UMA VIAGEM AO CENTRO DO PAÍS

Através da AFAI (Associação dos Funcionários Aposentados dos Impostos), que agrupa os trabalhadores da Covilhã, Fundão e Castelo Branco e seus Familiares, desloquei-me há tempos ao Arneiro (Nisa), com duas motivações fundamentais: saborear a Gastronomia (almoço de lampreia) e visitar o Património Rural e Ambiental das Portas de Almourão.

Num moderno autocarro, seguiu-se viagem por Fundão, Castelo Branco, Vila Velha de Rodão, com uma paragem para observar as colossais Portas de Rodão sobre o Tejo. Cumpridores de horários (há coisas que não mudam na Reforma), à hora marcada estavam nos seus postos os aperitivos alentejanos.

Não muito longe, passava o Rio Tejo, que já foi fonte de muitas pescas, mas que interesses económicos têm destruído com tanta poluição, e ninguém salva um dos maiores rios que atravessa o País. Rio que ajudou a levar o sal para as mesas régias.

Na sua margem esquerda, vêem-se diversas fortalezas, castelos que defendiam a reconquista do nosso território contra as ambições árabes.

Ainda com o gosto da lampreia na boca, observámos ao lado do restaurante um viveiro destes peixes, mexendo e remexendo nas águas, correndo à deriva e escorregando das mãos da sua proprietária.

O Programa indicava a subida para a Serra das Talhadas, com o autocarro a circular com muita prudência e atenção dada a íngreme e apertada estrada municipal de Vila Velha de Rodão. Às vezes dava a sensação que poderia resvalar para terrenos escarpados. Ao nosso lado, e através da visão dos vidros da viatura, admiravam-se árvores a florescer, indicadores da chegada da primavera, pequenas courelas lavradas e preparadas para as sementeiras, os trilhos por onde passavam ovelhas e cabras a caminho dos seus pastos. De vez em quando, uma pequena floresta de pinheiros bravos, misturados com medronheiros e mimosas que molham os pés na água abundante, pequenos montes que parecem em queda para as ribeiras, povoações tão envergonhadas e escondidas que dão a sensação de brotar do chão como cogumelos ou tortulhos.

Quando chegámos junto às Portas de Almourão, ficámos deslumbrados, como que hipnotizados. Nas gargantas da montanha, vê-se a sombra de uma ave. Era um grifo (animal protegido) nas alturas, brincava às nuvens com o sol. Lá muito no fundo, o Rio Ocreza escava e esculpe relevos naturais enquanto corre para desaguar no Tejo.

No Miradouro das Portas de Almourão, somos pequeninos diante da grandeza ofertada pela Mãe Natureza. Pena que os incêndios tenham destruído parte deste Património Rural e Ambiental – reconhecido pela UNESCO -, que é de todos nós. Os portadores de material fotográfico registaram essas imagens únicas, para mostrar a filhos e netos.

É um local apropriado para diversos desportos, escalonamento, alpinismo, ao mesmo tempo que se admiram rebanhos de ovelhas e cabras. Depois do esforço da caminhada, há sempre uma boa refeição com produtos locais, peixinhos do rio ou carnes bem temperadas.  

Em tempos passados, remotos, os garimpeiros atreviam-se a descer aqueles rochedos na procura titânica do valioso metal.

Por estas terras, não faltam também monumentos megalíticos, antas, mas também construções defensivas, de resistência, a fim de impedir o avanço para sul das Invasões Francesas.

Neste Ano do Património, aconselho uma visita a todo este espaço recôndito, um tesouro Histórico e Natural.

Graças à AFAI, fiquei a conhecer melhor algumas paisagens únicas de Portugal.

Em Abril, está agendada uma viagem histórica a Conimbriga – Condeixa-a-Velha, o maior espaço Romano em Portugal.

António Alves Fernandes

Aldeia de Joanes

Março/2018