NA ROTA DA LAMPREIA

Há tempos foi lançado o desafio de uma viagem ferroviária a Tancos, inserida na Rota da Lampreia. O programa era aliciante, além do almoço, incluía uma viagem de barco pelo Tejo, visita ao Castelo do Almourol e jogos tradicionais.

Organizado por Joaquim Barata, um Grupo de Funcionários dos Serviços Prisionais, a maioria já aposentado, fez-se ao caminho, vindos de Covilhã, Fundão, Castelo Branco e Vila Velha de Rodão, e portadores de uns mimos regionais. Na estação de Vila Velha de Rodão, muitos alunos da Escola Secundária, acompanhados com os seus professores, foram nossos companheiros na visita de estudo ao Castelo de Almourol.

Em Tancos dois elementos ligados à Rota conduziram-nos para o Cais de El-rei e no Barco Cascais iniciou-se a viagem fluvial ao Castelo do Almourol. Ali chegados, vimos várias páginas da nossa história. Os diversos painéis explicam-na. O Espaço também tem muitas lendas: dos pescadores, das três mouras, de D. Ramiro, do Gigante do Almourol, entre outras. Situado num ilhéu, foi ocupado pelos romanos e mais tarde pelos muçulmanos, terreno que conquistaram aos visigodos.

No Séc. XII existia já uma fortificação militar, e em 1129 D. Afonso Henriques conquistou aquele espaço, que entregou aos Cavaleiros da Ordem dos Templários. O mestre Gualdim Pais, chefe desta Ordem, construiu este Castelo e outros a norte do Rio Tejo, formando uma linha de defesa do território. Mais tarde, D. Dinis entregou-o à Ordem do Templo. Castelo de grande valor estratégico, com traços de arquitetura militar templária, com planta quadrangular, muralhas elevadas e torre de menagem, de onde se observa uma paisagem inesquecível sobre o Rio Tejo e colinas ribeirinhas.

No Séc. XIX foi entregue ao Exército Português sob a responsabilidade da Escola Prática de Engenharia. O Castelo de Almourol é o emblema da Arma da Engenharia, que todos os militares usam nas suas fardas, com orgulho o usei na minha Comissão Militar na Guiné.

No Séc. XX foi classificado como monumento nacional. Tantas vezes a passar na via-férrea, múltiplos olhares para aquele castelo altaneiro, uma fortaleza militar, tantos anos passados e sentimo-nos felizes de pisar aquele espaço pátrio, orgulho de tão gloriosos freires cavaleiros, nossos antepassados, que erigiram Portugal.

No restaurante do Almourol, no átrio de entrada, vemos inúmeros prémios da gastronomia regional. Questionados os proprietários, chega de imediato a informação: “ o serviço é bom, porque os produtos são bons e são de qualidade”.

Pela primeira vez, observa-se um painel com pensamentos, com temas ligados às crianças. Não resisti sem tirar alguns apontamentos. De Pitágoras: “ educai as crianças para que não seja necessário punir os adultos.” De Cícero: “ as crianças corrigem-se com muita facilidade” e de Alberto Einstein: “ a palavra progresso não terá qualquer sentido, quando houver crianças infelizes.” Pensamentos de reflexão…

A acompanhar os aperitivos, fatias fritas em azeite, entre outras especialidades, nada melhor que uns acordes musicais tocados com mestria pelo Zé Galo, nome artístico do tocador do acordeão, do Grupo Musical Canta Logra, fundado em Maio de 2010 em Alagoas (Nisa), com atuações em Portugal, Madeira e Espanha.

No almoço, toca e canta: “ Ribeiro vai cheio/E o barco parado/Tenho o meu amor/Lá, no outro lado.” Desafiado por uma artista respondeu: “Gosto muito de cantar/Com uma boa cantadeira/Eu sou o Zé Galo/ O Chefe da Capoeira.”

No almoço recordaram-se os bons e maus momentos que se passaram na nossa vida profissional, salientando-se o espírito de corpo e de amizade entre todos. Naqueles tempos entrava-se num jogo que tinha regras, com tantas alterações a essas regras, hoje é mais difícil um trabalho que com as suas características é já por si difícil.

As horas fogem e a caminho da estação, percorrendo ruas medievais e templárias, olhamos para às águas do Tejo e lá estão espelhadas as torres e a frontaria da igreja do Arrepiado, com o seu casario branco.

Gratificante o convívio ferroviário com os alunos de Vila Velha Rodão, que manifestando um comportamento cívico louvável, partilharam inesquecíveis momentos musicais e culturais.

António Alves Fernandes

Aldeia de Joanes

Abril/2016