QUOTIDIANOS HOSPITALARES – PARTE 3

As gentes de Condeixa-a-Nova não se esqueceram de festejar a Nossa Senhora das Candeias. Ao amanhecer já estrondavam foguetes e à noite, embora a Bondosa Senhora já tivesse as candeias acesas, não faltou o luminoso fogo-de-artifício, passageiro e com muitas lágrimas… Um professor amante da leitura e da escrita, com obra publicada, troca impressões sobre autores portugueses.

Já estão adiantados os preparativos para o Desfile de Carnaval em Condeixa onde vou participar com os Alunos das Escolas Secundárias e Primárias. Vou recordar o Entrudo na minha Aldeia Raiana, e os desfiles que os Escuteiros do CNE de Setúbal organizavam pelas ruas sadinas, vestidos de soldados romanos… ou de maoístas, ainda os Chineses não tinham invadido a Europa.

No obituário destaca-se o falecimento da Mãe de uma funcionária. No fim da refeição, todos rezamos um Pai Nosso e uma Avé-Maria pelo seu eterno descanso e é entregue um ramo de flores.

Também partiu de Aldeia de Joanes (Fundão) o digníssimo Professor Luís Osório, muitos anos ligado ao Associativismo. Tinha sempre a ACDAJ (Associação Cultural e Desportiva de Aldeia de Joanes) aberta para todos os eventos culturais. Sempre disposto a colaborar. Deus não se vai esquecer dele, assim como muitos aldeiajoanenses.

Mais uma reunião comunitária para debatermos as nossas condutas, deveres e direitos e para uma distribuição de tarefas comunitárias e pedagógicas.

Aqui o tempo passa depressa porque há sempre actividades. Hoje vimos um filme e tenho de responder a um questionário sobre a obra. Pareço um estudante de Cinema.  

As estagiárias da Escola Superior de Coimbra terminam a sua passagem por esta Casa, deixando afectos, competência profissional, respeito: o doente era o seu principal objectivo humanitário. Há utentes que choram à sua partida. Vão ter um grande futuro. Se o País prescindir dos seus serviços de enfermagem, se as “descarta“, só terão um caminho: a emigração.

Há muitas coisas na vida que nunca mudam, às vezes ainda sou a criança que já fui. Por exemplo, faço birras com Deus, o ano passado quase cortei relações com Ele, tenho dúvidas que oiça os meus lamentos. Prefiro desabafar com a minha Esposa, sempre uma sentinela vigilante e amorosa, e com os meus Filhos. Mas, outras vezes, quando estou sozinho, ajoelho-me na Capela arquitectada em Cruz e volto a reconciliar-me com Ele.

Uma utente, que faz ginástica todos os dias, interrompe a minha oração:

– É só para lhe dizer que o meu clube é dormir bem.

Se estivesse junto de nós, faria cem anos o Padre Ezequiel Augusto Marcos, que marcou muitas centenas de jovens em Cótimos (Trancoso), na Bismula (Sabugal) e em Vilar Formoso, onde está sepultado junto dos seus Pais.

Nas televisões só se fala em corrupção: presidentes de clubes, grandes empresários, magistrados… Será que a montanha irá parir um rato? A ver vamos como são os juízes a julgar os juízes… O meu Mário conta-me ao telefone uma história que envolve dois advogados:

– Como é este Juiz?

– Incorruptível.

– Ó pá, são os mais caros.

Rio às gargalhadas.

Dos juízes portugueses saio para uma acção de formação sobre obstipação, onde as formadoras nos instruem sobre a função do intestino: evacuar o que não interessa.

Leio compulsivamente tudo o que me chega às mãos, sobretudo livros trazidos por familiares e amigos, a quem muito agradeço.

Abro o email e leio as palavras do Presidente da Cáritas, Professor Eugénio da Fonseca: “Força António.”

António Alves Fernandes

Aldeia de Joanes

Fevereiro/2018