No dia em que celebra a maternidade divina de Maria e evoca a circuncisão de Jesus, a Igreja volta a propor-nos parte do evangelho de Natal, aquela que diz respeito à visita dos pastores.
O Anjo do Senhor quebra o silêncio da noite e interrompe o sono dos pastores para lhes anunciar o nascimento do Salvador. Perante uma notícia desta natureza e antes de a sentirem como “uma grande alegria”, os pastores devem ter questionado a verdade do que acabavam de ouvir. Tudo lhes pareceu mais real e credível quando escutaram o cântico “do exército celeste”. Este cântico foi para os pastores o que a gravidez de Isabel foi para Maria: um sinal de que algo de divino estava a acontecer na terra dos homens. E como Maria partiu, de imediato e apressadamente, ao encontro de Isabel, os pastores decidiram partir, naquele mesmo momento, ao encontro de Jesus.
Querem ver o que aconteceu, ou melhor, desejam ver Aquele cujo nascimento está a ser celebrado tão festivamente no Céu. Vencem o sono, o frio, a escuridão, a distância. Chegam a gruta, vêem o Menino, observam que é um bebé igual a qualquer outro recém-nascido e, ao mesmo tempo, lembram que, segundo o Anjo, é Cristo Senhor, o Messias de Deus, o Salvador do mundo. Detêm-se a meditar e a contemplar o mistério. Depois, maravilhados e transbordantes de alegria, contagiam todos aqueles que encontram, partilhando com eles a sua experiência. Mais, eles sentem-se impelidos a glorificar e louvar a Deus pelo que ouviram ao Anjo e viram na gruta. Sentem-se reconhecidos e exprimem o seu contentamento por Deus os ter escolhido como primeiros destinatários da notícia do nascimento e como primeiras visitas daquele Menino.
“Meditando-os em seu coração”. Maria guarda na memória do seu coração, a fim de meditar mais profunda e demoradamente, tudo o que estava a acontecer e se dizia a respeito do seu Filho: a visita dos pastores, a mensagem do Anjo que eles contam, a alegria e maravilha que provocam nas pessoas. No íntimo do seu coração, Maria quer perscrutar o verdadeiro alcance de todos esses factos e palavras, ou seja, o que eles revelam sobre o mistério que a envolve.
Mais tarde, no final do episódio da perda e do encontro de Jesus no templo de Jerusalém, o evangelista Lucas diz-nos: “Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração” (Lc 2,51). Maria guarda no coração o facto de Jesus ter ficado no templo e a explicação que dá para esse facto. Maria sente necessidade de uma ulterior reflexão, feita em silêncio e sem pressas, em profundidade e na presença de Deus, a fim de compreender melhor o comportamento e as palavras de Jesus, para conhecer melhor o próprio Filho.
Maria, após a explicação do Anjo Gabriel e o sinal que ele lhe deu, considerou razoável e possível a proposta que Deus lhe faz. No entanto, isso não significa que ela tenha entendido plenamente o âmbito de tal proposta, quer no que se refere à sua maternidade quer no que se refere à vida e missão do Filho. Compreendeu o suficiente para poder dizer sim de um modo consciente e livre. Mas resta-lhe um longo caminho a percorrer, uma tarefa a realizar todos os dias no íntimo do seu coração. Sendo o Deus do amor e sendo infinito o amor de Deus, só ao nível do coração e numa meditação continuada, Maria pode aproximar-se, progressivamente, da verdade de Deus e do mistério de Jesus.
A experiência dos pastores, ensina-nos que para conhecer Jesus não basta ouvir falar d’Ele, mesmo que seja um Anjo a falar. É necessário ir pessoalmente ao seu encontro, percorrendo o caminho que nos conduz até Ele. Depois, permanecer com Ele e entrar na sua vida íntima. Finalmente, acolhê-lo na nossa vida e deixar que Ele tome conta de nós. Por sua vez, Maria confirma que não é suficiente um conhecimento de ouvir dizer, um conhecimento meramente teórico e intelectual. Ninguém pode afirmar que já conhece bem Jesus pelo simples facto de ter frequentado a catequese ou mesmo um curso completo de teologia. É necessário encontrarmo-nos com Jesus no nosso coração e viver quotidianamente, durante toda a nossa vida, em comunhão com Ele. Só então nos maravilharemos e sentiremos fascinados por Ele, experimentaremos a alegria de acreditar n’Ele e a Ele nos dedicaremos totalmente. Então sim, anunciá-l’O-emos e seremos suas testemunhas com entusiasmo e com paixão!
Pe. José Manuel Martins de Almeida