“O Padre, peregrino da Fé”
Conferência no Simpósio do Clero
Fátima, 7 de Setembro de 2012

1. A vida de fé, vista como peregrinação, tem grande tradição na linguagem cristã. O que define a peregrinação é a atracção por um ponto de chegada que se deseja como síntese última da vida. Mas para se sentir atraído por esse ponto de chegada, supõe um ponto de partida, o presente, onde encontramos já a notícia desse fim definitivo. Só essa experiência presente faz desejar e dá força para a caminhada do peregrino. Na visão bíblica da vida a protologia e a escatologia tocam-se e encontram-se.

Entre a harmonia com Deus em que o homem foi criado, “à imagem e semelhança”, quebrada com o pecado, e a plenitude eterna da comunhão com Deus, há uma relação: um início que anseia pela sua plenitude. A fé é a atitude que Deus planta no coração do homem para que, em etapa de redenção, não perca a notícia de ser “imagem de Deus” e não esmoreça no ardor do desejo de voltar a estar na intimidade com Deus. A fé não tem a harmonia do estado original nem a plenitude do estado definitivo. Ela é a atitude possível do peregrino, do homem redimido do pecado mas ainda em busca da felicidade definitiva. Ela é fruto da redenção, obra de Deus em nós, como o foi a imagem de Deus com que fomos criados. O Evangelista São João di-lo claramente, pondo na boca de Jesus: “A obra de Deus é esta: crer n’Aquele que Ele enviou” (Jo. 6,29). Nunca conseguiremos ser peregrinos da fé se não tivermos sempre presente que acreditar em Jesus Cristo é obra de Deus em nós.

Porque a fé nos restitui o anseio da harmonia com Deus ela é o princípio da redenção, dá sentido à vida, é fonte de segurança no nosso caminhar. No hebraico antigo a palavra que traduzimos por acreditar significa sentir-se seguro, encontrar aquela firmeza que nos permite confiar. E a fonte dessa segurança é percebermos que Deus nos ama, não nos abandonou. É por isso que a Palavra com que Deus nos manifesta o seu amor e o seu desígnio da salvação é o início da fé: acreditar é confiar, tomar a sério essa Palavra. Ela acompanha-nos durante toda a peregrinação. Escutá-Ia sempre ajuda-nos a não desistir, permite-nos avançar. Quando essa Palavra se revelou em Jesus Cristo, já não é só o que Ele nos diz, mas tudo o que Ele é para nós, que se torna motivo dessa segurança. São João tem razão: a grande obra de Deus em nós é levar-nos a acreditar em Jesus.

A fé é a porta por onde se entra na vida
2. Bento XVI proclamou um Ano da Fé, para comemorar o quinquagésimo aniversário da abertura do Concílio Vaticano II. Ao olharmos a nossa vida de sacerdotes como uma peregrinação de fé, temos de o fazer tomando a sério este Ano da Fé.

O Santo Padre apresenta a fé como uma porta “que introduz na vida de comunhão com Deus e permite a entrada na sua Igreja”. É uma porta sempre aberta para nós “a atravessar aquela porta implica embrenhar-se num caminho que dura a vida inteira” (n01). “É preciso redescobrir o caminho da fé para fazer brilhar, com evidência sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do encontro com Cristo” (n02).

No nosso caso de sacerdotes este encontro com Cristo é muito profundo: além de chamados a participar da sua vida nova, “na graça baptismal, Ele associou-nos ao seu ministério de amor à Igreja. Em cada acto do nosso ministério, há um encontro de amor, através de nós, Cristo ama a Igreja. Ecoa em nós aquela Palavra que lembra aos homens que Deus os ama, que não desistiu deles. No nosso ministério descobrimo-nos a caminho, peregrinos da Pátria definitiva, não isoladamente, mas com a Igreja, o Povo do Senhor. Ouçamos o Papa Bento XVI: “A Igreja no seu conjunto, e os Pastores nela, como Cristo devem pôr-se a caminho para conduzir os homens fora do deserto, para lugares da vida, da amizade com o Filho de Deus, para Aquele que dá a vida, a vida em plenitude” (n02).

