Diocese da Guarda: Homilia do dia da Diocese em 2018
Excelência reverendíssima d. António Luciano, Bispo eleito de Viseu,
Reverendos padres concelebrantes e diáconos irmãos e irmãs em Nosso Senhor Jesus Cristo,
- Reunimos-nos hoje, na nossa Catedral, sob proteção da sua Padroeira, Nossa Senhora, com o título de Senhora da Assunção. Vimos dos vários pontos da Diocese da Guarda, também em representação das nossas comunidades paroquiais e inter-paroquiais, incluindo transportando connosco alguns dos símbolos que mais as identificam. E estamos aqui a celebrar o Dia da Igreja Diocesana. É esta uma celebração que foi pedida pela nossa Assembleia Diocesana, há um ano, apontando mesmo o dia da sua realização, no dia de hoje, 2 de Junho. Queremos, por isso, que este dia, o Dia da Igreja Diocesana, seja vivido como ponto de chegada de um primeiro esforço de acolhimento às proposições da Assembleia Diocesana; mas também como ponto de partida, marcado pela carta pastoral que a mesma Assembleia Diocesana também pediu e que hoje é apresentada. Está em causa a caminhada sinodal que quisemos iniciar na preparação da Assembleia Diocesana, ao longo de 3 anos, na sua realização, no primeiro esforço de receção que fizemos durante o ano que agora termina e queremos continuar nos próximos tempos, de acordo com as orientações que nos dá a referida carta pastoral.
2. Estamos nesta solene celebração a viver o Domingo, em Missa Vespertina do IX Domingo do Tempo Comum. O Domingo, como lembram as proposições da Assembleia Diocesana, tem uma importância fundamental na nossa vida de Fé. Por isso, o Domingo e a celebração da Eucaristia ocupam lugar central na nossa vida de cristãos, tanto pessoal como comunitária. Como sabemos, a importância da Sábado para o Povo de Deus do Antigo Testamento é ocupada, na vida da Igreja, pelo Domingo, o primeiro dia da semana, comemorativo da Ressurreição do Senhor. O livro do Deuteronómio lembra-nos hoje o lugar central e estruturante que o Sábado ocupava na vida religiosa e social do Povo de Israel. Era, assim, um dia inteiramente disponibilizado para Deus e para o descanso que a condição humana necessariamente exige. Claro, como muitas vezes acontece e com outras realidades, a importância fundamental deste dia estava sujeita a falsos entendimentos e até a fundamentalismos. E foi o que aconteceu nas tradições dos Judeus, que hoje o Evangelho nos refere, com as sensibilidades farisaicas, diante da atuação de Jesus; sempre focada no bem das pessoas. O escândalo de alguns, quando Jesus justifica a necessidade de as pessoas se alimentarem mesmo em dia de Sábado ou restitui a saúde àquele doente, é mesmo um escândalo farisaico. Escândalo ao qual Jesus responde, enunciando o princípio, que todos compreendem como óbvio – o Sábado é para o homem e não o homem para o Sábado. Também para nós hoje o que está em causa, ao celebrarmos o Domingo, é dignificarmos as pessoas, celebrando a Ressurreição do Senhor e a vida nova que ela inaugura também para nós. Ao mesmo tempo, o Domingo aparece, na roda da semana, como o dia especial da paragem nos afazeres quotidianos para dar lugar a que se cultivem as boas relações sobretudo em família e se dê a devida atenção às pessoas, sobretudo àquelas que se sentem mais abandonadas. É também oportunidade para que os fiéis possam cuidar a sua formação na fé e a espiritualidade verdadeira que dá sentido às suas vidas. Por estas e outras razões, temos obrigação de defender e valorizar o Domingo como instituição da Fé Cristã e ao serviço do bem total das pessoas, da sua verdadeira humanização
3. Irmãos e irmãs, neste Dia da Igreja Diocesana, que celebramos na nossa Catedral, Igreja Mãe de toda a Diocese, com a força do simbolismo que lhe é próprio, penso ser legítimo deixar aqui enunciados alguns sonhos que hão-de alimentar a nossa caminhada sinodal e de receção da Assembleia Diocesana nos próximos tempos.
3.1. O primeiro deles é que cada uma das nossas comunidades paroquiais e mesmo interparoquiais se transforme em verdadeira Escola de Fé; uma escola onde todos nós somos discípulos e Jesus é o Mestre. E nós queremos aprender a lição deste grande Mestre, mas também viver o seu estilo de vida e sobretudo assumir corajosamente o mandato missionário que Ele nos deixou – Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho.
3.2. Este sonho só se poderá cumprir se formos capazes de desenvolver e organizar bem a rede dos serviços e ministérios em toda a nossa Diocese e nas suas diferentes comunidades paroquiais ou interparoquiais. Para isso temos de continuar a cuidar, com muito empenho, os ministérios ordenados, promovendo as vocações sacerdotais e diaconais; mas temos também de cuidar bem os outros ministérios, sobretudo oferecendo-lhes a formação e o acompanhamento a que eles têm direito. Pedimos, nesta hora, ajuda de Deus para todos os ministérios, incluindo os serviços diocesanos e outros supra paroquiais, de tal modo que possamos vir a ter na nossa Diocese uma verdadeira comunhão de ministérios ao serviço da comunhão de todas e cada uma das nossas comunidades. E que, nesta comunhão de esforços, os sacerdotes se possam dedicar predominantemente às celebrações e ao acompanhamento espiritual, com tempo para atender.
3.3. Sonhamos com comunidades abertas umas às outras e à Igreja Diocesana e Universal, assim como às grandes necessidades do mundo e da sociedade que nos envolvem. E sobre esta abertura das comunidades às preocupações da Igreja e do mundo, crescendo em ardor missionário, nunca é demais lembrarmos as recomendações que nos faz o Papa Francisco sobre que a Igreja deve ser sempre uma Igreja em saída, para as periferias da pobreza, mas também da ignorância e das muitas outras dimensões da marginalidade que infelizmente continuam a fazer sofrer as pessoas, apesar dos avanços surpreendentes da ciência e da técnica. Claro que esta abertura das comunidades tem de se dar sempre de dentro para fora e por isso temos de saber motivar cada uma delas para a relação e a cooperação com as comunidades vizinhas, a começar pelos grupos de paróquias confiadas ao mesmo pároco ou aos mesmos párocos. É evidente que as nossas comunidades em geral precisam de continuar a ser educadas para esta comunhão entre elas, nomeadamente assumindo programas pastorais comuns, partilhando ministérios, serviços de formação e de celebração e outros.
3.4. O método da caminhada sinodal que a nossa Assembleia recomenda e em geral as orientações da Igreja também recomendam, para se aprofundar devidamente, dando lugar e voz a todos, vai exigir de toda a rede de ministérios e em particular de nós sacerdotes grande empenho no cuidado dos instrumentos de participação, como são os conselhos pastorais paroquiais e inter-paroquiais, o conselho pastoral arciprestal e conselho pastoral diocesano. São instrumentos indispensáveis na caminhada sinodal que, de forma abrangente, nos é recomendada.
3.5. A carta pastoral que nos foi pedida fala nestas e em outras orientações. Não podemos nem queremos cumpri-las todas de uma só vez. Queremos caminhar devagar, com passos sustentados, envolvendo o mais possível a todos, sem deixar ninguém para trás. No próximo ano pastoral, é nossa intenção concentrar-nos na notável rede de catequistas que temos na nossa Diocese, para revermos as formas de lhes dar a necessária formação e acompanhamento. Acrescentamos-lhe a preocupação por dinamizar, nas nossas comunidades, a responsabilidade missionária, nomeadamente procurando dar cumprimento à recomendação que nos faz a Assembleia Diocesana de criarmos núcleos de dinamização missionária nas comunidades. A própria catequese dos primeiros anos não pode deixar de incluir a vertente da responsabilidade missionária, atendendo às orientações superiores sobre a infância missionária.
3.6. A terminar, queremos sublinhar que a grande alavanca no processo de renovação para o qual a Assembleia Diocesana nos desafia é a de uma espiritualidade forte, bem alicerçada em Cristo e nas orientações da Igreja. A nossa Diocese tem boa tradição de aposta na formação e acompanhamento espiritual, sobretudo com o Lausperene e os retiros. Deixemo-nos guiar pelo Espírito Santo e a necessária renovação acontecerá com naturalidade.
+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda
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