Eram duas pessoas simples. Só que eram invisuais. Gostavam ambos de escrever e partilhavam audiotextos pela net.
Um dia marcam um encontro para almoçar. Estavam radiantes. A força da palavra sobrepunha se ao resto. Cada prato era condimentado com um poema ou um texto, numa harmonia de improviso sonante.
As pessoas no restaurante bem olhavam mas ela e ele estavam indiferentes a isso. Não viam!
No fim da refeição sentiram uma leve ternura um pelo outro. E ele pede para lhe segurar a mão.
A reacção foi de surpresa. Tão macia, tão sedosa. Depois pediu lhe para lhe tocar na face. Os lábios eram grossos, diferentes.
Foi a vez dela. Sentiu o cabelo aveludado, os pelos na mão e a barba que pica. Tão diferente do que imaginaria.
Riram-se! Nunca tinham sonhado que fossem assim tão diferentes. Mas o que os unia era a escrita. De facto o resto pouco importava.
Com o café decidem fazer um projecto em conjunto.
Ao despedirem se lá se confessam. Ele era europeu com 50 anos. Ela africana com 30.
Mas que importa isso?
De facto, a sua felicidade foi encontrada fora de um preconceito que os visuais provavelmente nunca aceitariam com esta facilidade.
Dundo, 11 de Setembro de 2020
António José Alçada