FUNDÃO – A APRESENTAÇÃO DE UM LIVRO DE CONTOS

Decorreu na Biblioteca Eugénio de Andrade a apresentação de um livro de contos com o título “NO TRILHO DOS SEIS ZIMBROS”, da autoria de António José Alçada, com uma sala bem preenchida com familiares, amigos e os Escuteiros da Fraternidade Nuno Álvares da Covilhã e do Fundão.
Estiveram alheios os holofotes, as passadeiras vermelhas, as imagens e as escritas dos media os habituais frequentadores destes eventos e até o chá, os sumos, os bolos e as torradas.
Na mesa estava o autor, a vereadora da cultura, o apresentador da obra e ainda uma guarda de honra de quatro meninas, familiares, o futuro da família, desejando eu que esta sessão literária as marque para sempre.
A Dr.ª Alcina, Vereadora, salientou as qualidades humanas do Eng.º António José Alçada com quem rapidamente se entra em empatia. Dos contatos existentes aquando da fundação no Fundão do Núcleo da Fraternidade Nuno Álvares, surgiu a ideia da apresentação do seu livro nesta cidade. O Município do Fundão está sempre recetivo, disponível para todas as atividades de índole cultural.
De seguida, foi a vez de Manuel da Silva Ramos ter a tarefa de apresentar o livro “ NO TRILHO DOS SEIS ZIMBROS.” Realçou que era a primeira vez que apresentava um livro escrito por um engenheiro-escuteiro: “A literatura é um esforço sempre impalpável e insubordinado”. Seguiu-se uma listagem de escritores, “desde Proust que sofria de asma, passava dias e dias fechado num quarto e escrevia deitado na cama até Victor Hugo que no exílio escrevia de pé de manhã à noite cerca de dez horas”.
Seguindo o apresentador, António Alçada fez uma aposta incrível, escrever um livro para suplantar os seus erros infantis e inconsequentes na ortografia e provar aos seus que quando o homem quer a obra nasce. E a vitória de António José Alçada é imensa. Em abono da verdade, o resultado literário que advém do resultado pessoal é francamente positivo. É uma obra que se lê muito bem e com prazer, de alguém que principia a percorrer os trilhos da literatura. O título é evocativo e de imediato surge a imagem da Serra da Estrela com os seus atalhos, veredas, caminhos de terra, rodeados pelo zimbro purificador. Título misterioso, nunca se sabe o que se encontra no périplo de uma aventura de ar puro. Título apaziguador, pois no final de uma caminhada a ingestão de um copo dessa bebida com as bagas fortalece-nos.
Fez uma resenha individual de cada um dos seis contos que compõem o livro, terminando por afirmar que se está perante um livro escrito à maneira de Hemingway, muito direto, com muitos diálogos, onde o autor convoca amiúde a sua experiência pessoal e familiar.
São contos despretensiosos, que se lêem muito bem e o autor deve sentir-se orgulhoso. Contos dignos, que revelam um autor preocupado com o destino do mundo, mas essencialmente ancorado num otimismo indestrutível, pelos valores éticos da vida. Manuel da Silva Ramos terminou a sua apresentação com esta afirmação: “ depois deste livro, com trilhos de zimbro, tenho a certeza de que nos irá premiar com outras histórias de vida.”
Encerrou esta sessão literária António José Alçada, agradeceu ao Fundão ter-lhe aberto a porta e acolhido como escritor.
Agradeceu ainda à família escutista atual, à Fraternidade Nuno Álvares do Fundão e à da Covilhã. Ao Escutismo em geral e a importância que teve na sua formação como homem e cristão, destacando o papel e a influência do Caminheiro Joaquim Alves Fernandes da Região de Setúbal. Passados 40 anos perpetua a sua memória em terras da beira e longe dos locais de vivências comuns.
À família atual e aos seus antepassados, aos quais presta homenagem no livro, com destaque para o seu primo António José Alçada, um irmão que escolheria se fosse possível e um bisavô, que nunca conheceu a bisneta. Homenagem ao avô materno Galeano Abreu, um médico que tudo fez para salvar vidas sem meios e apoios, na sangrenta Batalha de la Liz, no final da I Grande Guerra.
Homenagem ao seu tio Fernando Sá e Sousa, engenheiro, envolvido nas funções autárquicas, no tempo da ditadura, convite que não pôde recusar, mas por causa de muitas peripécias lutou para deixar o cargo, nunca vergando sua conduta para satisfazer a vontade do regime.
No conto “ Entre Irmãos” o autor descreveu o trauma, a amargura de nunca ter um irmão de sangue, apelando para aqueles que os têm os saibam valorizar e acarinhar. Recorre à escola de Hitchcock em que a cena seguinte é imprevisível, para escrever um argumento para um filme onde o argumento privilegia a relação familiar nuclear e o repúdio ao materialismo. Um trabalho na primeira pessoa com base nas vivências e mistérios das famílias tradicionais beirãs, onde não faltava a rigidez de educação e os segredos sobre o passado dos antepassados.
No final não faltou a voz escutista: BRAVO, BRAVÍSSIMO…

António Alves Fernandes
Aldeia de Joanes
Maio/2016