Papa Francisco cumpre 1º ano de pontificado
Um Papa que surpreende e desconcerta
Completa-se hoje o primeiro ano do pontificado do Papa Francisco, um Papa que continua a surpreender pelo discurso directo e interpelativo em questões essenciais para a vida da Igreja e da própria sociedade.
No dia da eleição, apresentou-se à multidão que aguardava o fumo branco na Praça de S. Pedro como o Bispo de Roma e um Papa que foram buscar ao cabo do mundo. Saudou a multidão com um simples boa noite e depois pediu que rezassem por ele antes de dar a sua primeira bênção papal. No dia seguinte passou pelo hotel onde esteve hospedado, antes do conclave que o elegeu, para pagar a sua conta.
Nesse mesmo dia dirigiu-se aos cardeais para lhes lembrar que a Igreja tem de ser mais do que uma ONG piedosa; e aos jornalistas dois dias depois diz claramente o que quer da Igreja – uma Igreja pobre com os pobres.
Surpreende no primeiro domingo a seguir à sua eleição, quando decide presidir à Missa na Igreja de Santa Ana (a Igreja paroquial do Vaticano), despedindo-se dos fiéis, no final, à porta da Igreja, com um cumprimento para cada um. Na cerimónia do início do seu pontificado, perante 130 delegações estrangeiras, sublinhou que o verdadeiro poder só pode ser serviço.
Impressionou com a decisão de continuar a viver na casa de Santa Ana e recusar o Palácio Papal do Vaticano para sua residência.
Na primeira missa crismal lembra aos padres que têm de ser “padres próximos do povo” e nessa mesma tarde sai do Vaticano para celebrar a Missa comemorativa da Instituição da Eucaristia e no lava-pés inclui uma mulher muçulmana.
A quatro de Junho aprova o decreto das virtudes heróicas do nosso venerável D. João de Oliveira Matos.
Em Julho visitou Lampedusa e abanou o mundo com as palavras três vezes pronunciadas de “vergonha, vergonha, vergonha”, referindo-se ao escândalo das mortes entre os imigrantes que tentam entrar na Europa, vindos de África. No final de Julho, no Brasil, na Jornada Mundial da Juventude, perante três milhões e meio de jovens, deixa impressionante mensagem de esperança e de apelo à renovação. Em Novembro publica a exortação apostólica “Evangelii Gaudium”, que é um arrojado programa de renovação da Igreja, com base nos imperativos do Evangelho. Poucos dias antes tinha convocado o Sínodo extraordinário sobre a Família, que promete desenvolvimentos sobre as grandes questões que actualmente se colocam. A este propósito, fala no dever de acompanhar sem condenar os casais constituídos por divorciados. Em 11 de Dezembro é eleito pela revista “Time” a personalidade do ano, em reconhecimento pela dinâmica de renovação que, em apenas nove meses de pontificado, soube introduzir nas estruturas milenares da Igreja com repercussão na sociedade. Em Fevereiro escreve uma carta às famílias sobre o próximo Sínodo que lhes é dedicado e encontra-se com 25 mil noivos na Praça de S. Pedro.
Ao referirmos este conjunto de factos que marcaram o primeiro ano de pontificado do Papa Francisco, desejamos sublinhar a originalidade com que ele está a exercer o ministério petrino baseado na frescura e na originalidade do Evangelho, por um lado, e na atenção permanente às grandes questões da actualidade, por outro. A realidade da instituição familiar que propõe como tema do próximo Sínodo, assim como a forma como se dirigiu à Igreja e à sociedade, recolhendo sensibilidades sobre os problemas que afectam esta mesma instituição são exemplo de como ele deseja governar com a máxima proximidade à vida das pessoas e a maior colaboração de todos. Os recorrentes apelos à transparência e à coerência dirigidos para dentro da Igreja e nomeadamente para a Cúria Romana são sinal claro de que ele quer promover as necessárias mudanças exigidas pelo Evangelho. Daí os insistentes apelos para que a Igreja se ponha a caminho em direcção às periferias; para que redobre a sua atenção aos mais frágeis e feridos na caminhada da vida, a ponto de lhe lembrar que ela tem de se assumir cada vez mais como um verdadeiro hospital de campanha, neste mundo cheio de fragilidades e feridas.
Ao tomar o nome de Francisco, quis dar-nos a saber que assumia no seu pontificado o exemplo do Santo de Assis, um exemplo de pobreza radical e total disponibilidade para a causa do Evangelho.
Que o Senhor o conserve e a todos nos dê coragem para seguir as suas orientações profundamente evangélicas e desejosas de introduzir na Igreja, para bem da sociedade, as grandes mudanças que o Concílio Vaticano II, cinquenta anos depois, continua a urgir.
13 de Março de 2014
+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda
Foto: www.padrehugo.com / JMJ