VISITA AO ALENTEJO – MINAS DO LOUSAL
Sabemos que desde os primórdios a vivência humana está ligado à exploração da terra, pescas, pastorícia e atividades mineiras.
Dados históricos apontam-nos que a exploração mineira principalmente cobre e estanho remonta ao tempo dos Fenícios, atingindo o seu grande apogeu na Época Romana do Imperador Flávio.
Muitos séculos passaram até que em 1900 as Minas do Lousal tem o seu primeiro alvará de concessão. Em 1924 o ex-Banco Burnay cede a venda de todos os direitos de concessão e exploração à Societé Anonyme Belges das Minas de Aljustrel.
Na década dos anos cinquenta e sessenta do século passado atinge o seu auge de produção, para em Maio de 1988 proceder-se ao seu encerramento. Hoje não há minas, não há movimentos, não há cores, não há vida, não há trabalho. O pior que uma mina madrasta é uma mina fechada e o pouco é sempre melhor que nada. Manuel Moleiro escreveu, “ quem te viu, como eu te vi/e quem te vê como te vejo/sinto paixão, tristeza e dor/choro baixinho por te ver assim/sinto saudades de tanta flor/que tu tinhas no tempo/que cheiravas a jardim.”
Conversámos com Joaquim Duarte Nazaré da Silva, com 25 anos de programador de trabalho mineiro, salientando que nos anos de 1950 a 1960, as Minas do Lousal atingiram o seu apogeu graças à dinâmica de Frederik Velge. Modernizou todo o sistema operacional mineiro. Antes os trabalhos eram feitos com a força braçal dos mineiros, um trabalho extremamente duro. Com novos métodos técnicos de trabalho e apoio de maquinaria principalmente a utilização do ar comprimido, muito mudou.
A Empresa Mineira tinha ao seu serviço em trabalhos diretos dois mil e quinhentos trabalhadores, três turnos diários em elaboração. Na Escola Primária nove professores a dar aulas. Todos os dias partiam cinco comboios de vinte vagões com minério (pirites) com destino a Setúbal – SAPEC e para o Barreiro – CUF. A maioria era fertilizante, embora se extraíssem outros derivados. Todos os excedentes eram exportados para a Bélgica, Holanda e Alemanha.
Nestes tempos áureos o Eng.º Valente, Ex-Capitão da Seleção Nacional de Andebol, sobrinho do Escritor Urbano Tavares Rodrigues, fundou no Lousal um clube com aquela modalidade. Também o futebol teve o seu espaço.
Com esforço e dedicação o Padre Pedro Martinho fundou naquela localidade um Agrupamento de Escuteiros.
Salienta Joaquim da Silva que além dos setores desportivos e culturais, disponham de cantinas de refeitórios, apoio médico, colónia de férias para os filhos, bolsas de estudo, construção de residências com bairros específicos que lá se mantem, aquisição de bicicletas, de roupas…
Também salientou que os textos do romance – As Minas de Salomão, de Eça de Queiroz, encontram aqui nestas minam uma cópia.
Maria Anlusa Carrilho Vieira de 85 anos, Ex costureira das minas, filha e esposa de mineiros, realça a Festa que se fazia em Honra de Santa Barbara, Padroeira dos Mineiros, fardados com os gasómetros e capacetes. O Padre Manuel Vaz Leal, Capelão das Minas da Panasqueira, autor de um livro – Vida e História daquelas Minas, com fama de grande orador, algumas vezes foi convidado para pregador. O seu pai João Carrilho conjuntamente com outros companheiros de trabalho fundara a Tuna Mineira, um Grupo de Teatro e tinham sessões de cinema gratuito. Diz que ninguém deve esquecer a Madame Wanay, esposa do Diretor, uma grande impulsionadora da aldeia em ações culturais, sociais e humanitárias.
Com os progressos económicos da empresa, a administração pretendeu um aumento salarial significativo, iniciativa travada pelo Estado Novo porque iria criar desequilíbrios financeiros a outras empresas.
Com novas tecnologias, com a debandada de muitos técnicos para a Bélgica, com a diminuição das vendas entrou-se na crise. Hoje não chegam a trezentos residentes, a maioria idosos, que passam o tempo sentados às entradas das casas.
A pergunta que se coloca: e o futuro? Alguém dizia que “ só indo à bruxa.” Mas, em Lousal ainda há futuro, porque há o Centro de Ciência Viva, visitado anualmente por muitos alunos das escolas deste país.
Há o Museu da Mina, o ex-libris da exploração mineira, onde homens e máquinas se entrelaçam. Um ex-mineiro Francisco Molina Dias de 85 anos, 30 a trabalhar na Central Elétrica, que veio do Algarve propositadamente para visitar este espaço de memórias. Reconhece o nome dos mineiros que estão expostos em diversas fotografias.
Além de dispor de turismo rural, tem um espaço de estacionamento de caravanas, com todos os requisitos obrigatórios.
Encontramos alguns restaurantes com a gastronomia alentejana, algumas das refeições saboreadas ao som do CANTE ALENTEJANO, património mundial. Por acaso encontramos um grupo musical – Encantos do Alentejo, composto por Silvestre Sousa, Rogério Morais, André Varela e Fábio Simão, que numa das instalações do mercado local estão numa sessão de ensaio musical.
O Lousal não deve ser um espaço vazio, um espaço fantasma com os esqueletos das máquinas e paredes desventradas. Ali o Mineiro foi raiz que penetrou nas entranhas mais profundas do solo e os seus familiares, os seus conterrâneos devem ser os continuadores desta memória, desta história que cabe-lhes defendê-la com o pensamento no futuro.
A todos os colaboradores que ajudaram a elaborar esta crónica, principalmente à família de Maria Anlusa Carrilho Vieira e Joaquim Duarte Nazaré da Silva vão os meus agradecimentos.
António Alves Fernandes
Aldeia de Joanes
Agosto/2016