Solenidade do Espírito Santo

“Mandai, Senhor, o vosso Espírito”

 

            Inspirados no Salmista, também nós imploramos a Deus que envie o Espírito Santo e que, através d’Ele, renove a face da terra. Detenhamo-nos um pouco sobre este nosso pedido: Antes de mais, será ele sincero? Queremos realmente o que pedimos ou limitamo-nos a repetir as palavras do Salmista? Desejamos mesmo que Deus envie o seu Espírito e que o mundo dos homens seja transformado por Ele? Estamos dispostos a acolher o Espírito na nossa vida e a deixar que Ele comece em nós e a partir de nós a renovação da face da terra? Não esqueçamos: a face da terra, que é preciso e só o Espírito Santo pode renovar, somos nós! Nós somos aquela face que Deus criou e quer à sua imagem e semelhança.

            Jesus anunciou, por diversas vezes, o envio do Espírito Santo e revelou os aspectos essenciais da sua acção junto dos apóstolos. Por um lado, ajudará os apóstolos a atingir a verdade plena do mistério de Jesus. Por outro, ajudá-los-á a realizar, com fidelidade e eficácia, a missão que receberam de d’Ele. Antes de mais, como verdadeiro Mestre, o Espírito Santo continuará formação permanente dos apóstolos, ajudando-os a compreender sempre mais e melhor o que Jesus disse e fez. Depois, agindo neles (e na Igreja), fará com que Jesus estenda e prolongue a sua missão até aos confins do mundo e até ao fim dos tempos.

            Segundo o evangelista João, no próprio dia da ressurreição, durante a primeira aparição aos apóstolos, Jesus comunica-lhes o Espírito Santo. Antes, Jesus confiara aos apóstolos a mesma missão que Ele recebera do Pai. Depois, indica-lhes que a prioridade dessa missão consiste no perdão dos pecados. Não podia ser outra prioridade, pois Deus enviou o seu Filho ao mundo para redimir o homem, para lhe restituir a vida e a dignidade perdida com o pecado, para o regenerar e recriar, para fazer dele um homem novo.  Na verdade, com a sua morte e ressurreição, vencendo o pecado do homem, Jesus renova todas as coisas (Ap 21,5). A partir desse momento, tem início um mundo novo e uma nova humanidade.

            Agora, esta novidade acontece na vida do homem e do mundo, graças à acção do Espírito Santo. E o Espírito Santo exerce essa sua missão, antes de mais, através dos sacramentos. No Baptismo, faz o homem nascer de novo, do Alto, de Deus. E só quem nasce do Espírito pode entrar no Reino de Deus (Jo 3,3.5). Depois, pelo sacramento da confirmação, conduz os cristãos à maturidade da fé, compromete-os na vida da Igreja, faz deles testemunhas diante dos homens, capazes de proclamar, com desassombro e alegria, as maravilhas de Deus. Proporciona-lhes o Pão da vida eterna, o alimento do homem novo, na Eucaristia. E faz ainda chegar o perdão misericordioso de Deus ao coração do pecador arrependido, no sacramento da Reconciliação.

            Mais: O Espírito infunde, naqueles que o acolhem, os seus próprios dons, a saber: a sabedoria, o entendimento, o conselho, a fortaleza, a ciência, a piedade e o temor de Deus (cf Is 11,2). Estes dons conferem ao homem uma capacidade nova para olhar, compreender e apreciar o mundo, as pessoas e os acontecimentos bem como de agir e gerir a sua vida, segundo a medida da verdade e do amor de Deus. Sim, quem nasce do Espírito e vive segundo o Espírito é capaz de fazer de um modo novo todas as coisas, o que diz respeito à sua vida pessoal, familiar, eclesial e social. Esse produz na sua vida os frutos do Espírito: “amor, alegria, paz, paciência, benignidade, fidelidade, mansidão, auto-domínio” (Gl 5,22-23). Deste modo, nele através dele, o Espírito vai renovando a face da terra, ou seja, a face da terra (a humanidade) vai reflectindo a luz do rosto de Deus, a realidade do mundo dos homens vai-se aproximando do sonho de Deus.

            “Mandai, Senhor, o vosso Espírito …” Ficaste com uma ideia do que o Espírito pode fazer por ti e também do que Ele exige de ti. E ainda o que, graças a Ele, podes tu fazer em favor da Igreja e do mundo. Posto isto, ainda tens coragem de O pedir a Deus e de aceitar o desafio de seres conduzido por Ele? Se optas pelo Espírito, consciente de que sem Ele não és nem podes viver como cristão, então não o peças apenas no dia do Pentecostes, mas implora-O e sê-Lhe dócil todos os dias.

Pe. José Manuel Martins de Almeida