XXIV – Domingo Comum
“A fé sem obras está completamente morta”
Antes de nos fixarmos nas palavras de São Tiago, vamos procurar compreender melhor em que consiste a fé e quais as implicações da mesma na vida das pessoas, a partir do texto do evangelho de hoje.
Acreditar implica descobrir e aceitar que Jesus é o Messias, o Filho de Deus vivo. Conhecer e reconhecer Jesus não pelo que as pessoas dizem a respeito d’Ele, mas como resultado de uma procura pessoal e da ajuda do próprio Deus. O homem não pode limitar-se ao que ouve aos outros. Ele próprio, seguindo Jesus, procurando interiormente e meditando no seu coração, deve chegar a uma conclusão. Em todo este processo de aproximação a Jesus, o homem precisa da revelação de Deus. Na verdade, só o Pai nos pode revelar o Filho e, ao mesmo tempo, conceder-nos o dom da fé.
Acreditar em Jesus abrange, também e necessariamente, aceitar que Ele nos salvou pelo mistério da sua paixão, morte e ressurreição. Acreditar que o crucificado é verdadeiramente o Filho de Deus, que Ele ressuscitou e agora vive para sempre. A fé pressupõe, pois, a superação do escândalo da cruz, o que não é fácil, como mostra a reacção de Pedro.
Acreditar em Jesus implica a identificação com Ele na aceitação da cruz de cada dia. Tal como Ele deu a sua vida por nós, também nós devemos dar a vida pelos irmãos. Colocar a vida, com tudo o que isso significa de renúncia e sacrifício, ao serviço do semelhante, sobretudo dos mais necessitados. Quem acredita verdadeiramente em Jesus, esse mostra a sua fé nas obras de amor que realiza todos os dias. A fé torna-nos sensíveis e compassivos em relação ao irmão que não tem que vestir, que lhe falta o alimento ou que padece qualquer outra necessidade. As obras de caridade tornam visível e credível a fé dos homens.
“A fé sem obras está completamente morta”. Se alguém diz que tem fé, mas é insensível à sorte do seu semelhante, se apenas diz belas palavras e manifesta boas intenções, se não vai ao encontro das suas reais necessidades, esse está a mentir e ninguém pode levar a sério o que diz. Ninguém acredita na fé de quem não ama! Muito menos Deus toma a sério as palavras de quem não passa à acção. Uma comunidade cristã, que faz acepção de pessoas e não cuida seriamente dos seus pobres, é uma comunidade em crise, que está afastar-se de Jesus, que põe em causa a validade do Evangelho, que retarda a chegada do Reino de Deus ao coração dos homens.
“Tu tens a fé”. Tu dizes que tens fé, mas onde estão as tuas obras? Será que a tua vida corrobora as tuas palavras? Tu dizes: “eu cá tenho a minha fé”, mas que fé é a tua? Resulta da escuta da palavra de Deus e do encontro pessoal com Jesus? É resposta e adesão ao Deus que se te revela, que deseja entrar na tua vida e comunicar-te a sua? A tua fé é realmente fé em Cristo, aquela fé que a Igreja se alegra e gloria de professar, ou é apenas a tua fé?
É apenas a tua fé, se não sentes necessidade de a celebrar e viver no seio da comunidade cristã e em comunhão com toda a Igreja; se não te torna mais sensível diante das necessidades do próximo; se não te compromete na solução dos problemas que afectam e perturbam o mundo; se não te impele a propor, defender e implementar os princípios e os valores do Evangelho.
Que fé é a tua, tu que dizes que tens fé, se não vejo entusiasmo na tua vida, se não dás a cara por causas, se não persegues ideais, se não te sacrificas por nada? Que fé é a tua, se te acomodas, se te resignas, se desistes de viver e lutar por um mundo melhor? Tu lá tens a tua fé, mas a tua fé deve ser num deus muito à tua medida; um deus que aceite subjugar-se aos teus gostos e conveniências, ao teu comodismo e à tua mediocridade, à tua apatia espiritual e ao teu relativismo moral; um deus que não se oponha à tua vontade nem contrarie os teus interesses pessoais.
Se queres que alguém acredite que tens fé, não faças discursos, não uses argumentos, não gastes palavras. Mostra-lhes as tuas obras, deixa falar a tua vida! Se queres que alguém acredite que tu acreditas em Cristo, mostra-lhe como Ele influência e transforma a tua vida e o que tu és capaz de fazer por causa do seu nome e em nome do seu evangelho! Então, na tua vida, os outros descobrirão que tens fé e sentir-se-ão estimulados por ela.
Pe. José Manuel Martins de Almeida