“Não deve ser assim entre vós”.
Os apóstolos, apesar de andarem com Jesus, não estavam muito adiantados na virtude. Além disso, dão mostras de pouca inteligência ao não entenderem que o Reino de Deus não se rege pelos mesmos critérios dos reinos deste mundo.
Os dois irmãos Tiago e João apressam-se e antecipam-se a pedir a Jesus que lhes reserve os melhores lugares junto d’Ele, quando estiver na sua glória. O pedido dos filhos de Zebedeu revela um certo atrevimento: “nós queremos que nos faças o que te vamos pedir”! Julgando-se melhores do que os outros apóstolos ou pensando que Jesus tem por eles uma simpatia especial, como que O pressionam para lhes garantir o que Lhe pedem.
Movidos pelo ciúme e pela inveja, os outros apóstolos entram em conflito com Tiago e João. Zangam-se não tanto porque os dois irmãos pedem o que não devem, mas, certamente mais, porque cada um deles se considera também o melhor e tem a mesma pretensão!
A atitude de uns e a reacção dos outros revelam que ainda não tinham entendido a razão de ser da sua vocação nem, muito menos, vislumbravam o verdadeiro alcance da missão que Jesus lhes iria confiar. Todos eles viam no facto de ser discípulos de Jesus uma oportunidade para sair do anonimato das suas vidas e obter vantagens humanas. Também eles queriam ser um pouco como os senhores deste mundo!
Desiludido com eles e, ao mesmo tempo, desejoso de os esclarecer, Jesus adverte-os: “Não deve ser assim entre vós”. Os apóstolos não podem pensar, agir e reagir como os chefes das nações e os grandes da terra. Não podem ter os mesmos objectivos nem seguir os mesmos métodos. Os senhores deste mundo não exercem o poder com sentido de missão e espírito de serviço. Pelo contrário, exercem o domínio e impõem a sua vontade, servem-se de quem deviam servir, para satisfazerem a sua ambição pessoal.
Se os apóstolos quiserem continuar com Jesus, os seus sonhos e ideais devem ser diferentes. Não podem preocupar-se e, muito menos, devem lutar pelos primeiros lugares. De outro modo, sentir-se-ão defraudados, pois Jesus não garante fama ou facilidades, prestígio ou honrarias. Se quiserem continuar com Jesus, devem estar dispostos a imitá-lo, seguindo o caminho do serviço e do amor.
Jesus, o Filho do homem, encontra-se entre os homens não para ser servido pelos homens, mas para os servir e dar a vida por eles. Na verdade, embora sendo Filho de Deus, ao vir ao mundo dos homens, não reivindicou ser tratado como Deus, mas assumiu condição de servo. Como Servo de Deus ao serviço dos homens, Jesus aceitou o caminho da humildade, do amor e do sofrimento. E, por esse caminho, realizou a redenção de todos. Assim, a grandeza de Jesus radica no amor, ou seja, no servir e dar a vida. Jesus é o maior e o primeiro, porque foi o que amou mais, para que todos possam viver em Deus.
Consequentemente, os apóstolos, se quiserem sonhar com as grandezas do Céu, devem também aceitar servir e dar a vida, ser escravos de todos, beber o cálice da paixão. Seguir Jesus e continuar a sua missão exigem a consagração radical de toda a vida ao serviço do Reino de Deus. Esta completa doação implica renúncia e sacrifício. E os discípulos de Jesus devem estar conscientes disso.
Os discípulos de todos os tempos devem afastar dos seus horizontes existenciais toda a espécie de ambição ou luta pelos lugares de destaque. A grandeza do homem assenta mais no que ele faz pelos outros do que nas mordomias que recebe deles! A importância do homem não está nos lugares que ocupa, mas no contributo que dá para mudar o mundo. O poder do homem não se avalia pelo número de servos que tem, mas pela intensidade e abrangência do amor que dedica ao seu semelhante! O prestígio do homem não se mede pelas vezes que aparece na televisão, mas pelo facto de o seu nome estar ou não escrito no Céu!
Isto é válido para todos os homens, muitos mais para os cristãos, mais ainda para os que têm maiores responsabilidades na Igreja. Não basta dizer que somos servos e consagramos a nossa vida aos irmãos. É necessário que isso transpareça na nossa vida, na simplicidade e humildade, no desprendimento e espírito de sacrifício com que realizamos a nossa missão. De outro modo, ninguém acreditará em nós. E, o mais grave, impediremos as pessoas de chegar a Cristo e acreditar n’Ele.
Pe. José Manuel Martins de Almeida