1. Estamos em peregrinação ao Santuário de Fátima, como milhões de pessoas o fazem ao longo do todo o ano. E nós viemos a Fátima para, através de Maria Santíssima, chegarmos mais perto de Jesus. de facto, Nossa Senhora, hoje, aqui no seu Santuário, continua a repetir-nos: ide a Jesus e fazei tudo o que Ele vos disser.
Vamos , por isso a Jesus para ouvir tudo o que Ele nos quer dizer.
2. Jesus hoje diz-nos no Evangelho, entre muitas coisas, que não temos neste mundo morada permanente. Por isso, Ele vai para o Pai e, como diz o Evangelho, por momentos, deixaremos de o ver. De novo voltaremos a vê-lo, na verdade e na profundidade da Sua relação com o Pai. Nessa relação de Cristo com o Pai, a nossa relação com Ele e, n’Ele, entre todos nós ficará também profundamente transfigurada. E continua Jesus a dizer-nos que, neste entretanto, ou seja nestes tempos actuais, em que a história decorre com seus altos e baixos, tempos que são sempre penúltimos, pois os últimos virão no fim da história, Ele não nos deixa órfãos. Não nos deixa órfãos, porque nos envia o Espírito Santo, o Consolador, como lhe chama o Evangelho de hoje.
Ele é o Espírito da Verdade, que o mundo não compreende, porque, ontem como hoje, o mundo não sabe ou não quer distinguir a verdade da mentira.
É esse mesmo Espírito que repousa sobre cada um de nós e nos ilumina e nos fortalece constantemente para darmos cumprimento à missão que Jesus nos confia.
Missão que o profeta Isaías, com séculos de antecedência, interpreta assim: a) levar a Boa Nova aos que sofrem; b) consolar os corações despedaçados; c) levar a liberdade aos prisioneiros; d) proclamar o ano da graça do Senhor. Por outras palavras, transformar este mundo velho e gasto em que nos encontramos no mundo novo que desejamos e Deus nos quer oferecer.
3. Estamos em peregrinação ao Santuário de Fátima para, junto de Nossa Senhora e com a ajuda que ela nos pode dar, lembrarmos a missão que o Senhor Jesus nos entregou desde o dia do nosso Baptismo. E essa missão é a mesma que entregou aos apóstolos, antes da Sua ascensão ao Céu, quando lhes disse – “ Ide por todo o mundo, anunciai a Boa Nova. Fazei discípulos de todos os povos”. É esse mesmo mandato que Jesus continua a entregar a cada um de nós. E nós, como Maria, queremos saber escutá-lo, de novo e como se fosse a primeira vez; e nesta escuta de Jesus, como aconteceu com Nossa Senhora, nós queremos, em primeiro lugar, conhecê-lo mais e melhor, sobretudo através do encontro com a Sua Palavra, que, mais do que um ensino, é presença real do mesmo Jesus no meio de nós; queremos, com Maria, crescer no amor a Jesus Cristo, ao seu Evangelho e consequentemente àquele modo genuinamente cristão de compreender o mundo, as pessoas e as suas relações. E, como Maria, não podemos querer guardar só para nós este tesouro, porque, por vontade do mesmo Deus e necessidade de todas as pessoas, ele tem um destino universal. Por isso, o ser missionário faz parte da nossa identidade de fiéis cristãos a quem Deus confia a responsabilidade de intervir na condução do mundo, por caminhos de autêntica humanidade e na fidelidade aos desígnios do mesmo Deus criador e Pai de todos.
4.Isto é o que pretende a nova evangelização para a qual continuamos a ser constantemente convocados.
E somos convocados para intervir activamente em programas de nova evangelização pelo esforço que todos estamos a fazer, sob orientação da Conferência Episcopal Portuguesa, a qual nos convida para repensar a pastoral da Igreja em Portugal. E repensar a pastoral da Igreja significa assumirmos todos a coragem de rever o que estamos a fazer nas formas de viver e anunciar a Fé, seja nas nossas Paróquias, seja nas nossas famílias, seja nos distintos organismos pelos quais a Igreja quer levar a novidade do Evangelho ao coração da história, à vida real das pessoas feita de esperanças e incertezas, de alegrias e também de sofrimentos, de muitos êxitos, mas também alguns fracassos. Este repensar a pastoral da Igreja exige que nós sacerdotes sejamos capazes de estabelecer novas prioridades na distribuição do nosso tempo e das nossas energias; mas exige também, aos fiéis leigos que ajudem a criar todas as condições para que o conjunto do Povo de Deus e cada uma das nossas comunidades cristãs se convertam a essas novas prioridades. O peso das tradições, que muitas vezes temos dificuldade em romper, dificulta, em boa medida, este repensar a pastoral da Igreja em muitos dos nossos ambientes. Peçamos a Nossa Senhora, neste seu Santuário, que é um bom exemplo de como se pode evangelizar a religiosidade popular e colocá-la ao ser viço da Fé; peçamos-lhe que nos ajude a purificar e a aprofundar sempre mais a nossa Fé, que nos chega também envolvida em muitas tradições e a encontrar os melhores caminhos para anunciarmos de novo Jesus Cristo Ressuscitado ao nosso mundo, cumprindo assim o apelo que insistentemente nos é feito para a Nova Evangelização.
Este apelo para a nova Evangelização chega-nos também do Sínodo dos Bispos que se realizará em Roma no Outono do próximo ano 2012. É-nos pedida, a nós cristãos e comunidades cristãs, que tenhamos, desde já, uma intervenção activa na sua preparação, quer dirigindo ao Senhor preces constantes pelos bons resultados desta iniciativa, quer respondendo às questões que são colocadas a todo o Povo de Deus no documento preparatório já tornado público sobre as grandes linhas ou lineamenta deste importante acontecimento para a Igreja Universal.
Para a nova Evangelização nos interpela também a Igreja presente nas nossas variadas comunidades cristãs, com sinais evidentes de que precisam de se renovar; e igualmente iniciativas de nova evangelização está a pedir-nos a sociedade em que nos encontramos, onde faltam cada vez mais as razões de esperança e de vida com sentido, que só o Evangelho do Senhor lhe pode oferecer.
Irmãos e irmãs estamos em peregrinação no início de um novo ano pastoral. E desejamos colocar este novo ano sob o alto patrocínio da nossa Mãe do Céu. Isto para que ela estimule a nossa criatividade e possamos encontrar os novos caminhos da relação viva com Cristo Ressuscitado e também as melhores formas de anunciar, de novo, Jesus Cristo nos nossos ambientes, com muitas e profundas marcas de referências cristãs, mas onde as pessoas, cedendo muitas vezes às pressões da moda, vivem como se Deus e Jesus Cristo não existissem.
Que Nossa Senhora de Fátima e o exemplo dos 3 Pastorinhos, neste tempo de preparação do Centenário das Aparições, nos acompanhem e nos ajudem a percorrer os caminhos da missão para a nova evangelização.
+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda