MEMÓRIAS! OH QUE MEMÓRIAS!
Ainda na minha convalescença e já estou a caminho da Guarda, com destino à Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço para mais uma tertúlia literária.
Quando cheguei já se encontrava um grupo bem-disposto e receptivo. Quem me trouxe foi o irmão, companheiro e amigo Alçada. Partilhamos o carro e o primeiro nome: António. O nosso Homem é natural de Setúbal, mas tem raízes fortes e profundas na cidade da Covilhã. É escuteiro, engenheiro, socorrista, cozinheiro, navegador, motard, doutorando em bioquímica e ainda escritor – só lhe falta ser astronauta.
A tertúlia tem como objectivo divulgar o seu livro “No trilho dos seis zimbros”, já apresentado na Biblioteca Eugénio de Andrade no Fundão, em Maio de 2016, e apresentar a sua nova obra – “Minhas Memórias da Quadrilha” -, inspirada nas diabruras ou travessuras de um grupo de jovens inconformados, estudantes no liceu Nacional de Setúbal.
Fiquei a saber que este meu amigo foi para o escutismo aos 8 anos, como alternativa ao colégio militar. Fez o seu percurso sem grandes sobressaltos e entrou na Universidade, embora não tenha concluído o curso complementar dos liceus. Foi preciso uma ginástica jurídica e benevolente análise de um Decreto-Lei, que permitia o ingresso no Ensino Superior sem aprovação na disciplina de Português.
Efectivamente saiu a sorte grande à estudantada dessa geração. De tenra e impetuosa idade, escapavam ou furavam as malhas da lei. Balanço final: hoje o nosso Homem tem dois livros publicados.
Na apresentação do autor, soube da sua amizade por José Maria Pedroto, e foi inevitável recordar a passagem deste “mister” pelo grande clube do meu coração, que apesar das recentes derrotas ainda se chama Vitória de Setúbal.
Uma jovem estudante lê um excerto de um conto das “Minhas Memórias da Quadrilha” que trata do funeral da Professora de Português.
A “quadrilha” do Alçada tem tanto de irreverente como de justa, pois um chumbo injusto de um aluno devido à prepotência do Docente não ficará impune e terá a vingança adequada.
A prima do autor – Rita Castelo Branco -, usa a palavra para falar do livro “No Trilho dos Seis Zimbros”, “escrito de uma forma inteligente, que nos suscita curiosidade e nos transporta de imediato à Serra da Estrela, aos seus trilhos e às suas tão conhecidas bagas de zimbro; leva-nos às raízes, não só da flora única que pela serra brota, mas da própria família Alçada. Estes seis contos são fruto de pessoas que admira e que desta forma quis homenagear. O autor, com a sua escrita despretensiosa e directa, ensina-nos a olhar para todas as coisas como a aventura de uma criança e a experiência e sabedoria dos mais velhos.”
A prima enaltece ainda “o trilho pautado por valores que nos foram transmitidos: a nossa maior herança é a família, a integridade, o respeito, a amizade e o serviço aos outros.”
Há igualmente o sublinhar da importância da formação cristã e escutista no trilho do nosso Homem, um trilho de esperança, desafio e solidariedade: “sempre alerta para as pedras que vamos encontrando no nosso caminho e para as pessoas que nos ajudam a desviar dos obstáculos, ou a amparar as nossas quedas.”
Deixemos o vento destas Beiras bater-nos no rosto, enquanto percorremos o nosso trilho rodeado de zimbros, brindando a um maior bem – O AMOR!
António Alves Fernandes
Aldeia de Joanes
Dezembro/2017