileu extraordinário da misericórdia foi outra prioridade pastoral. A abertura solene na catedral em 13 de Dezembro foi, de facto, precedida por muitos contactos com sacerdotes, diáconos, religiosos e religiosas e outros consagrados e consagradas e leigos, de modo a definir os diversos programas jubilares, quer o diocesano quer os dos arciprestados. Pretendemos, com este ano jubilar, por um lado, ir ao encontro das pessoas para elas experimentarem a alegria da misericórdia de Deus; por outros lado, procurar motivá-las para a peregrinação aos centros jubilares, principalmente a catedral e, em todo este processo, descobrir que receber o dom da misericórdia divina obriga a oferecê-la também aos outros principalmente através da prática das obras de misericórdia.
Olhando para os últimos 12 meses, dou graças a Deus poraque Ele nos deu a graça de termos a ordenação de um sacerdote na nossa Diocese da Guarda. Foi na paróquia de Pínzio, no dia 13 de Junho, para a Ordem dos Missionários Capuchinhos. Claro que naturalmente sinto a falta de não termos tido, nos últimos 12 meses, nenhuma ordenação sacerdotal para o nosso Presbitério diocesano. E sinto igualmente que esta falta é apelo a maior empenho, da minha parte certamente, mas também de todos nós sacerdotes e dos outros agentes pastorais para termos os seminaristas necessários nos nosso seminários Maior e Menor. E considero que esta é a realidade pastoral da nossa Diocese que a todos mais nos tem de preocupar. O nosso pré-seminário tem de ser fortalecido para que dele surjam os candidatos necessários para o Seminário Menor e para o Maior. E porque para o futuro próximo não se adivinha que haja ordenações sacerdotais em número suficiente para substituir os sacerdotes que terminam a sua actividade, impõe-se a todos nós procurar novas formas de fazer pastoral. Por exemplo, temos de saber conjugar melhor o trabalho dos sacerdotes com o dos diáconos; mas também o trabalho destes com o dos outros ministérios não ordenados. Com essa finalidade já começámos a dar alguns passos, como é o da iniciativa de formar ministros leigos capacitados para presidir às celebrações dominicais sem celebração da Eucaristia. Temos o programa aprovado e pronto para ser aplicado. Pretendemos com iniciativas como esta não apenas dar resposta às necessidades pastorais existentes, mas também anteciparmo-nos às que nos vão aparecer em futuro próximo.
Este ano escolhemos como modelo de pastor para nós sacerdotes a figura do venerável Servo de Deus D. João de Oliveira Matos que serviu a nossa Diocese, no exercício do Ministério episcopal, durante quase 40 manos. A sua grande proximidade às pessoas e às comunidades, a sua espiritualidade sacerdotal forte e profundamente marcada pelo amor à Eucaristia, a sua dedicada entrega ao confessionário e à pregação, a arte de descobrir os colaboradores pastorais necessários, de os preparar e entusiasmar para a missão são importantes notas da sua vida de pastor que em muito podem ajudar o nosso ministério sacerdotal. Por isso o propusemos como nosso modelo na apresentação do programa pastoral para este ano.
O ano 2015 foi também o ano da visita “ad limina” dos Bispos portugueses, na primeira semana de Setembro. Foi oportunidade, primeiro, para, através da elaboração do relatório quinquenal enviado à Santa Sé quatro meses antes, avaliarmos e repensarmos os aspectos essenciais da vida da nossa Diocese; depois foi motivadora a experiência do encontro com o Santo Padre, o Papa Francisco que, pelo diálogo franco e aberto com os Bispos portugueses, nos motivou e também às nossas Dioceses para continuarmos, com redobrado empenho e muita esperança, o serviço da evangelização.
E falando do Papa Francisco, recordo o acolhimento que procurámos dar á sua encíclica “Laudato Si”, também publicada em 2015, sobre o respeito devido à natureza, essa casa comum criada por Deus para todos a podermos habitar, com dignidade e sem exclusões.
Dou graças a Deus por mais este ano que Ele generosamente me ofereceu para viver com a nossa estimada Diocese da Guarda. Peço-lhe a Sua bênção para poder estar à altura de a servir com dignidade durante o tempo que Ele entender.
A todos os diocesanos – Sacerdotes, diáconos, religiosos, religiosas, outros consagrados e consagradas, leigos e suas associações desejo, neste momento, expressar o meu apreço pela prestimosa colaboração que deles tenho recebido e pedir a necessária indulgência para as inevitáveis limitações que fazem parte do nosso viver uns com os outros.
Que o Senhor a todos nos abençoe no percurso de Fé e de serviço à sociedade em que estamos empenhados.
Guarda, 16 de janeiro de 2016
+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda