É como dizes”
Resposta breve e afirmativa de Jesus, à pergunta, igualmente breve e directa, de Pilatos: “Tu és o rei dos judeus?” A pergunta de Pilatos revela mais ironia e desprezo do que interesse em conhecer a verdade sobre Jesus. Pilatos faz a pergunta mas não tem intenção de valorizar a resposta. Para ele é demasiado óbvio que aquele Jesus não é, não pode ser, o rei dos judeus.
Jesus, apesar de saber que Pilatos não vai tomar a sério as suas palavras nem é capaz de compreender o verdadeiro alcance das mesmas, não deixa de lhe responder. A sua é também uma resposta provocadora. “É como dizes”, mas não é como pensas! Sou rei, mas não como tu és nem como tu imaginas os reis deste mundo!
Os reis deste mundo exercem o poder com arrogância, prepotência e arbitrariedade; vivem em belos palácios, vestem esplendidamente e banqueteiam-se lautamente todos os dias, completamente indiferentes à miséria dos seus súbditos; têm exércitos poderosos, fazem guerras, subjugam povos, eliminam adversários, sobrepondo os seus interesses pessoais à verdade e à justiça; são homens cheios de defeitos e de vícios, mas exigem ser obedecidos e tratados como deuses!
“É como dizes”, mas não como pensas! Jesus é rei sem palácios, sem exércitos e sem servos; é um rei sem trono, sem títulos honoríficos, sem qualquer esplendor humano. Ele é um rei diferente e o segredo dessa diferença revela-o na resposta que dá ao sumo-sacerdote, quando este lhe pergunta: “És Tu o Messias, Filho do Deus Bendito?” Jesus revela e confessa a sua verdadeira identidade: “Eu sou”.
Jesus é, pois, rei do reino de Deus, o reino da verdade e do amor, o reino da justiça e da paz, o reino de homens livres, em que o rei está sempre ao serviço dos homens. Jesus é o rei que está disposto a morrer pela verdade e a morrer por amor, para devolver aos homens o sentido da vida e lhes rasgar os horizontes da eternidade.
Jesus foi condenado por dizer a verdade. Antes de mais, a verdade que denuncia o mal que existe no coração dos homens e exige arrependimento e conversão. Depois, a verdade sobre si mesmo, revelando e assumindo a sua identidade, apresentando-se como Filho de Deus. E ainda a verdade que punha em causa a própria concepção de Deus bem como o uso que faziam da religião e do templo.
Se Jesus tivesse calado as verdades inconvenientes, se tivesse deixado continuar tudo na mesma, se tivesse pactuado com as injustiças sociais e com as perversões religiosas, se não tivesse questionado os privilégios e as vantagens humanas dos poderosos, se não tivesse tomado a defesa dos pobres e excluídos, Ele teria sido deixado em paz, não teria sido levado à presença de Pilatos para ser condenado por ele. Mas um Filho de Deus que agisse assim não traria qualquer vantagem aos homens nem mereceria o crédito de ninguém!
A verdade pela qual morre e o amor com que morre pela verdade revelam mais e melhor a sua realeza e a sua filiação divina do que todos os milagres que fizera ou quaisquer outros que pudesse fazer naquela hora!
E isso foi captado por alguns daqueles que seguiram e testemunharam a condenação e a morte de Jesus. O chamado “Bom Ladrão” reconhece em Jesus crucificado o Rei que lhe pode dar o que ele, naquele momento, mais deseja e que nenhum outro rei lhe pode garantir: a vida eterna. Por sua vez, o centurião romano, ao ver como Jesus percorreu o caminho da paixão e ao testemunhar a serenidade com que morreu, descobre e confessa a sua filiação divina: “Na verdade, este homem era Filho de Deus”.
Jesus aceita ser vencido pelo pecado dos homens para, por sua vez, vencer o pecado com o poder do seu amor; aceita a derrota da morte para garantir ao homem a vitória da vida; aceita ser aniquilado para devolver ao homem a riqueza de Deus. Jesus aceita a sua morte como o caminho necessário para garantir ao homem a ressurreição e a vida eterna.