A fé não é, apenas, uma atitude da inteligência, é um projecto de vida, uma exigência de santidade. É esse o longo caminho da nossa peregrinação, por onde se entra pela fé. Dessa aventura de vida nova, o próprio Cristo afirmou: “Eu sou a Porta” e “Eu sou o Caminho”, para uma vida que é Ele próprio: “Eu sou a Vida”. Há, assim, uma afinidade íntima entre a fé e Jesus Cristo. A caminhada da fé é feita com Jesus Cristo, vivendo como Ele vive e como quer que vivamos.

Uma peregrinação com Jesus Cristo
3. No nosso caso de sacerdotes, esta peregrinação envolve a nossa vida e o nosso ministério. No baptismo escolhemo-lo a Ele como itinerário de vida; na ordenação foi Ele que nos escolheu para fazermos com Ele a sua caminhada com a Igreja, como Pastor, sacerdote e redentor. Ele continua a fazer o caminho da missão que o Pai lhe confiou, até ao dia em que entregue ao Pai a humanidade transformada. Quer faze-lo connosco e através de nós. A nossa peregrinação pessoal é indesligável desta participação no ministério de Jesus Cristo. Ele quer que a sua fidelidade se exprima na nossa fidelidade. Por isso Ele deseja de nós nada menos que uma identificação com Ele, no amor ao Pai, no amor à Igreja, na paixão pela missão de salvar o mundo, numa maneira de viver digna de oferecer ao Pai, com Ele, o sacrifício da redenção.

Esta identificação com Cristo é uma longa caminhada, que não se limita à vida terrena, mas nos abre para a eternidade.

Uma peregrinação com a Igreja
4. Ao escolher-nos e consagrar-nos, Ele deu-nos à Igreja e quer que sejamos dignos de continuar a ser oferecidos em cada dia da nossa vida. Se a nossa união a Cristo é a nossa surpresa e o nosso mistério, a Igreja é a nossa força, o caminho certo para o nosso peregrinar. Peregrinos da fé, somo-lo da fé da Igreja e não da nossa fé pessoal, concebida à nossa maneira. Esta é a força do cristão e, de modo particular, de nós sacerdotes: a nossa fé pessoal é a fé da Igreja. Na liturgia da confirmação, depois da profissão de fé daqueles que se preparam para receber o Espírito Santo, o Bispo exclama: “esta é a nossa fé, esta é a fé da Igreja que nos gloriamos de professar”.

Este é um dos aspectos mais apaixonantes da nossa peregrinação. Sem negar as vicissitudes do tempo e da história, professarmos a mesma fé dos Apóstolos de Jesus, expressa em nome dos doze pelo Apóstolo Pedro. Quando alguns discípulos deixam de acreditar em Jesus e O abandonam, o Senhor pergunta aos doze: “Também vós quereis ir embora?” E Simão Pedro responde-lhe: “Para quem iremos Senhor? Tu tens Palavras de vida eterna. Nós acreditamos e sabemos que Tu és o Santo de Deus” (Jo. 6,69). A Igreja, Povo do Senhor, é o verdadeiro sujeito da fé. Nela, os indivíduos e os grupos podem afastar-se; mas o próprio Senhor vigia pela autenticidade do seu Povo, que Ele ama como Esposo. Por esta fé muitos derramaram o seu sangue, outros procuraram corajosamente exprimir na sua vida esta fé recebida dos Apóstolos. Estes nossos irmãos na fé pertencem ainda a este mesmo povo crente, a sua fidelidade formou uma sólida tradição, que é ainda hoje um critério aferidor da autenticidade da fé da Igreja.

“Pela fé, Maria acolheu a palavra do Anjo e acreditou no anúncio de que seria Mãe de Deus na obediência da sua dedicação (cf. Lc 1,38). Ao visitar Isabel, elevou o seu cântico de louvor ao Altíssimo pelas maravilhas que realizava em quantos a Ele se confiavam (cf. Lc 1,46-55). Com alegria e trepidação, deu à luz o seu Filho Unigénito, mantendo intacta a sua virgindade (cf. Lc 2,6-7).

Confiando em José, seu Esposo, levou Jesus para o Egipto a fim de O salvar da perseguição de Herodes (cf. Mt 2,13-15). Com a mesma fé, seguiu o Senhor na sua pregação e permaneceu a seu lado mesmo no Gólgota (cf. Jo 19,25-27). Com fé, Maria saboreou os frutos da ressurreição de Jesus e, conservando no coração a memória de tudo (cf. Lc 2,19.51), transmitiu-a aos Doze reunidos com Ela no Cenáculo para receberem o Espírito Santo (cf. Act 1,14; 2,1-4).

Pela fé, os Apóstolos deixaram tudo para seguir o Mestre (cf. Mc 10,28). Acreditaram nas palavras com que Ele anunciava o Reino de Deus presente e realizado na sua Pessoa (cf. Lc 11,20). Viveram em comunhão de vida com Jesus, que os instruía com a sua doutrina, deixando-Ihes uma nova regra de vida pela qual haveriam de ser reconhecidos como seus discípulos depois da morte d’Ele (cf. Jo 13,34-35). Pela fé, foram pelo mundo inteiro, obedecendo ao mandato de levar o Evangelho a toda a criatura (cf. Mc 16,15) e, sem temor algum, anunciaram a todos a alegria da ressurreição, de que foram fiéis testemunhas.

Pela fé, os discípulos formaram a primeira comunidade reunida à volta do ensino dos Apóstolos, na oração, na celebração da Eucaristia, pondo em comum aquilo que possuíam para acudir às necessidades dos irmãos (cf. Act 2,42-47).

Pela fé, os mártires deram a sua vida para testemunhar a verdade do Evangelho que os transformara, tornando-os capazes de chegar até ao dom maior do amor com o perdão dos seus próprios perseguidores.

Pela fé, homens e mulheres consagraram a sua vida a Cristo, deixando tudo para viver em simplicidade evangélica a obediência, a pobreza e a castidade, sinais concretos de quem aguarda o Senhor, que não tarda a vir. Pela fé, muitos cristãos se fizeram promotores de uma acção em prol da justiça, para tornar palpável a Palavra do Senhor, que veio anunciar a libertação da opressão e um ano de graça para todos (cf. Lc 4,18-19).

Pela fé, no decurso dos séculos, homens e mulheres de todas as idades, cujo nome está escrito no Livro da vida (cf. Ap 7,9; 13,8), confessaram a beleza de seguir o Senhor Jesus nos lugares onde eram chamados a dar testemunho do seu ser cristão: na família, na profissão, na vida pública, no exercício dos carismas e ministérios a que foram chamados.

Pela fé, vivemos também nós, reconhecendo o Senhor Jesus vivo e presente na nossa vida e na história” (nº13).

Se o sacerdote no exercício do seu ministério relativizar esta fé da Igreja e, ao sabor dos tempos, das teologias e correntes de opinião, optar por uma maneira pessoal de acreditar, ele torna-se um “funcionário do sagrado”, deixa de ser pastor deste Povo que professa a fé dos Apóstolos. A própria Igreja, Povo crente, exige de nós essa fidelidade e ajuda-nos nela. Quantas vezes no diálogo pastoral com os crentes saímos fortalecidos nesta fidelidade à fé da Igreja.

Peregrinos da verdade
5. O que é a verdade, perguntou Pilatos a Jesus. Mas se ele O tivesse ouvido e acreditasse n’Ele, já sabia a resposta: “Eu sou a verdade”, tinha dito Jesus. Ser a Porta, o Caminho e a Verdade são sinónimos no ensinamento de Jesus.

O problema da verdade é uma aventura apaixonante na história da humanidade. Religiões, filosofias, correntes culturais, procuram influenciar as pessoas na busca da verdade. Ligada à sabedoria na tradição bíblica, tornou-se prisioneira da lógica racional, apanágio da ciência, assunto de opinião. Sobretudo hoje, com os poderosos meios de comunicação, tornou-se individual, relativizou a dimensão comunitária de verdade de um Povo.

