Muitos dos contemporâneos de Jesus já se tinham dado conta que Ele era portador de “uma nova doutrina” (Mc 1,27). Agora, perante o que acabam de ouvir e ver, eles vão mais longe, confessando: “nunca vimos coisa assim”. Curando o paralítico, Jesus ensina e confirma que tem poder para perdoar os pecados dos homens. Não é o milagre que surpreende os presentes, pois já tinham testemunhado muitas outras curas realizadas por Jesus. O que realmente os surpreende, o que nunca antes tinham visto, o que os maravilha e leva a glorificar a Deus é que Jesus tenha efectivamente o poder de perdoar os pecados dos homens!
Os escribas consideram que Jesus está a blasfemar, atribuindo-se um poder que só pertence a Deus. Eles até têm razão ao afirmar que o poder de perdoar pertence exclusivamente a Deus. De facto, o pecado do homem é uma ofensa a Deus e, nessa medida, só Deus, o ofendido, pode perdoar ao homem pecador. No entanto, deveriam ter entendido que Jesus, ao declarar que perdoava os pecados ao paralítico, estava a revelar-lhes que tem poder igual ao de Deus, ou seja, que é verdadeiro Deus. Na verdade, a partir do que já tinha ensinado e pelos milagres que já tinha realizado, os escribas tinham a obrigação de acreditar nas palavras de Jesus. Alguém que ensina com autoridade e realiza “as obras de Deus” não pode estar a blasfemar, não pode estar contra Deus, não pode atribuir-se indevidamente aquilo que é próprio de Deus.
A fim de provar que tem realmente poder para perdoar os pecados e mostrar aos escribas como estão enganados a seu respeito, Jesus cura o paralítico. Muito provavelmente, mesmo com este sinal extraordinário, os escribas continuam a pensar mal de Jesus e a rejeitá-l’O. Porém, muitas outras pessoas maravilham-se com Ele e glorificam a Deus. Esses experimentam o que antes nunca tinham visto: a misericórdia de Deus e a graça do perdão!
“Ao ver a fé daquela gente…” Jesus reconhece que aqueles homens (o doente e os que o transportam) acreditam n’Ele. É a fé que os move a ir ao encontro de Jesus e os leva a vencer todos os obstáculos até chegarem junto d’Ele. Por isso mesmo, Jesus conclui que estão preparados para lhes revelar o que não esperam e para dar ao doente aquilo que ele não pede: “Filho, os teus pecados estão perdoados”. Ao paralítico, que lhe pede a cura, Jesus concede-lhe o perdão dos seus pecados. A todos os outros, Jesus revela que Ele não tem apenas o poder para fazer milagres, mas que tem um poder maior e mais vantajoso para os homens, o poder de perdoar.
“Nunca vimos coisa assim”. Jesus não veio ao mundo para curar os doentes. Se curou alguns, foi para manifestar o poder do amor de Deus e como Deus é sensível ao sofrimento do homem. Jesus veio para perdoar os pecados dos homens. Ofereceu-se a si mesmo ao Pai, para redimir e vencer o pecado, concretizando assim a salvação da humanidade.
E, para que em cada tempo e em cada lugar, cada homem possa usufruir da misericórdia de Deus, Jesus deixou-nos o sacramento do Perdão. Deste modo, quem acredita em Jesus, quem tem consciência de ser pecador e sente arrependimento, quem tem humildade para confessar os pecados e implorar o perdão, quem deseja realmente viver na graça e na paz de Deus, esse viverá uma experiência única e inexcedível e poderá exclamar: nunca vi coisa assim, não há experiência igual, o perdão de Deus vale mais do que todas as curas e milagres!
“Nunca vimos coisa assim”. Todos podemos e somos chamados a fazer esta experiência. Na verdade, Jesus deseja dizer a cada um de nós: “Filho, os teus pecados estão perdoados”. E nós, que bem precisamos do seu perdão, não o impeçamos de se mostrar misericordioso para connosco.
A fé do paralítico deu a Jesus a oportunidade de lhe perdoar os pecados – a maravilha de Deus que os homens nunca tinham visto de um modo tão patente e próximo. A fé é indispensável para que Deus possa realizar em nós as maravilhas da salvação. E só à luz da fé somos capazes de captar e maravilhar-nos com as obras de Deus. O homem que não acredita não pode impedir Deus de o amar, pois Deus ama sempre e a todos. Porém, impede que o amor e o perdão de Deus cheguem ao seu coração, ou seja, não deixa que Deus o salve.
Pe. José Manuel Martins de Almeida