Deus não nos fez ricos. Mas fez-nos cheios.
Cheios de vida.
Cheios de amor.
Cheios de vontade de viver.
Mesmo quem nasce lá fora, sem estar cá dentro, pelo outro lado dos muros da paz, onde reina a guerra, tem muita vontade. Tem vontade de sair dali, de correr, de sangrar os pés para fugir, fechar os olhos e não ver mais, cerrar os ouvidos e parar a bomba de cair. E a vontade cresce cada vez mais, não tem fim.
E quem nasce cá dentro, quem trabalha onde não gosta, quem faz o que não quer? Tem a vontade de não estar ali, e tem a vontade de estar noutro sitio, a fazer outra coisa, a ver outras folhas, a escrever outros assuntos, a pintar outros quadros.
Todos nós temos algo muito importante que nasceu connosco – nascemos cheios dela – e ainda não nos largou, e isso pode mudar tudo. Pode mudar o amarelo para o vermelho, o mau para o bem e o azedo para o doce. Cá dentro, onde temos paz, temos ainda a sorte de não precisar de fugir de uma guerra ou de duas guerras, ou mais guerras que não são as nossas guerras. Mas podemos ter vontade de mudar, de sair, de ser melhor.
E, desta vez, Deus teve uma grande culpa nisso, pois fez-nos cheios de vontade de vencer pela diferença e deu-nos imensa vontade de fazer as melhores coisas pela nossa vida. Deus não nos deu as contas bancárias cheias, mas deu-nos as contas cheias do coração.
Deus deu-nos a possibilidade de mais e melhor, mesmo que a princípio não o estejamos a ver. A resignação não nasceu connosco desde o início, veio depois, quando não nos deixavam chorar. A resiliência, a força de vontade e os nossos melhores sonhos nasceram no início quando ainda éramos apenas transparentes sem existir: estamos cheios disso cá dentro.
Diana Teixeira de Carvalho