Ser peregrino da fé é, necessariamente, ser peregrino da verdade. O sacerdote, no seu ministério, é ministro da verdade da Igreja, aquela que brota como luz que resplandece, da fé da Igreja. É esta que ele tem de buscar em cada circunstância e em cada tempo. Ele tem como ministério propor essa verdade, conduzir o Povo de Deus na compreensão da vida à luz dessa verdade. As suas fontes têm de ser as da própria Igreja: a Palavra de Deus, o Magistério autêntico, a fidelidade à Tradição. É preocupante saber de sacerdotes que, acerca de aspectos vitais, ousam dizer: a Igreja pensa que, mas eu penso de outro modo. Quantos ensinamentos são proferidos por sacerdotes, sobretudo na orientação pastoral dos fiéis, afastando-se da verdade da Igreja, expressa no seu Magistério autêntico. Hoje, mais do que nunca, ser peregrino da verdade supõe fidelidade e conversão contínua.

Refiro, a título de exemplo, com tristeza e preocupação, as correntes actuais de reinterpretação do Magistério do Concílio Vaticano II. Aconselho-vos a reler os documentos conciliares acerca do ministério sacerdotal, sobretudo a “Lumen Gentium” e a “Presbiterorum Ordinis”. E tomemos a sério a afirmação de Bento XVI na “Porta da Fé”: “Pareceu-me que fazer coincidir o início do Ano da Fé com o cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II poderia ser uma ocasião propícia para compreender que os textos deixados em herança pelos Padres Conciliares, segundo as palavras do Beato João Paulo II, «não perdem o seu valor nem a sua beleza. É necessário fazê-los ler de forma tal que possam ser conhecidos e assimilados como textos qualificados e normativos do Magistério, no âmbito da Tradição da Igreja. Sinto hoje ainda mais intensamente o dever de indicar o Concílio como a grande graça de que beneficiou a Igreja no século XX: nele se encontra uma bússola segura para nos orientar no caminho do século que começa». Quero aqui repetir com veemência as palavras que disse a propósito do Concílio poucos meses depois da minha eleição para Sucessor de Pedro: «Se o lermos e recebermos guiados por uma justa hermenêutica, o Concílio pode ser e tornar-se cada vez mais uma grande força para a renovação sempre necessária da Igreja” (nº5).

Esta confirmada actualidade do Concílio torna desvios da verdade todas as suas leituras que não sejam motivadas por uma sã hermenêutica. O Concílio Vaticano II e o vasto Magistério dos Papas são a bússola indispensável nesta nossa peregrinação da verdade.

Peregrinos da caridade
6. A peregrinação da fé conduz-nos à caridade, ainda sem a luminosidade do amor definitivo, mas com a generosidade firme de quem acredita, isto é, de quem deseja e se sente a caminho do amor. Na oração eucarística rezamos: “Lembrai-vos Senhor da Vossa Igreja… tornai-a perfeita na caridade”. É o mesmo que pedir, “torna-a perfeita na fé”. É algo que devemos procurar nesta peregrinação, fazer dos nossos actos de fé, actos de amor, expressões da caridade. Dizer “eu amo” sempre que digo “eu creio”.
O Santo Padre afirma: “A fé sem caridade não dá fruto, e a caridade sem fé seria um sentimento constantemente à mercê da dúvida. Fé e caridade reclamam-se mutuamente, de tal modo que uma consente à outra de realizar o seu caminho” (nº14).

A caridade é sempre experiência de Deus, participação no próprio amor de Deus. Este texto foi escrito no dia de Santo Agostinho e, por isso, não resisto a citá-lo: “Oh eterna verdade, verdadeira caridade e cara eternidade! Vós sois o meu Deus; por Vós suspiro dia e noite”.

