Há tempos, em Aldeia de Joanes, na Festa do Ciclo do Pão, uma criança destacava o Grupo dos Bombos de Lavacolhos como o auge da efeméride. Estava longe do nosso pensamento que um dos maiores construtores desses “diabólicos” instrumentos musicais, imortalizados e dados a conhecer ao país por Michel Giacometti, iria partir em breve para o eterno descanso. Com efeito, da oficina artesanal de Joaquim Brito Simão saíram muitas centenas e centenas de bombos com os mais diversos tamanhos.

Aproveitando uma ida a Lavacolhos, participando na Festa Anual da Família Sportinguista no Centro de Convívio local, fui ao encontro dos familiares do mestre de fazer bombos.

Na Rua da Pereirinha, na vizinhança da sede da Junta de Freguesia, onde ainda se podem admirar construções em xisto, localizei a oficina de artesanato, propriedade de um neto de Joaquim Simão, que está a dar continuidade a esta arte. Nas horas vagas, aí trabalha Américo José Barroca Simão, que me recebeu com simpatia e orgulhoso por ser o herdeiro de tão nobre e famoso artesão. Aí me cruzei com diversos bombos, mas há três que reclamaram especial atenção, pois formam a herança deixada pelo avô a este jovem neto. Estão religiosamente guardados, são a jóia da coroa. Nas paredes observei vários quadros, encontrando emoldurada uma reportagem do Jornal do Fundão com o título “ a arte de fazer bombos em Lavacolhos”.

À entrada da porta, como uma vigilante atenta ao que se falava, vi a octogenária Carlota Afonso Ascensão, que com saudade recordou as habilidades artesanais do seu falecido marido, não se esquecendo de referir a presença nesse ato do Presidenta da Camara do Fundão.

Daí passámos ao Convívio da Família Sportinguista, onde se falou da coragem do Povo de Lavacolhos. Além da força inata para tocar bombos, também teve a ousadia de fazer justiça, uma vez que esta era cega para uma série de tropelias e roubos que uma família ali realizava, como muito bem escreveu Carlos Gravito no maravilhoso romance “Os Betórias”.

Joaquim Barroca desabafou, à sombra da Capela do Espírito Santo, que o Parque Infantil em frente já não vê uma criança brincar há anos. Se só fosse em Lavacolhos…

Muitos dos participantes no convívio são emigrantes que regressam às suas origens nesta altura do ano. Dizem que já não são tantos como em anos passados. Muitos escolhem outras paragens, vão até à praia, embora Lavacolhos tenha uma Praia Fluvial muito convidativa e acolhedora.

Um emigrante da Austrália, que regressou definitivamente, disse que o dia em que tomou o avião para Portugal, devia ter partido as duas pernas, porque lá tinha muitas regalias sociais e aqui até um simples penso tem de pagar. E já para não falar na carga fiscal…

Aos infortúnios desportivos na casa do leão, juntaram-se por todo o lado vozes de dor e sofrimento. Este Povo necessita de fé, esperança e medidas concretas para reerguer a sua dignidade. Um país só se salva quando o Povo tiver a sua dignidade assegurada.

A comissão vigente deu a conhecer os eleitos para no próximo ano organizarem com alma sportinguista este encontro: Carlos Manuel Frade Mateus, Valentim Jesus Proença, Roberto Frade Lourenço e Paulo Manuel Leal Barroca.

Olhei para um bombo em forma de relógio, afixado na parede do Centro de Convívio de Lavacolhos. Marcava vinte e uma horas, hora da despedida desta jornada. Uma pessoa aproximou-se de mim e disse: “não se esqueça de escrever que o artesão Joaquim Brito Simão, um grande mestre e amigo, não nos deixou, está no coração de Lavacolhos.”

Bombos de Lavacolhos, toquem baixinho…o vosso mestre está a dormir no leito celestial!

António Alves Fernandes

Aldeia de Joanes

Agosto/2013