Regressos para matar saudades
Eles aí estão…São milhares de emigrantes que todos os anos, sobretudo nos finais de Julho e princípios de Agosto, atravessam as nossas fronteiras. A Vilar Formoso diariamente chegam mais de dez mil viaturas A recebê-los com um cartão de boas-vindas está a GNR, seguramente para lhes dar conselhos de segurança rodoviária.
Durante estes meses, de norte a sul, de este a oeste, as nossas localidades vão ter de novo vida, movimento, alegria, festas e convívios familiares.
Encontrei-me pessoalmente com quatro dos nossos emigrantes, que me contaram um pouco da sua história e o porquê do regresso temporário às origens.
Fazenda Damásio Pereira Filipe Miguel, de 33 anos, filho de pais portugueses, mãe de Alpedrinha, pai de Castelo Novo. Nasceu em França e trabalha em Lille. Tem dupla nacionalidade, mas torce por tudo o que é português. Ficou feliz por Portugal ter ganho o Campeonato Europeu à França. Em criança passa muito tempo nas terras dos seus pais. Há doze anos que não vinha a Portugal. Os jovens da sua geração já escolhem outras paragens, vão para países da América do Sul. “Este ano o motivo fundamental da vinda a Portugal é visitar os meus familiares e procurar conhecer melhor Portugal”.
Teresa Maria Gaiolas Alves de 56 anos, natural do Fundão, a residir há 45 anos em França, na região Besançon. Com exceção do ano passado, por problemas de familiares doentes, todos os anos vem a Portugal, para visitar a família e regressar às suas origens. Fica em Aldeia de Jones, onde tem residência, mas a filha e os netos vão para a praia. Fizeram festa quando Portugal ganhou à França. A filha diz que quer dar uma cultura portuguesa aos filhos, que passa fundamentalmente pela aprendizagem da língua portuguesa.
Teodoro Leitão, de 66 anos, natural de Aldeia Nova do Cabo, está em França, na cidade de Tours, há 48 anos. Conta-nos que quando tinha 18 anos, juntamente com um seu conterrâneo, resolveu ir ao encontro do seu pai já ali emigrado. Sozinhos e sem ajudas de passadores, partiram de comboio do Fundão até Vilar Formoso ao cair da tarde. Ali foram intercetados pela guarda civil, à qual conseguiram fugir, e seguiram a pé pela via-férrea até Cidade Rodrigo. Na estação de caminho-de-ferro desta cidade foram alertados pelo chefe, um homem que odiava Franco, que lhes recomendou viajarem num comboio de mercadorias até à fronteira francesa. Assim cumpriram e chegaram são e salvos para lá da fronteira castelhana. Num posto da polícia francesa foi-lhes facultado um salvo-conduto e as indicações para se juntarem aos seus familiares e amigos. Foram recebidos com uma grande festa por todos os seus compatriotas. “Fomos uns emigrantes com a sorte que outros não tiveram. A vida dos emigrantes é muito dura e difícil, o coração está sempre em Portugal. Não há um país como o nosso. Todos os anos aqui nos deslocamos porque é a nossa terra, temos aqui as nossas raízes, a nossa família, a nossa casa. Na França nasceu-nos um filho que chega a vir três vezes a Portugal por ano e a minha filha também vem todos os anos”.
A sua esposa, Maria da Conceição Morais, apesar de alguns problemas de saúde, não resistiu a dar uns saltos de alegria quando Portugal ganhou o Campeonato Europeu: “o nosso coração é sempre de Portugal, nunca é da França.”
Abel Ramos Farinha de 72 anos, natural de Aldeia da Ponte – Sabugal, há 46 anos em Paris. Encontro ocasional, um abraço apertado de amizade e de memórias, um benfiquista, no Núcleo dos Sportinguistas do Fundão, ex-companheiro da Escola Apostólica de Cristo Rei em Gouveia, responde, “ venho anualmente uma vez, às vezes duas, principalmente no verão a fim de participar nas capeias arraianas. Ou touros fazem parte do meu ADN.”
Nestas breves histórias são bem visíveis os pontos comuns que movem os nossos emigrantes a regressar à Terra, estejam na França, na Alemanha, na Suíça ou em qualquer parte do mundo. A diáspora portuguesa merece todo o nosso respeito e admiração.
António Alves Fernandes
Aldeia de Joanes
Agosto/2016