A busca da caridade envolve toda a vida do sacerdote: o amor pastoral por aqueles que lhe foram confiados; o fazer comunhão, com a Igreja, Povo de Deus, com os outros sacerdotes, com o seu Bispo, a solicitude pelos pobres e pelos doentes, etc. É preciso interiorizar que a peregrinação da fé e a da caridade, são uma única caminhada. Aprofundar a fé é abrir-se à caridade. Volto a citar Bento XVI, na “Porta da Fé”: “Já no termo da sua vida, o apóstolo Paulo pede ao discípulo Timóteo que «procure a fé» (cf. 2Tm 2,22) com a mesma constância de quando era novo (cf. 2Tm 3,15). Sintamos este convite dirigido a cada um de nós, para que ninguém se torne indolente na fé. Esta é companheira de vida, que permite perceber, com um olhar sempre novo, as maravilhas que Deus realiza por nós. Solícita a identificar os sinais dos tempos no hoje da história, a fé obriga cada um de nós a tornar-se sinal vivo da presença do Ressuscitado no mundo. Aquilo de que o mundo tem hoje particular necessidade é o testemunho credível de quantos, iluminados na mente e no coração pela Palavra do Senhor, são capazes de abrir o coração e a mente de muitos outros ao desejo de Deus e da vida verdadeira, aquela que não tem fim.

Que «a Palavra do Senhor avance e seja glorificada» (2Ts 3,1)! Possa este Ano da Fé tornar cada vez mais firme a relação com Cristo Senhor, dado que só n’Ele temos a certeza para olhar o futuro e a garantia dum amor autêntico e duradouro. As seguintes palavras do Apóstolo Pedro lançam um último jorro de luz sobre a fé: «É por isso que exultais de alegria, se bem que, por algum tempo, tenhais de andar aflitos por diversas provações; deste modo, a qualidade genuína da vossa fé – muito mais preciosa do que o ouro perecível, por certo também provado pelo fogo – será achada digna de louvor, de glória e de honra, na altura da manifestação de Jesus Cristo. Sem O terdes visto, vós O amais; sem O ver ainda, credes n’Ele e vos alegrais com uma alegria indescritível e irradiante, alcançando assim a meta da vossa fé: a salvação das almas» (1 Ped 1,6-9). A vida dos cristãos conhece a experiência da alegria e a do sofrimento. Quantos Santos viveram na solidão! Quantos crentes, mesmo em nossos dias, provados pelo silêncio de Deus, cuja voz consoladora queriam ouvir! As provas da vida, ao mesmo tempo que permitem compreender o mistério da Cruz e participar nos sofrimentos de Cristo (cf. CI 1,24), são prelúdio da alegria e da esperança a que a fé conduz: «Quando sou fraco, então é que sou forte» (2 Cor 12,10). Com firme certeza, acreditamos que o Senhor Jesus derrotou o mal e a morte. Com esta confiança segura, confiamo-nos a Ele: Ele, presente no meio de nós, vence o poder do maligno (cf. Lc 11,20); e a Igreja, comunidade visível da sua misericórdia, permanece n’Ele como sinal da reconciliação definitiva com o Pai.
À Mãe de Deus, proclamada «feliz porque acreditou» (cf. Lc 1, 45), confiamos este tempo de graça” (nº15).

7. A peregrinação da fé e da caridade definem a nossa busca da santidade e esta resume a qualidade da vida nova, em Cristo e com Cristo. A santidade do sacerdote é importante para a fecundidade do seu ministério. Há uma sintonia, ao nível do ser, entre a santidade da acção de Cristo, exercida através de nós, e a nossa vida vivida em busca da santidade. É verdade que o nosso pecado não anula a eficácia do nosso ministério, mas a santidade de vida do sacerdote ajuda aqueles a quem se dirige a acção sagrada a abrirem-se mais profundamente à acção de Deus.

Essa é a razão pela qual, na tradição latina só se ordenaram aqueles que tinham feito a opção pelos conselhos evangélicos: a obediência, como consagração da nossa vontade à vontade salvífica de Cristo, perene na Igreja através do ministério apostólico; a pobreza, como renúncia a fazer dos bens materiais um fim em si mesmos, dando prioridade absoluta aos dinamismos da salvação; a castidade, consagrada no celibato, como experiência viva da prioridade absoluta na realização da nossa vocação de amor ao amor de Cristo pela sua Igreja. Não há agora espaço para falar da vivência destes conselhos evangélicos na vida do sacerdote. Mas em todos eles há uma longa peregrinação, a percorrer com a humildade de quem sabe que só com as suas forças não será testemunha do objecto da nossa esperança: viver desde já ao ritmo dos “novos céus e da nova terra”.

† JOSÉ, Cardeal-Patriarca

 

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