As Jornadas Nacionais de Comunicação Social são uma iniciativa, já habitual, do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja, integrado na respetiva Comissão Episcopal, que também tutela a Cultura e os Bens Culturais.
Este ano, prolongam, tematicamente, a reflexão sugerida pela Mensagem para o 46º Dia Mundial das Comunicações Sociais, de Bento XVI. Aliás, foi na apresentação da Mensagem, que teve lugar em Lisboa no passado mês de maio, que se viu a conveniência de continuar a aprofundar o seu tema central. E o seu tema central sintetiza-se numa palavra: silêncio.
Na aparente incompatibilidade entre silêncio e comunicação esconde-se muito do que esta tem de essencial. Como afirma Bento XVI, “o silêncio é parte integrante da comunicação e, sem ele, não há palavras densas de conteúdo”. E concretiza mais adiante: “Por isso é necessário criar um ambiente propício, quase uma espécie de ‘ecossistema’ capaz de equilibrar silêncio, palavra, imagens e sons”. Procuramos aproximar-nos a essa espécie de ecossistema.
Para tal, sugerimos que se desdobre a consideração do silêncio: por uma parte, o silêncio necessário ao comunicador; por outra, os silêncios impostos ao comunicador: os que responsável e livremente ele próprio assume como exigência da verdadeira qualidade do exercício da comunicação e os que, de uma ou outra forma, lhe são impostos desde fora. A estes chamamos, especialmente ao último, silenciamentos.
Sem pretender apressar conclusões, para alcançarmos o desejável ecossistema provavelmente verificaremos que faltam silêncios; que faltam auto-silenciamentos; que sobram silenciamentos.
A resposta a estas e a outras tantas questões remete, em última instância, para a qualidade humana, social e profissional do comunicador.
No atual contexto tecnológico, esta responsabilidade cresce não só pela importância dos conteúdos produzidos, mas também porque os comunicadores profissionais, ou assimilados, são referenciais de comportamento comunicativo. Com efeito, se no ano de 1971, a Instrução Pastoral Communio et Progressio, publicada por mandato do Concílio Ecuménico Vaticano II, podia afirmar que “os meios de comunicação são uma espécie de praça pública, onde se trocam impressões espontaneamente” (24), que diria hoje?
As redes sociais estão abertas a todos, a toda a hora, com cobertura a escala global. Hoje, qualquer aprendiz de comunicador tem acesso a mais e melhores recursos tecnológicos que o bom profissional dos anos 70. A ampliar ainda mais esta problemática, a facilidade do anonimato impulsiona a mordacidade crítica, a invenção irresponsável, a calúnia descarada. Além disso, a progressiva alteração do paradigma comportamental, que privilegia o parecer na tentativa de esconder a penúria do ser, empurra para um demolidor nudismo informativo.
Este panorama, que, obviamente, tem também enormes virtualidades, não pode arrastar o comunicador responsável: seja nas redes sociais, seja nos meios mais convencionais. Pelo contrário, deve responsabilizá-lo. Necessita ganhar a batalha do silêncio e, no mínimo, sobreviver ao risco ou à ameaça dos silenciamentos. Caso contrário, será apenas mais um náufrago no extenso oceano das palavras, das imagens e dos sons.
D. Pio Alves, Bispo Auxiliar do Porto
Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais